Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.
As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço,
Da trovoada de depois de amanhã?
Tenho a certeza, mas a certeza é mentira.
Ter certeza é não estar vendo.
Depois de amanhã não há.
O que é isto:
Um céu azul, um pouco baço, umas nuvens brancas no horizonte,
Isto é o que hoje é,
E, como hoje por enquanto é tudo, isto é tudo.
Quem sabe se eu estarei morto depois de amanhã?
Se eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã
Bem sei que a trovoada não cai da minha vista,
Mas se eu não estiver no mundo,
O mundo será diferente -
Haverá eu a menos -
E a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada.
***
(10/07/1930)
Pessoa, Fernando, (1888-1935). Poemas de Alberto Caeiro: obra poética II. Porto Alegre, L&PM, 2010. 137 p.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar, pois sua opinião é muito importante!
Volte sempre!