Origem
A princípio, pretendia-se apenas a
celebração do matrimônio do então príncipe herdeiro da Baviera,
Luís Carlos
Augusto de Wittelsbach com a princesa da Saxônia, Teresa Carlota
Luisa Frederica Amália de Saxe-Hildburghausen, através de uma
grande festa aberta ao povo, a realizar-se numa região descampada,
afastada da cidade, denominada Theresienwiese,
em homenagem à noiva.
Conta-se
que teria sido um pedido do próprio príncipe a seu pai, o Rei
Maximilian I, que a ocasião fosse comemorada junto ao povo e com
fartura, de modo que o Rei, atendendo ao pedido, encomendou das
principais cervejarias da cidade as suas melhores bebidas, mandou
instalar tendas pelo gramado, denominadas à época de Traiteurs,
para
que servissem comida e chope aos convivas.
A festividade
ter-se-ia principiado com um desfile da comitiva real com os noivos.
Além disso, contou com música, dança e muita fartura, tendo por
seu encerramento uma corrida, em cancha aberta, de cavalos puro
sangue, apreciada inclusive pela própria família real.
Pretensamente, o
monarca teria observado o sucesso da festa entre o povo, decidindo,
por isso, decretar a realização anual da corrida de cavalos, em
torno da qual se desenvolveria o evento.
Em
1811, o evento ganhou suas primeiras pinceladas comerciais: além da
corrida de cavalos, uma feira agrícola fora promovida, com o
objetivo de honrar o setor primário da Baviera, e diversas tavernas
receberam concessão para comercializar na região e o Hofbräuhaus
passou a ser o anfitrião oficial do evento.
Criado em 1589, pelo
próprio duque da Baviera, Wilhelm V, o Hofbräuhaus – a choperia
real – encerrava o propósito de não apenas produzir uma bebida
que agradasse ao paladar do nobre, tendo em vista que o duque não
apreciava a cerveja então produzida em Munique, mas, principalmente,
de eliminar a exportação da Baixa Saxônia.
Em
1602, observando a alta qualidade dos produtos da cervejaria fundada
por seu pai, Maximilian I determinou que Hofbräuhaus também
fabricasse cerveja de trigo, passando a proibir por qualquer outra a
criação ou comercialização desse gênero da bebida. Tal monopólio
assegurou à corte não apenas o aumento de seus lucros, mas a grande
qualidade da cervejaria real fez com que esta não mais conseguisse
suprir a demanda de produtos, de sorte que a fábrica foi ampliada e,
em 1610 a venda de cervejas Hofbräu
deixou
de ser restrita à nobreza.
De
algumas fontes consta que foi a partir de 1818 que as demais
cervejarias da cidade obtiveram permissão para montar suas próprias
tendas e comercializar
na Oktoberfest. Foi nesse mesmo ano, também, que o primeiro
carrossel e dois balanços foram instalados em “Wiesn” - forma
reduzida ou mesmo carinhosa pela qual os muniquenses
chamam Theresienwiese. Atualmente, a Oktoberfest conta com um
magnífico parque de diversões, que se espalha por boa parte do
centro de eventos, em seus cerca de 46 hectares. É algo tão belo
que não escapa às menções de turistas e à qualquer fotografia
externa do evento.
Em 1819, a casa real
abriu mão da organização do evento, passando a ser esta uma
responsabilidade da população de Munique.
Em
1840, o primeiro trem de passageiros chegou a capital, viabilizando
maior destaque à “festa de outubro”: novas barracas foram
instaladas; fotógrafos,
cartunistas e outros artistas passaram a fazer do evento um local
tanto de exposição quanto de produção de suas obras.
Transcorridos
quarenta anos desde o matrimônio que originou a festa de que trata
esta pesquisa, é interesse assinalar a transformação geográfica
ocorrida nesse intervalo de tempo: Theresienwiese,
a princípio, era considerado “um parque longe do centro”
da cidade e, como mostra
um antigo mapeamento, com o entorno pouco povoado. Em 1850 já
possuía tanta importância e desenvolvimento para a cidade, que foi
escolhido como o “lar” da Estátua da Bavária, projetada por Leo
Von Klenze e Ludwing Michael Schwanthaler, esculpida por Baptist
Stiglmaier e Ferdinand Von Miller, localizada num pedestal ao centro
de uma escadaria em Theresienwiese.
Em
1885, pela primeira vez, a Oktoberfest pode se estender um pouco mais
além do pôr do Sol, graças a chegada de luz elétrica à região.
Ao
todo, desde sua concepção aos dias de hoje, a Oktoberfest deixou de
ser realizada cerca de vinte e quatro vezes, sempre em decorrência
de grandes crises, tais como a guerra contra Napoleão, em 1813, o
surto de cólera nos anos de 1854 e 1873, o engajamento da Baviera
junto a Áustria na guerra contra a Prússia, em 1866, durante a
Primeira Grande Guerra, entre 1914-18, durante a crise econômica
internacional, entre 1923-24 e, por fim, durante a Segunda Grande
Guerra, entre 1939-45.
A
Oktoberfest hoje
Atualmente,
a Oktoberfest alemã apresenta-se já
consolidada em termos de tradição, tendo acompanhado as
transformações políticas por que passou a Alemanha e a própria
região da Baviera.
Desde 1887, a
organização do evento retomou a tradição do desfile de abertura,
chamado de Wiesn-Einzug
der Festwirte und Brauereie: tradicionalmente,
incia-se por volta de quinze para as onze horas da manhã, quando as
famílias anfitriãs partem de Josephspitalstraße em direção à
Theresienwiese em suas carroças decoradas, puxadas a cavalo ou a
boi, nas quais se transportam os barris de chope das seletas
cervejarias de Munique. Os garçons e as célebres orquestras alemãs
acompanham a comitiva dos barris. No trajeto, passam,
obrigatoriamente, pelas ruas Sonnenstraße, Schwanthaler Straße,
Bavariaring e Wirtsbudenstraße, sempre guiados pelo Münchner
Kindl
– o menino símbolo da cidade.
O
desfile culmina com a tradição de abertura do primeiro barril de
chope. Desde 1950, o prefeito de Munique, na tenda da Schottenhamel,
oficializa a festividade dando as marretadas de abertura no primeiro
barril de chope a ser consumido. Uma vez aberto, ele deve declarar O’
Zapft is!
Em seguida, são disparados fogos de artifício a partir dos degraus
da Estátua da Bavária, a fim de sinalizar aos anfitriões que já
se pode comercializar bebida, pois a Oktoberfest está oficialmente
aberta!
As famílias
anfitriãs são, a rigor, as seletas seis cervejarias muniquenses com
permissão de vender no evento. São elas:
Augustiner:
a mais antiga de todas as cervejarias de Munique, tendo sido fundada
em 1328,
por ordem do arcebispado de Frisinga e do duque da Baviera. Sua sede
era no monastério dos monges agostinianos, encarregados de todo o
processo fabril. Em 1803 o Estado apoderou-se do monastério e da
cervejaria, no que ficou conhecido como um marco do processo de
secularização. Cerca de vinte e seis anos depois, a cervejaria
Augustiner foi completamente privatizada quando a família Wagner a
adquiriu.
Löwenbräu: registra-se
que tenha sido fabricada pela primeira vez em 1383,
numa hospedaria chamada Zum Löwen, na cidade de Munique. Em
1524 a primeira fábrica teria sido posta em funcionamento. Em 1818
é adquirida pelo cervejeiro George Brey; segundo algumas fontes, é
a partir de então que adota formalmente o nome Löwenbräu. Em 1826
inicia-se o processo de construção das novas instalações da
fábrica, que foram concluídas em 1851. Doze anos depois já era a
maior produtora de Munique, sendo responsável por cerca de ¼ de
toda cerveja consumida na cidade. Durante a Segunda Guerra Mundial
teve suas instalações destruídas, mas foi reconstruída após o
fim do conflito, voltando a operar com ainda mais vigor. Em 1948
começa a exportar. Em fins do século XIX era considerada a maior
cervejaria da Alemanha e líder na exportação de cervejas. Desde
2004 pertence ao grupo Anheuser-Busch InBev.
Spaten-Franziskaner: surgiu
por volta de 1397, sob a
denominação de Welser Prew. Sua propriedade mudou algumas vezes ao
longo da história, convertendo-se em 1867 na maior cervejaria de
Munique. Em 1922 as duas marcas, Spaten-Brauerei e
Franziskaner-Leist-Bräu, uniram-se em uma sociedade anônima,
originando o nome atual da marca. Em 1997, uniram-se com Löwenbräu
AG para formar o grupo empresarial Spaten-Löwenbräu-Gruppe, o qual
acabou por ser alienado, em 2003, à Interbrew, que um ano mais
tarde fundiu-se com a AmBev (Brazilian Companhia de Bebidas das
Américas), gerando o grupo InBev, atual dono da marca.
Hacker-Pschorr Brewery:
formada em 1972, através da fusão de duas outras cervejarias:
Hacker e Pschorr. A mais antiga das duas é a Hacker, tendo sido
fundada em 1417.
Hofbräu: denominação
atual da Hofbräuhaus, criada em 1589. Em 24 de fevereiro de 1920,
sua sede serviu de palco para o primeiro grande evento político
daquele que passaria a se chamar “Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães”; foi nesse mesmo dia em que Hitler
divulgou o “Programa de 25 pontos” de seu partido. Durante a
Segunda Guerra Mundial a fabrica Hofbräuhaus foi destruída por um
bombardeio. Em 1958 foi reconstruída e desde então opera.
Paulaner:
fundada
pela Ordem dos Mínimos – Paulaner
Orden
– de tradição franciscana, em Neuhauser
Straße,
é fabricada desde 1634. A princípio, os monges serviam, em dias de
festa, uma versão bastante encorpada, “forte”, da cerveja que
em pouco tempo destacou-se no gosto dos muniquenses. Em 1799, a
cervejaria acabou por ser adquirida pelo mestre cervejeiro Franz
Xaver Zacherl, quem retomou a produção, segundo a tradição dos
religiosos, a partir de 1813, comercializando-a sob o rótulo
Salvator.
Em 1861 transformou-se na Salvatorkeller,
que acabaria por fundir-se com a Gebrüder
Thomas Bierbrauerei, de
Munique, em 1928, passando a ser
Paulaner
Salvator Thomas Bräu.
Teve sua denominação mudada em 1994 para Paulaner
Brauerei AG,
até que em 1999 adotou o nome atual: Paulaner
GmbH & Co. KG.
Seu logotipo segue sendo a imagem de São Francisco de Paula.
Todas
elas obedecem a rigorosos padrões de produção, conhecidos como a
Lei da Pureza – Reinheitsgebot – decretada em 1516, pelo
duque Wilhelm IV. Segundo essa regra, na produção da bebida somente
se pode empregar o malte de cevada, o lúpulo, o fermento e a água.
Na época, a levedura de cerveja não era conhecida.
Em 1906, o
Reinheitsgebot foi imposto a todas as cervejarias da Alemanha,
gerando diversas críticas por parte da indústria. Atualmente, a Lei
da Pureza encontra-se inclusa ao regulamento de taxação da cerveja,
desde que foi alterada após a Segunda Grande Guerra. Dentre as
modificações encontra-se o menor rigor quanto às bebidas
destinadas à exportação. O decreto de Wilhelm IV é um
dos mais antigos documentos regulatórios da indústria alimentar
europeia.
Além
disso, essas cervejarias produzem uma bebida exclusiva à
Oktoberfest, sendo que todas essas cervejas recebem o nome da festa e
são cuidadosamente armazenadas em barris de metal, revestidos de
madeira,
a fim de manterem-se ao máximo fiéis à tradição.
No
que concerne à alimentação, os pratos mais comuns
são o salsichão branco com mostarda adocicada; frango assado à
moda bávara; knodel – denominação dada às massas com carne,
sêmola ou pão; carne assada ou preparada em receitas tradicionais;
e o bretzel – uma espécie de pão feito à base de
amêndoas, assado em formato de coração e com mensagens
“românticas” escritas, sendo, portanto, comumente utilizados
pelos jovens em seus flertes.
Com
o objetivo de fazer da festa um evento ainda mais aprazível a todos
os públicos, em 2005 decidiu-se por regulamentar o “volume” da
música no parque em 85 decibéis, até às 18 horas. Essa é mais
uma das medidas estratégicas da organização, tendo em vista que o
som demasiadamente alto incomodaria a certo público, ocasionando sua
retirada prematura do evento e reduzindo a oportunidade de lucro; por
outro lado, o “volume” inconvenientemente baixo teria o mesmo
efeito, de maneira que, durante o período em que se considera a
presença de idosos, por exemplo, mais significativa, o som é
mantido em um tom mais controlado, já à noite, por ser um período
mais convencional aos jovens, o volume pode ser mais alto.
A
outra medida estratégica foi a transferência, em 1872, do período
de realização do evento, que passou iniciar-se em fins de setembro
e a encerra-se em princípios de outubro, visando aproveitar os dias
mais quentes, longos e menos chuvosos do primeiro.
Em
2008, o governo proibiu o fumo em lugares públicos, abertos ou
fechados, concedendo, porém, exceção à Oktoberfest. Essa lei
tornou-se uma polêmica política em 2009, resultando na sua
revogação. Em 2010, contudo, ela foi referendada e o povo decidiu
por restabelecê-la de maneira ainda mais rigorosa, suspendendo as
exceções, mesmo à Oktoberfest.
Desde
1960 não se realiza mais o páreo de encerramento da festividade,
que hoje possui um fechamento tão glamouroso quanto a abertura, com
direito a desfiles e espetáculos. Em 2010, todavia, em comemoração
ao bicentenário da Oktoberfest, uma corrida de cavalos, com
cavaleiros em trajes típicos e animais ajaezados como em 1810, fora
promovida na abertura do evento. Colhendo do ensejo, uma Historische
Wiesn –
Oktoberfest histórica – foi promovida na região sul de
Theresienwiese,
proporcionando aos visitantes “a
sensação de voltar no tempo e reviver a atmosfera dos séculos
passados”,
contando inclusive com uma cerveja especialmente desenvolvida para a
ocasião.
As
famílias e suas casas
Em
1896, os organizadores da Oktoberfest optaram por potencializar ainda
mais o evento, aliando-se às cervejarias e construindo os primeiros
grandes galpões, os quais substituíram definitivamente as pequenas
tendas utilizadas durante a festa. Essas estruturas permanentes
possibilitaram além da redução de custos, o desenvolvimento de
ambientes personalizados e com maiores comodidades aos visitantes.
Hoje, esses espaços são verdadeiros símbolos da festividade, senão
o seu principal atrativo!
Esses
galpões, curiosamente, são chamados, hodierno, de “tendas”, e
dividem-se entre as tendas grandes e as tendas pequenas. Ao todo são
35 instalações, das quais algumas pertencem diretamente às
cervejarias, outras são associadas a elas e algumas são
inteiramente independentes.
Cada
“tenda” possui características próprias, embora todas sigam o
clima cultural comum em Wiesn. Algumas possuem um ambiente mais
propício ao convívio familiar, por serem mais tranquilas; outras
têm um clima mais agitado, mais vívido; e há aquelas cujo
diferencial é serem amiúde frequentadas pelos mais altos segmentos
sociais, tomando, por isso, certo ar de nobreza, embora, a rigor, não
exista tal diferenciação de classes: o diferencial das tendas é
mesmo centrado no ambiente, suas dimensões, decoração,
entretenimento, o tipo de cerveja e outras bebidas que servem ou não,
enfim, nos serviços que ofertam. Alguns desses espaços são
célebres por fazerem parte da programação da Oktoberfest, tal como
a Schottenhamel e a Hippodrom – nesta última ocorre a missa
tradicional e é, também, onde fica a mesa dos proprietários dos
brinquedos do parque de diversões.
As
tendas grandes variam sua capacidade entre 2.500 e 10.900 lugares,
são elas:
Weinzelt:
pertencente a família Kuffer, foi construída em 1984, inteiramente
em estilo tradicional, decorada com bancos de madeira em estilo
antigo, oferecendo vista panorâmica da Estátua da Bavária, ao
lado oeste. Possui 2.500 acomodações e é considerada uma das mais
belas de toda a Oktoberfest. Diferentemente das demais, serve vinhos
– são mais de quinze variedades – além de espumantes, tal como
a champanhe. Cerveja somente Paulaner branca e de trigo, servida
após às 21 horas. Possui um refinado cardápio, no qual se
encontram queijos, camarões, salmão grelhado, vitelo, pato assado,
bistecas de ovelha, leitão assado ao molho de cerveja etc.
Completando o requinte dessa tenda, três orquestras se revesam no
espetáculo ao público.
Käfer
Wies'n Schänke:
com aproximadamente 3.000 lugares, é conhecida por ser a predileta
da alta sociedade, graças a sua relativa calma e ausência de
multidões. Destaca-se, no entanto, não por seu público, e sim por
haver sido construída em estilo bávaro, lembrando uma fazenda,
devido ao uso de grandes troncos de madeira. Possui um menu
diversificado e um tanto sofisticado, ofertando vinho e champanhe,
além da cerveja. É uma das poucas tendas que servem cerveja até a
uma hora da manhã. Sua peculiaridade maior encontra-se nos copos em
que serve as bebidas: a cada ano o designe é mudado, de forma que
podem ser comprados e colecionados. Pertence a Paulaner.
Fischer-Vroni:
possui
3.800 acomodações e pertence a Augustiner. Em seu interior possui
um barco sobre o qual é possível subir e observar toda a extensão
do galpão. A pesar de possuir um cardápio bastante amplo e servir
cerca de quinze variedades de peixe, seus pratos mais reconhecidos
são a cavala e o steckerlfisch – espécie de espetinho de peixe.
É bastante frequentada por idosos e homossexuais.
Hippodrom:
possui 4.200 acomodações, pertence à Spaten-Franziskaner. É
reconhecia pela sua excelente cozinha bávara e por ser um “point”
para flertes, contando com um belo “champanhe bar”. Após 111
anos na festa, será fechada em 2014, mas tomará parte na
Frühlingsfest de Munique
Schützen
Festzelt:
é uma das mais antigas tendas de Theresienwiese, conta atualmente
com capacidade para 5.400 pessoas, porém apenas metade desse valor
corresponde as acomodações, pois ela possui uma sala para tiro de
balestra que ocupa o espaço restante. Situa-se aos pés da Estátua
da Bavária e é frequentada por diversos membros da aristocracia
local, sendo também palco de diversos eventos de caridade. Seu
prato mais famoso é o porco ao molho de cerveja, acompanhado de
batatas.
Armbrustschützenzelt:
existe
desde 1895, acomoda 7.500 pessoas e pertence à Paulaner.
Possui as paredes decoradas com troféus de caça,
afinal, desde 1935 nela se realizam os campeonatos germânicos de
balestra. Serve-se comida típica, nos moldes de seu tema.
Ochsenbraterei:
inaugurada
em setembro de 1881, pelo açougueiro Johann Rössler, a principal
característica dessa tenda são os mais diversos pratos à base de
carne bovina que são preparados. Seu fundador chegou, inclusive, a
criar um sistema capaz de assar um boi inteiro frente a uma plateia.
Foi adquirida pela Spaten-Franziskaner em 1980 e possui capacidade
para 7.600 pessoas.
Bräurosl:
também
conhecida
por Pschorrbräu-Festhalle,
possui, desde 2010, capacidade de 8.400 lugares. Pertence
à Hacker-Pschorr e desde 1963 é administrada pela família Heide,
que se encontra na sétima geração. A denominação da tenda é
inspirada no nome da filha de seu proprietário, Herr Pschorr, a
senhorita Rosl Poschorr, a qual também inspirou o logotipo da
tenda: ela, montada em um cavalo e com a cerveja na mão. Seu prato
célebre é o Bavarian
Kaiserschmarrn – porções
de uma massa doce e com especiarias, frita em óleo, polvilhada com
açúcar e acompanhada de compotas de frutas ou geleias. É tida por
uma das mais animadas da festa.
Augustiner-Bräu:
comporta 8.500 visitantes. É considerada por muitos a melhor tenda
de toda a Oktoberfest, dada a amabilidade das garçonetes – um
importante diferencial em espaços tão grandes e com ritmo de
trabalho tão estressante. É também a única a servir cerveja
diretamente de barris não apenas revestidos, mas inteiramente de
madeira. Seu prato mais célebre é o meio frango assado com
manjericão. Também é tida como a predileta pelas famílias por
possuir um ambiente convidativo às crianças.
Schottenhamel:
data de 1867, quando não passava de uma simples barraca de madeira,
sendo, portanto, uma das mais antigas. Tem capacidade para 9.000
pessoas. É inteiramente decorada como se fosse uma grande casa
colonial alemã. É onde, todo ano, realiza-se a cerimônia de
abertura da festividade. Conhecida também como “a tenda da
juventude”, sua principal característica é o traje das
garçonetes: a clássica Servierschürzen, ao invés do recorrente
dirndl. Pertence à Spaten-Franziskaner.
Hacker
Festzelt:
com 9.300 lugares, seu interior, desde 2004, possui decoração
temática: com objetivo de recordar a lenda popular de Aloísio, um
suposto cidadão muniquense que após certa aventura teria ido para
o céu, o teto da tenda é decorado com nuvens e estrelas. A sua
principal característica é tocar rock ao invés da predominante
música bávara nas demais barracas – um atrativo ao público
jovem. Pertence, como o nome sugere, à cervejaria Hack.
Löwenbräu-Festzelt:
com 9.500 acomodações, é a primeira tenda a adquirir certificação
ISO 9001.
Possui um teto em forma de arcos de madeira, com lustres coloridos,
cujo total de lâmpadas atinge 16.500 unidades. É avistada de todos
os ângulos de Wiesn graças à sua torre de 37 metros. Possui,
sobre a entrada da tenda, uma escultura de leão, símbolo da
cervejaria, que mede quatro metros e que “ruge” a cada minuto. É
a tenda oficial dos torcedores do time de futebol TSV 1860, também
conhecido como “O leão”.
Hofbräu-Festzelt:
existe desde 1955 e a instalação atual foi erguida em 1972, possui
capacidade para 9.992 visitantes. Seu diferencial é ser a única a
possuir uma área onde é permitido ficar de pé, frente ao palco;
outra característica é o concurso de levantamento de copo, cujo
recorde é de dezesseis Maß.
Winzerer
Fähndl:
é a maior tenda de toda a Oktoberfest, com 10.900 lugares. Possui
uma grande torre, sobre a qual há uma garrafa rotativa gigante da
proprietária Paulaner. Caracteriza-se pela arquitetura singular, no
mais autêntico estilo bávaro tradicional, além das decorações
minuciosamente executadas, contribuindo para o desenvolvimento do
clima de época da festividade. Justo por isso, é nela onde a mídia
costuma fazer suas transmissões ao vivo.
Já
as tendas pequenas variam suas capacidades entre 60 e 900 lugares e,
algumas, caracterizam-se por praticarem preços mais “econômicos”.
Embora sejam, cada uma, muito interessantes e sumamente importantes
para o evento, seria demasiado cansativo – e mesmo desnecessário –
mencionar todas elas, de modo que abaixo serão apresentadas algumas
pouquíssimas: aqueles que mais se destacam em termos de
originalidade e atrativos.
Ammer
Hühner & Entenbraterei:
com 900 lugares, atua desde 1885; está associada à Augustiner e
destaca-se pelo seu cardápio inteiramente orgânico.
Bodo's
cafezelt:
com 450 acomodações, destaca-se pelos doces que serve,
considerados “excepcionais”, além dos mais sortidos strudels e
sorvetes. A principal característica, porém, são os coquetéis
exóticos que serve após às 17 horas.
Glöckle
Wirt:
destaca-se pelo seu ambiente aquecido, convidativo e decorado com
pinturas a óleo, utensílios de cozinha e instrumentos antigos,
proporcionando certa “intensificação” do clima cultural em
Wiesn. Possui 140 cadeiras e está associada à cervejaria
Spaten-Franziskaner.
Café
kaiserschmarrn: pertence
a Rischart, uma das mais respeitadas confeitarias de Munique, que a
construiu inteiramente no formato de um castelo de contos de fadas.
Além dos doces de altíssima qualidade, esta tenda destaca-se,
sobretudo, por encenar diariamente uma comemoração ao casamento de
Luis I e Teresa da Saxônia. Possui capacidade para 400 pessoas e
não está ligada a nenhuma cervejaria.
Wiesn
Guglhupf café:
é a menor tenda de toda a Oktoberfest, com apenas 60 lugares.
Destaca-se pelo formato que lembra uma típica torta alemã e por
possuir um bar rotativo, semelhante a carrossel. Sua especialidade é
o Guglhupf,
preparado nos mais diversos sabores – incluindo salgados. Não
possui aliança com qualquer cervejaria.
Scielbl's
Kaffeehaferl:
sua característica principal é a ausência de música e o café
irlandês, além dos licores nobres e dos vinhos que serve. Conta
com 100 acomodações e não comercializa cerveja.
Wirtshaus
im Schichtl:
é uma das mais interessantes tendas de toda a Oktoberfest. Integra
a festividade desde 1869 e é um símbolo das tradições populares
e da própria festa. Sua principal e autêntica característica é a
encenação de decapitações – cerca de vinte e cinco
apresentações por dia. Além disso, possui um dos mais originais
cardápios com produtos da marca Herrmannsdorfer. É reconhecida
pela atenciosidade dos funcionários. Não há informações sobre a
sua lotação ou a qual cervejaria está associada – vende
cerveja, além de vinhos e bebidas não-alcoólicas.
O
empreendimento
A
Oktoberfest, muito além de sua importância cultural, é um dos
principais componentes da economia do estado da Baviera e, por
extensão, afeta significativamente as estatísticas econômicas da
Alemanha. Em 2010, quando diversos países europeus e os próprios
Estados Unidos da América buscavam meios de combater a deflação
econômica, o “Real Time Economics”, de “O Jornal de Wall
Street”, apontou a tradicional festa germânica como uma das
principais apostas da Alemanha, com certeza de bom retorno.
Em
2009, as estatísticas de consumo na festa – dentre elas a
chamativa marca de 6,6 milhões de litros de cerveja – serviram
para indicar a recuperação do país frente a Grande Recessão,
embora o valor ainda estivesse aquém da marca recorde, atingida em
2007, quando a crise econômica ainda não manifestava-se
publicamente.
Esse
peso na economia da região fica ainda mais claro quando se analisa o
consumo de bens e serviços. Estima-se que anualmente a festa
empregue diretamente não menos que 12.000 pessoas. Indiretamente,
esse número deve aumentar ainda mais, tendo em vista os empregos que
devem ser mantidos – ou ofertados em caráter temporário – em
áreas como a agricultura, pecuária, transporte, hotelaria, turismo
etc.
No
ano de 2012 foram consumidos 116 bois e 57 bezerros, no anterior o
consumo foi de 2010 bois e vitelos, 53 bezerros, 523.000 frangos,
70.000 joelhos de porco, 250.000 salsichas, além de uma marca
recorde de 7,5 milhão de litros de cerveja. Em 2009 foram 111
bovinos e 500.000 frangos. Já no ano passado, em 2013, os valores
não destoaram muito do já visto: 116 bois; 549.899 unidades de
frango; 280.450 unidades de linguiça de porco; 44.320 kg de peixe;
75.456 unidades de joelho de porco; 94.795 litros de vinho; 299.938
litros de chá; 1.130.701 litros de água e suco de limão; e
aproximadamente 6.900.000 litros de cerveja, para um total de cerca
de 7.200.000 visitantes.
Em
termos de consumo de energia elétrica, Theresienwiese, no ano
passado consumiu 2,7 milhão de kWh – algo como 15% da necessidade
energética de toda a cidade de Munique. Registra-se o total de
consumo de gás por volta de 220.489 m³, e o de água em cerca de
110.000 m³ – algo como 27% do consumo diário em toda cidade.
E
o movimentar das engrenagens econômicas não para por aí. Dentro de
Wiesn há uma filial do sistema postal que enviou, no período
considerado, 130.000 correspondências. Além disso, existem
espelhadas pelo centro de eventos 83 cabinas telefônicas que se
servem de um sistema de cobrança por cartões de crédito
internacionais.
A
organização do evento buscou também desenvolver uma moeda própria
para festa, com o objetivo de expandir os lucros. Cada Biermarke,
como é chamada a moeda da festa, vale uma rodada, isto é, um Maß –
aquele famoso canecão de vidro de um litro de volume, o qual foi
introduzido na tradição da festa em 1892.
No
entanto, o preço da cerveja muda praticamente todo ano, dependendo
de como foi a safra de grãos no período. Em 2007, por causa de uma
temporada de seca, a qual atingiu além da Alemanha, a Rússia,
Cazaquistão e Ucrânia, a produção agrícola foi prejudicada e o
preço da saca elevou-se, refletindo-se nos produtos finais. No caso
particular da cevada, a cerveja
teve um salto e passou dos € 7,00. No último triênio tem-se
observado um percentual inflacionário de aproximadamente 2,5% a.a no
preço da bebida.
Mas,
esse percentual não se deve apenas às condições das safras
agrícolas, pois é um costume que as famílias se reúnam na
primavera para discutir os preços que serão propostos sobre a
cerveja durante a Oktoberfest, de maneira que as projeções de
colheita quase não têm impacto nessa decisão. Além disso, os
valores são regulados pela Secretaria de Turismo, e não podem
curvar-se muito além daqueles habitualmente praticados nos grandes
restaurantes de Munique. Por exemplo: se o litro está sendo
comercializado na cidade entre € 6,60 e € 8,40, em Wiesn ele
deverá situar-se em algo como € 8,30 e € 8,90.
Ainda
assim, o preço da cerveja na Oktoberfest está muito acima no índice
utilizado pelo governo de Munique para
medir o custo médio da festa para cada visitante. Esse índice
chama-se Wiesn
Visitor Price Index,
WVPI, e leva em consideração, simplificadamente, o gasto com
transporte público, dois Maß e meio frango grelhado, o Hendl.
Em
24 anos, os preços elevaram-se desproporcionalmente. A cerveja,
sendo o principal produto da festa, teve um aumento de 180%, contra
uma média de 130% do Hendl e apenas 50% do valor do transporte. Ou
seja, cerca de 7,5% a.a.
Apesar
disso, o consumo de cerveja no último triênio (2010-2013) tem sido
o melhor desde 2000:
Em
2010 foram cerca de 7 milhões de litros de cerveja; em 2011, foram
7,9 milhão de litros; em 2012, 6,9 milhão de litros.
Quando
se compara a taxa de crescimento inflacionário dos preços dos
produtos em Wiesn com a taxa de crescimento inflacionário dos preços
ao consumidor normal, observa-se uma variação de cerca de 4,1%
Em
relação a esse fato, Alexander Koch, do UniCredit Bank, autor do
principal artigo utilizado como fonte de informação para este
capítulo, salienta: “houve
um aumento claramente desproporcional nos custos de montagem e
operação de uma tenda em Wiesn, não menos importante por causa das
exigências de segurança muito mais rigorosas”.
Apesar disso, as projeções de custos aos visitantes são bastante
chamativas e, ao mesmo tempo, fantásticas, pois mesmo existindo na
Oktoberfest uma inflação muito maior que a do mercado comum, o
consumo é sempre muito alto.
A
rede hoteleira, durante a festividade, chega a cobrar diárias até
300% mais caras do que no restante do ano, e mesmo assim os mais de
50.000 leitos disponíveis entre os diversos hotéis de Munique ficam
lotados. Estima-se que em só em 2009 os turistas tenham gasto €
300.000.000 em serviços de hospedagem. Além de € 205.000.000 em
transporte, compras e alimentação fora de Theresienwiese.
Nas
aproximadamente duas semanas de festa, os visitantes da Oktoberfest
gastam, em média, € 830.000.000 em Theresienwiese – algo como €
54,00 ao dia, em média. Antes da recessão econômica, a médica de
arrecadação era por volta de € 950.000.000. Os donos dos
brinquedos do parque de diversão arrecadam em torno de €
324.000.000.
Cerca
de 20% do total de visitantes vem do exterior, sendo a maior parte
proveniente de EUA, Itália, Inglaterra e Austrália. Os demais 80% é
composto por cidadãos alemães da própria Munique e demais regiões
não apenas da Baviera, mas de toda a Alemanha.
Considerações
finais
Compor
pesquisas como esta, embora não seja algo essencialmente difícil,
envolve tempo, pois são muitas as informações a respeito do
passado e, não raro, contraditórias, de forma que se faz necessário
pesquisar mais especificamente certo dado ou conjunto de dados,
avaliar a coerência deles com aquilo que se tem mais certeza e, aos
poucos, ir montando o quebra-cabeças da história, uma vez que a
Oktoberfest possua diversas versões para a narrativa de sua origem –
muitas delas conflitantes. O que se observa, a pesar disso, é que a
festividade foi projetada para a grandiosidade e para prestigiar não
apenas a alegria do enlace real, mas também – posteriormente – a
prosperidade do povo bávaro.
Nota-se
esse segundo intuito pela inserção da feira agrícola em 1811,
propondo um evento não apenas de entretenimento, como também de
exposição e valorização do trabalho no setor primário,
propiciando, ainda, o intercâmbio de informações entre os
produtores e incentivando a inovação e o maior desenvolvimento do
referido setor.
Com
o transcorrer do tempo, a Oktoberfest foi modificando-se,
acompanhando as transformações políticas, econômicas e mesmo
culturais por que passou a região, reinventando-se de acordo ao
momento, porém tendo desenvolvido a percepção da necessidade de
preservar o adorno cultural no qual se converteu o contexto de sua
primeira realização. Ou seja, ela não apenas evoluiu junto a
sociedade e ao mundo, ela foi esculpindo os seus contornos
característicos, sem, no entanto, jamais perder a essência motriz.
O
privilégio comercial às cervejarias mais antigas de Munique
conferiu à Oktoberfest um ar de tradição centenária,
converteu-lhe na “festa da cerveja” e, em torno disso,
desenvolveu-se um ambiente com clima histórico. As tradicionais
tendas, por exemplo, só sugiram mais de oito décadas após a
criação da festa.
Hoje,
a Oktoberfest é um verdadeiro empreendimento de sucesso, gerido pelo
poder público e movimentado pela iniciativa privada. Não apenas as
cervejarias e as famílias donas das tendas lucram, e sim todos os
setores da economia muniquense. E o maior símbolo desse sucesso
seja, talvez, não apenas o fato de que economistas alemães e
americanos a tenham apontado como uma arma alemã anti-deflação,
após a crise de 2008, mas o fato de que tenha sido copiada por
cidades de colonização germânica em quase todo o mundo – e ser
um proporcional sucesso à escala em que é desenvolvida em cada
região.
A
festividade germânica é uma excelente inspiração para regiões
“congeladas no tempo”, embora esse não seja o caso de Munique.
Muitas cidades no Brasil, por exemplo, não possuem um grande
desenvolvimento econômico, de modo que não ofertam um mercado de
trabalho propício às novas gerações, forçando uma espécie de
“êxodo laboral”; todavia, possuem características históricas
próprias que poderiam ser empregadas como um “motor” para o seu
desenvolvimento. Mesmo àquelas que não contenham, talvez, um apelo
cultural subjetivo mui vívido, poderiam utilizar-se da história do
próprio estado ou país e desenvolver uma atividade singular em
torno disso, por meio da qual possam promover a economia local.
Referências