Hoje, recebi o telefonema de uma agente do Cartório de Registros de minha cidade, ela informou-me que foram localizados documentos do Grêmio Estudantil, que há muito eram procurados. Tão logo recebi a informação, me dirigi até o referido cartório. Ao chegar, e após receber atendimento, fiquei de pé ao lado do balcão, aguardando um último documento, enquanto o fazia, observava os funcionários e até mesmo alguns clientes que ali estavam.
Duas funcionárias, sentadas atrás de suas mesas, faziam o que parecia ser um fechamento de caixa, já que uma contava algumas cédulas monetárias e algumas moedas, enquanto a outra parecia fazer contas no computador. Assim, dava a entender, que conferiam o resultado. Uma delas parecia estar preocupada com algo, levantou-se, entrou em uma sala que ficava à nossa frente, e pelo barulho, pareceu pegar algum documento em um armário de zinco, retornou à sala de atendimento, sentou-se novamente e desta vez com um semblante mais aliviado, retomou suas contas.
Muito me chamou a atenção os livros que estavam na sala em frente, que pareciam ser uma espécie de arquivo, já que lá constavam os livros de registros do cartório, os que mais se destacavam, eram os primeiros da fileira de cima da estante que se via uma parte de onde estava, eram livros de registro - diga-se de passagem, tudo muito bem organizado – aparentemente antigos, provavelmente ainda da década de 60. Mera suposição.
Já a minha direita, estavam mais duas funcionárias trabalhando, uma provavelmente checava dados no computador, enquanto outra procurava atentamente algo em um grande livro, que parecia ser um pouco velho. De repente, o telefone toca, e esta ultima atende, presta algumas informações e desliga; novamente o telefone chama, desta vez ela não atende, e escuto quando diz: “não agüento mais atender este telefone, chamou o dia inteiro!’’. Então, a funcionária que estava a seu lado, trabalhando no computador, atende, vira-se para o oficial de registros que estava em uma mesa atrás procurando um documento e fala à pessoa do outro lado da linha que torne a ligar depois de uns 20 minutos; o oficial, aparentemente “estressado’’ - assim como os ali presentes – diz que mandasse a pessoa ligar após uma hora, já que estava assaz atarefado.
Creio que todos os que ali estavam, pensavam no que ainda tinham para fazer, em especial os funcionários do Cartório que pareciam fisionomicamente cansados, pensavam provavelmente, também, no que iriam fazer após seu expediente, no seu lazer.
Então o oficial de registros levanta-se, pega a recém impressa folha, dirige-se a mim e a entrega (queria fazer alterações no documento que arrecadei, portanto pedi orientações); tão logo me entregou o documento, saiu apressado em direção a sua sala.
Saí do cartório, e caminhando pela rua, fui lendo o documento; quando terminei fiquei estarrecido com tamanha lista de documentos e certificações a providenciar para realizar uma simples alteração em um Estatuto. Não pediram uma amostra de DNA, porque a pessoa era jurídica.
Então fiquei a pensar se tudo aquilo era de fato necessário; queria saber o que era em teoria burocracia, encontrei a seguinte definição: “algo que tornasse a organização eficiente e eficaz, garantindo com ela: rapidez; racionalidade; homogeneidade de interpretação das normas; alcance dos objetivos etc. É... parece que não era burocracia e sim burrocracia, que nada mais é do que o excesso de normas e regulamentos, limitação de iniciativa, desperdício de recursos e ineficiência generalizada dos organismos estatais e privados, este entrave paralisa o país, sufocando qualquer chance de desenvolvimento.
Mas... o que esperar de uma política a qual é desenvolvida por políticos corruptos, que dá direitos excessivos ao bandido preso e mal garante a segurança dos cidadãos?
É o mais triste é saber que a culpa disto é dos eleitores, pois político não faz concurso público, ganha votos. E, sendo assim, pelo emprego deste sistema o Brasil é um país atualizado com Leis arcaicas.
É amigo leitor, a antiga burocracia tornou-se atualmente “burrocracia’’, quem diria que para fazer uma simples alteração em um documento que compete a mim, como mero cidadão, teria que fazer um longo processo jurídico, que poderia ter sido resolvido com mais agilidade e eficiência, se ao invés de preencher tantos documentos e cumprir inúmeros protocolos, eu simplesmente fizesse uma petição... Mas, na minha cidade, assim como no restante do país é assim mesmo, uma “burrocracia’’ infindável.
Farias, M. S. "Descoberta da 'burrocracia'". Agosto de 2010. www.livredialogo.blogspot.com
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Esta obra de Farias, M. S., foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
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Parabéns Mateus!
ResponderExcluirAté que um dia alguém teve a coragem de escrever um texto que nos mostra a realidade de todos nós como cidadãos brasileiros, que infelizmente vivemos sufocados pela tal "burrocracia''.
Lamento pelo nosso Brasil, lindo maravilhoso, ser assim, mas fazer o que?
Que tenha outras pessoas como tu que não são idiotas e aceitar tudo como nos mostram as Leis brasileiras.
bjs
Tia Dora.
Parabéns pelo lindo trabalho que estás realizando.
ResponderExcluirMateus tenho a certeza de que pessoas como você vão fazer toda diferença.
Pois infelizmente as pessoas tem medo de dizer o que realmente precisa ser dito.
Segue tua luta! Tenho absoluta certeza que vencerás e também mais pessoas que sigam teu lindo exemplo.
Boa Sorte.
Um grande beijo.
Amélia
Tentei postar o comentário que segue em seu blog, mas o espaço para comentários é limitado a 4096 caracteres. Eu acho que me passei! De qualque forma, gostaria que você ficasse sabendo o que eu tentei postar. Por isso estou remetendo esta nota. Quem sabe em alguma oportunidade no CEDOI unimos os dois textos! O que eu tentei postar foi o seguinte:
ResponderExcluirMateus,
Intuitivamente, você toca em alguns pontos muito importantes da Teoria da Burocracia. Mas, como sua idéia era fazer uma crônica e não um texto técnico, se você me permitir, eu gostaria de acrescentar ao seu escrito alguns elementos de teoria, para que não fique a idéia de que a burocracia é, por ela própria, algo ruim.
A Teoria da Burocracia foi originalmente elaborada por Max Weber, um cientista social alemão que viveu na virada do século XIX para o século XX e publicada após a sua morte por sua esposa, num livro chamado "Wirtschaft und Geselschaft: Grundiss der Verstehenden Soziologie" . Traduzido para o português: "Economia e Sociedade: um esboço de Sociologia Compreensiva". Diga-se de passagem que é um "senhor" dum esboço: são mais de mil páginas! Nesse livro há uma parte que Weber dedica à Sociologia da Dominação e é aí que a burocracia entra.
Como você sabe, em todas as sociedades há pessoas que têm maior poder que outras. Historicamente, já foram feitas várias tentativas de criar uma sociedade completamente igualitária, onde todos teriam o mesmo poder. Mas tudo o que estas tentativas conseguiram comprovar foi que a igualdade absoluta é uma ilusão: em todas as sociedades há aqueles que dominam e aqueles que são dominados. Como uma sociedade completamente igualitária é utópica, este fato não é preocupante. Nós aceitamos que exista algum tipo de dominação (não todos!) ou, nas palavras de Weber, nós aceitamos a 'legitimidade' de alguns tipos de dominação. O que Weber fez foi descrever três tipos puros de dominação legítima.
Weber denominou três circunstâncias de 'tipos puros de dominação legítima' porque (a) há, em cada uma delas um grupo de pessoas que domina e outro que é dominado, daí a idéia de dominação; (b) essa dominação é aceita pelos dominados como legítima e (c) nenhum deles existe no mundo real (daí a idéia de 'puros'). Esse é só um recurso para poder estudar as sociedades que existem de fato e as socieades que existem de fato têm uma mistura desses três tipos de dominação, nas mais variadas proporções. Fazendo um paralelo muito grosseiro, seria algo parecido a estudar o cérebro, o coração, os pulmões, os rins, o estômago, etc., separadamente, para entender o homem como um todo. A diferença é que os órgãos existem de verdade, e os tipos puros de dominação, não. Mas ninguém diria, em sã consciência, que o homem é apenas o cérebro, ou o coração ou os pulmões, etc.
Qual foi o critério que Weber utilizou para separar cada um desses tipos de dominação dos demais? A fonte da legitimidade: aquilo que faz com que cada uma dessas dominações seja aceita pelos dominados como legítima. E ele conseguiu identificar três dessas fontes: a lei, a tradição e o carisma.
A dominação cuja fonte de legitimidade é a lei, ele chamou de dominação legal. Aquela cuja fonte de legitimidade é a tradição, ele chamou de dominação tradicional e aquela cuja fonte de legitimidade é o carisma ele chamou de dominação carismática (bem originais as denominações, não?).
Mas há, ainda, um elemento adicional, um aparato que sustenta o poder do dominador. Imagine três círculos concêntricos. No mais interno está o grupo dominador; no externo o grupo de dominados. No anel que fica entre os dois, um grupo de pessoas que exerce o poder em nome do(s) dominador(es). No caso da dominação legal, essas pessoas são representadas pelas pessoas que trabalham em escritórios (Büro, em alemão), e por isso Weber também chama a dominação legal de "Burocracia", o governo dos funcionários de escritório. Esse é o tipo de dominação que predomina na maioria dos Estados modernos e organizações como as empresas.
Quando Weber compara a burocracia com os outros dois tipos puros de dominação, chega à conclusão que, dos três, é o mais eficiente para atingir os propósitos não só do dominador, mas de toda a sociedade. Isso ocorre porque a dominação burocrática, estando baseada na lei, é mais previsível que as outras duas. Porém, cuidado! Weber não afirmou que a burocracia era o tipo de dominação mais eficiente que poderia existir. Repito, ele chega à conclusão que, apenas dos três tipos puros de dominação que examinou, a burocracia era o mais eficiente. Mas isso não significa que ela não tenha seus defeitos. Quando a obra de Weber foi traduzida para o inglês e tornou-se conhecida mundialmente (o número de pessoas que entende o inglês é muito maior que o número de pessoas que entende o alemão), outros sociólogos começaram a estudar os aspectos negativos da burocracia, algo que Weber, em grande medida, descuidou ou não teve tempo para estudar antes de sua morte. Entre eles, um americano chamado Robert Merton, que identificou aquilo que hoje chamamos de "disfunções da burocracia": o apego aos regulamentos, o excesso de formalismo e de papéis, a resistência às mudanças, a exibição de sinais de autoridade, a dificuldade no atendimento, conflitos com o público, etc.
ResponderExcluirNa sua crônica, aparecem com destaque essas disfunções. Felizmente, os órgãos públicos estão "acordando" e procurando eliminá-las. Aproveitando o conteúdo do seu próprio blog – vamos ver as coisas boas que temos – o correio brasileiro, que também é uma burocracia, é um exemplo de eficiência – respeitado, admirado e copiado no mundo inteiro.
Ficou claro na sua crônica que você não aceita como legítima uma dominação onde predominam as disfunções e também o seu desejo de transformá-las em burocracias eficientes como o correio brasileiro. Se todos os brasileiros pensassem da mesma forma, nós viveríamos em um outro país. No entanto, eu pressinto (e lamento) que você terá poucos aliados para fazer essa transformação. Lamentavelmente, o sonho da grande maioria dos brasileiros ainda é fazer um concurso público. Minha esperança (e temo que seja só esperança) é que seja para fazer parte dos "correios" que existem por aí e não das "burrocracias".
Parabéns pelo blog!
Roberto