5.
“Ao rosto sobe-me o sangue tímido; em meu manto envolve-o até que o amor esquivo já se tendo tornado corajoso, só inocência veja no ato do amor sincero e puro.”
(William Shakespeare, "Romeu e Julieta").
Águas de Março...
O mês não era de frio, mas assim que tocou meus lábios Petrus me fez congelar. Não literalmente, claro! (Até me pergunto se isto é possível...). Minha salvação ou minha perdição estava ali naquele homem. O desconhecido agora fazia parte de mim; parte que eu não sabia que tamanho tinha, que não sabia que poder teria e exerceria, mas que, em um minuto, eu havia aprendido a respeitar! Em alguma de minhas muitas leituras, aprendi que quando queremos experimentar algo precisamos cair de cabeça. Como tentar analisar a temperatura da água do mar, apenas molhando os pés... E meu corpo, naquele instante, me implorava pra mergulhar!
“- São as águas de março fechando o verão. É a promessa de vida no teu coração!”
Mergulhei.
Petrus era alto e tinha os braços fortes. Usava o cabelo num comprimento que não passava dos ombros... Tinha cara de professor. Logo, qualquer coisa que ele dissesse me pareceria verdade; era como se sua essência saísse de seu próprio corpo e mudasse a opinião de qualquer pessoa sobre qualquer coisa.
- Madalena...
Bastou uma palavra para que voltasse a terra. Cambaleei e me afastei com alguns passos para trás. Queria correr, talvez, por vergonha ou arrependimento, mas meus pés não se firmavam ao chão. Levava a mão ao peito quando Petrus me deteve. Segurou meu braço com tanta força que gritei de dor; no mesmo momento, algum barulho surgiu do meio da escuridão. Meu acompanhante me puxou para trás de alguns arbustos onde havia um espaço mínimo para nossos corpos. Estávamos colados! E, então, pela primeira vez, senti nossos corações pulsarem juntos, num compasso, numa sinfonia inaudível. Nossa canção...
- Que está fazendo? – Perguntei, assim que achei apropriado. Um sorriso foi minha resposta. Um sorriso tranquilizador... Seus olhos me diziam: Confie! Entretanto, eu não podia. Madalena era uma mulher confiante em si, não aquele animalzinho amedrontado que Petrus fazia parecer. Eu não me deixaria cair em uma armadilha infantil.
- Olha...
Antes que pudesse terminar os ruídos ao redor voltaram. Alguém, além de nós, também estaria passeando por aquele estranho lugar?
- Olha...
Meu acompanhante segurou-me o rosto para que nossos olhos se fixassem. Um minuto! Bastou um minuto para que seus olhos negros e tumultuados desarmassem todos meus planejamentos, toda a minha confiança. Então ele partiu sem ruídos, sem culpa. Sem mim... Partiu como as sereias com seu silêncio. Como as sereias que não cantam; que, de folga, não hipnotizam, mas assim mesmo matam.
“- Non te scorda di me...”
Farias, Maikele. "Olhos negros Desconcertantes... - Parte 5". Junho de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
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A história é muito boa. Você escreve super bem.
ResponderExcluirVoltarei para ver a continuidade..
Um abraço!