quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O politicamente correto e o mundo de ilusões.

Há certas manifestações que me deixam bastante "consternado", para não dizer irritado. Uma delas é o atentado cultural promovido por alguns educadores e sociólogos/ativistas preguiçosos em relação às obras culturais brasileiras: as canções de roda de Villa-Lobos estão sendo reformuladas à óptica do "politicamente correto" por que, no entender dessas pessoas, as letras como "Atirei o pau no gato", "O cravo brigou com a rosa", "samba Lelê" e até mesmo obras literárias de Monteiro Lobado, são influenciadoras de algum tipo "preconceito". Mas isso, sejamos francos, ou é pura preguiça ou é falta de conhecimento.

Ou preguiça de explicar às crianças que essas cantigas foram compostas por um compositor e maestro brasileiro, o primeiro - e que me ocorra o único - a compor música erudita brasileira com base nos elementos culturais indígenas, africanos, portugueses, enfim da miscelânea cultural que é Brasil e que sua obra além de uma admirável expressão da cultura deste país, no que diz respeito às cantigas de roda, tem muito a ver com os costumes de sua época - que certamente mudaram muito de lá pra cá. O mesmo vale para Lobato, que retrata certa personagem com elementos hoje considerados racistas. A preguiça de explicar o contexto sócio-histórico de produção dessas obras, de analisá-las e tecer alguma forma de paralelo com os dias de hoje, afim de melhor contemplar o panorama histórico-cultural do Brasil e formar cidadãos que conheçam suas raízes nacionais, sua cultura, seu povo e capazes de melhor se relacionarem com as adversidades, com questões mais adiante polêmicas e complexas, tal como a desigualdade social, a violência, discriminação, etc. Ou então não conhecem esses aspectos e intentam essas modificações ridículas que falseiam a realidade, confundem o indivíduo e embotam sua capacidade de analisar e integrar-se à sociedade em que vive.

Particularmente, eu sempre entendo que professor e educador não é a mesma coisa: professores apontam a direção, dão instrução, fornecem ou ensinam como construir as ferramentas necessárias ao desenvolvimento do aluno, tiram dúvidas, mas fazem pensar, exigem um posicionamento do próprio aluno; confrontam-no. Já o educador diz o que é certo e errado, direciona segundo alguma ideologia e não faz questão de confrontar o educando ou de fazê-lo refletir sobre a questão. Vejamos a história das marcas de batom no banheiro: o educador, representado pelo faxineiro, não fez com que as meninas parassem de beijar o espelho por compreenderem que isso é errado por dificultar a vida dos funcionários da manutenção e sujar algo que é de uso comunitário, enfim, sendo algo ética e moralmente incorreto. Ele simplesmente as fez parar por que limpou o vidro com água da privada, então elas não beijariam mais o espelho por que isso é anti-higiênico e não as convém, tão-somente. O que significa que se o vidro for outro, limpo não com água da privada, elas tornaram a sujá-lo com batom. Mas o problema verdadeiro é que não deveria haver diferença entre professor e educador, já que os termos, em boa parte dos dicionários, são sinônimos. Neste caso das marcas de batom, educar está se baseando na pior das suas acepções: adestrar! O verdadeiro ato de ensinar consiste em "Oferecer a alguém o necessário para que esta pessoa consiga desenvolver plenamente a sua personalidade. Propagar ou transmitir conhecimento (instrução) a; oferecer ensino (educação) a; instruir¹”.


O preço desta distinção entre "professor" e "educador" e deste recorrente intuito de adestramento ao invés de "dar asas ao voo" é uma sociedade que desconhece suas origens e vive à sombra de uma ilusão que lhe impede de crescer. Ora, é preciso que haja a capacidade de questionar, mas também a de compreender. De renovar-se e de recordar. Não deveria prevalecer o medo de refutar por que tal coisa foi dita por alguém de posição supina, e sim o encorajamento de pesquisar, de pensar e embasar suas conclusões e demonstrar mais um ângulo da questão e levá-lo à discussão. É preciso coragem e autonomia no pensar. E, parece-me que, sem compreendermos nosso passado, não podemos entender o presente, tampouco mudar o futuro.

Farias, M.S.: "O politicamente correto e o mundo de ilusões". Fevereiro de 2013.
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2 comentários:

  1. São João evangelista a quem são atribuídas 3 cartas , termina a 1ª dizendo que o mundo todo jaz sob o maligno. Este maligno é bom de serviço e durante alguns anos ele me fechou o cerco sem me bloquear. É que a misericórdia de Deus não nos abandona ainda que o abandonemos. Eu estava perdido e fui encontrado, eu estava morto e voltei a viver. Como um não abandonado, a vida me prosseguiu, o mal me triunfou mas a vitória do bem me fez vencedor. Soerguido sobrevivi na paz final. Como ainda jovem as ilusões daquele tempo, doces e ingênuos tempos, hoje me trazem a certeza de Deus luz dentro de mim. Eu não fui tragado pelo mundo. Eu vendia uma imagem de poder para uma menina que minha carne se derreteu por ela. Quanto sofrimento!. Mas Deus dentro de mim me falava ainda que eu não quisesse ouvi-lo que na minha estrada aquela menina não estava. Era uma ilusão. Criou-se em mim uma grande confusão. Os vorazes dodge dart já davam sinais de morte, mas ainda era um carro muito usado. E eu começava por vender uma imagem de poder a bordo de um deles. Quanta ilusão!. Ter conhecido as ilusões do inferno transmuta um homem na verdade da humildade...:)

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    1. Mas hein?! Que isso tem a ver com a publicação?

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