Olhando
os comentários em algumas páginas com publicações acerca do ENEM, vê-se um sem
número de pessoas reclamando não propriamente de seu desempenho, mas da enorme
distância entre aquilo que eles viram em sala de aula durante seu Ensino Médio
e aquilo que lhes foi cobrado no concurso.
Isso
me fez recordar de uma das muitas discussões que minha turma tinha com os
professores no último ano do Ensino Médio sobre o ensino. Nós queríamos aulas
que nos preparassem para o Exame; eles argumentavam que o ensino não podia
destinar-se a um concurso, que isso seria tão somente um treino. E eles estavam
cobertos de razão, embora errados.
Explico.
A
função do ensino é capacitar, de maneira que, frente a um novo desafio, o
sujeito seja capaz de desenvolver as habilidades necessárias para superá-lo. É
por isso que, depois de estudar Cálculo durante um ou mais semestres, por
exemplo, os acadêmicos são capazes de, no futuro, desenvolverem habilidades em
outras áreas como a Estatística ou a Matemática Financeira com maior facilidade,
pois possuem capacidade de entendimento maior.
O
treino, no entanto, direciona para um único objetivo: fazer incessantemente
listas de cálculo, sem se preocupar com os conceitos, por exemplo, pode fazer
com que o acadêmico passe em Cálculo porque entendeu o que fazer frente a um
modelo ou outro de atividade, mas ele não se apropria disso e logo que a prova
passa e o objetivo - aprovar - é consumado, esquece.
Quando
eu estava no Ensino Médio, a maioria dos meus professores estava preocupada em
fazer-nos aprovar. Ensinavam segundo um curriculum que acreditavam ser capacitador,
todavia, esse ensino não acompanhava a realidade. Hoje, um estudante de
Administração, eu diria: o Ensino Médio que eu tive foi pouco eficiente e pouco
eficaz. A matriz curricular estava muito distante daquilo que eu precisei. Digo
isso por que quando efetivamente tive de desenvolver novas habilidades, o
ensino que eu tive não me propiciou uma boa base - e eu tive de desenvolvê-la
aos poucos.
Felizmente
isso não se aplica a todos. Em três anos de Médio eu tive alguns professores
memoráveis, instigantes, graças aos quais eu cheguei à Faculdade com um bom
domínio de alguns assuntos importantes - meu primeiro semestre que o diga!
Por
isso, hoje, frente a tantas frustrações frente ao Exame Nacional do Ensino
Médio, eu pergunto: que tipo de ensino capacitador as escolas de segundo grau preocupam-se
tanto em defender se suas matrizes curriculares estão simplesmente caducas?
Treinar é uma ideia terrível, mas aprisionar intelectos é ainda pior, eu diria.
As instituições secundaristas precisam atualizar-se, melhorar o grau de
exigência e qualificação de seus alunos. Mas isso só é possível se: (a) os
diretores e os coordenadores tiverem visão, e isso requer acompanhar as
transformações, tendências e exigências do mundo lá fora, e com isso projetar o
ensino necessário à formação de um indivíduo capaz; (b) os professores,
igualmente, estiverem em contínua aprendizagem e desenvolvimento - e não
parados no tempo, encorados nos conhecimentos de quando colaram grau em 1990 ou
em 2000.
A frustração sobre a
qual falei no primeiro parágrafo é fruto desse descompasso cronológico e
qualitativo entre as salas de aula e a realidade. Não é normal concluir o
Ensino Médio com a sensação de que pouco ou nada se aprendeu, de que não se tem
conhecimentos suficientes para, por conta própria, ampliá-los. Não é sinal de
qualidade só aprender no Ensino Superior àquilo que é competência da esfera
anterior.
Farias, M.S. "Ensinar e aprender nunca acabam". Janeiro de 2016. http://livredialogo.blogspot.com.br/
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Isso aí! Legal....
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