sábado, 9 de janeiro de 2016

Ensinar e aprender nunca acabam

Olhando os comentários em algumas páginas com publicações acerca do ENEM, vê-se um sem número de pessoas reclamando não propriamente de seu desempenho, mas da enorme distância entre aquilo que eles viram em sala de aula durante seu Ensino Médio e aquilo que lhes foi cobrado no concurso.
Isso me fez recordar de uma das muitas discussões que minha turma tinha com os professores no último ano do Ensino Médio sobre o ensino. Nós queríamos aulas que nos preparassem para o Exame; eles argumentavam que o ensino não podia destinar-se a um concurso, que isso seria tão somente um treino. E eles estavam cobertos de razão, embora errados.
Explico.
A função do ensino é capacitar, de maneira que, frente a um novo desafio, o sujeito seja capaz de desenvolver as habilidades necessárias para superá-lo. É por isso que, depois de estudar Cálculo durante um ou mais semestres, por exemplo, os acadêmicos são capazes de, no futuro, desenvolverem habilidades em outras áreas como a Estatística ou a Matemática Financeira com maior facilidade, pois possuem capacidade de entendimento maior.
O treino, no entanto, direciona para um único objetivo: fazer incessantemente listas de cálculo, sem se preocupar com os conceitos, por exemplo, pode fazer com que o acadêmico passe em Cálculo porque entendeu o que fazer frente a um modelo ou outro de atividade, mas ele não se apropria disso e logo que a prova passa e o objetivo - aprovar - é consumado, esquece.
Quando eu estava no Ensino Médio, a maioria dos meus professores estava preocupada em fazer-nos aprovar. Ensinavam segundo um curriculum que acreditavam ser capacitador, todavia, esse ensino não acompanhava a realidade. Hoje, um estudante de Administração, eu diria: o Ensino Médio que eu tive foi pouco eficiente e pouco eficaz. A matriz curricular estava muito distante daquilo que eu precisei. Digo isso por que quando efetivamente tive de desenvolver novas habilidades, o ensino que eu tive não me propiciou uma boa base - e eu tive de desenvolvê-la aos poucos.
Felizmente isso não se aplica a todos. Em três anos de Médio eu tive alguns professores memoráveis, instigantes, graças aos quais eu cheguei à Faculdade com um bom domínio de alguns assuntos importantes - meu primeiro semestre que o diga!
Por isso, hoje, frente a tantas frustrações frente ao Exame Nacional do Ensino Médio, eu pergunto: que tipo de ensino capacitador as escolas de segundo grau preocupam-se tanto em defender se suas matrizes curriculares estão simplesmente caducas? Treinar é uma ideia terrível, mas aprisionar intelectos é ainda pior, eu diria. As instituições secundaristas precisam atualizar-se, melhorar o grau de exigência e qualificação de seus alunos. Mas isso só é possível se: (a) os diretores e os coordenadores tiverem visão, e isso requer acompanhar as transformações, tendências e exigências do mundo lá fora, e com isso projetar o ensino necessário à formação de um indivíduo capaz; (b) os professores, igualmente, estiverem em contínua aprendizagem e desenvolvimento - e não parados no tempo, encorados nos conhecimentos de quando colaram grau em 1990 ou em 2000. 
A frustração sobre a qual falei no primeiro parágrafo é fruto desse descompasso cronológico e qualitativo entre as salas de aula e a realidade. Não é normal concluir o Ensino Médio com a sensação de que pouco ou nada se aprendeu, de que não se tem conhecimentos suficientes para, por conta própria, ampliá-los. Não é sinal de qualidade só aprender no Ensino Superior àquilo que é competência da esfera anterior.

Farias, M.S. "Ensinar e aprender nunca acabam". Janeiro de 2016. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima.
Licença Creative Commons

1 comentários:

Obrigado por comentar, pois sua opinião é muito importante!
Volte sempre!

 
Licença Creative Commons
Diálogo Livre de Farias, M. S. et alia é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.