6.
“Ora, as sereias têm uma arma ainda mais terrível do que o
seu canto, a saber, seu silêncio. Embora nunca tivesse acontecido, é talvez
concebível que alguém pudesse ter escapado de seu cantar, mas de seu silêncio,
certamente não.”
(Franz
Kafka, O silêncio das Sereias).
O
gato preto da janela...
A má sorte me persegue... Não que acredite nestas
coisas de “passar embaixo da escada rouba-lhe a sorte” ou que “cruzar com gato
preto causar-lhe-á azar no resto da semana!”. Os fatos sucessores ao casamento
de Antônio deixavam-me perplexa! Atrasara-me para o trabalho a semana inteira,
as repreensões de meu chefe vieram logo e tudo que comecei nestes dias jamais terminei!
Petrus levou minha segurança, minha altivez, meu
equilíbrio, minha sensatez e tudo que fazia-me ser Madalena. O amor, por
enquanto, não me tem sido de grande importância ou valorização. Claro, estou
disposta a ter amor e a dá-lo com intensidade maior possível, mas não hoje,
muito menos amanhã. O que quero dizer, é que quando deixamos o amor de lado
ficamos tão perdidos, que é quase impossível continuar sem dar marcha ré,
passar por cima de qualquer mania adquirida e, então, fazer um novo caminho. A
verdade é que querendo ou não o amor virá, ora ele, ora o ódio e por mais
clichê seja, a ligação entre eles é verdadeira e muito mais palpável do que
muitos imaginam!
Os gatos pretos de azar tornaram-se um muro em frente
a minha janela...
Exatamente! A perdição é como ter um muro em frente à
janela. (Não a “perdição” no mais puro termo, mas sim no caso de estar perdido!
Deste modo quero que a vejam e sintam neste caso...). Era isto! Estava
perdida... Perdida em minhas escolhas. Perdida nas suposições para o futuro!
Contudo, ainda assim, não me apeguei ao fato de não saber como encontrar Petrus
e, mesmo que soubesse, meu orgulho de mulher falaria mais alto!
Como escreveu Oscar Wilde: “O diabo é muito
otimista se pensa que pode piorar os homens”.
A semana terminou ainda pior do que havia começado.
Sai ilesa do trabalho, além da advertência (muito bem posta por meu chefe!), os
“demais” de minha vida iam bem. O que mais incomodaria no meu cotidiano? Moro
sozinha, mas nunca pude morrer de solidão, já que recebia visitas diárias de um
gato em minha varanda. Meus contatos permaneciam superficiais, literalmente.
Certo dia, meu companheiro das noites, subiu calado em minha janela.
Cansada de tanta invasão e muito mais, cansada do silêncio; caminhei para pertinho
e puxei um assunto tão supérfluo quanto aquela situação.
- Olá, como se sente hoje? Se quiseres, nem precisamos
levar em consideração que sejas apenas um gato...
- (silêncio)...
- Desculpe-me se lhe peguei de surpresa! Não sou muito de
falas e sei que tu também não és, mas bem sabes que o ser humano precisa, às
vezes, de um aconchego.
- (silêncio)...
- Por favor...
Foi nesse instante, que deixando de lado qualquer
cordialidade ou educação, “Senhor gato” deixou-me a falar sozinha e saiu a
caçar a borboleta branca que passava. Quando já se ia lá ao longe acredito que
lembrou-se de minha companhia, virou-se para trás e miou alto e agudo.
Era o aviso que voltaria pela manhã...
Farias, Maikéle. "Olhos negros desconcertantes - Parte 6". Junho de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
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Boa noite DL!
ResponderExcluirPassando para conferir o teu espaço! Gostei muito do layout e muito mais do conteúdo, já estou seguindo (Nº 13) e estou listando teu blog em minha lista de blogs no http://penseoamanha.blogspot.com/
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Olá.
ResponderExcluirPost divulgado no Agregador Teia.
Até mais.