Introdução
Pode-se dizer que dois
fatores foram essenciais ao desenvolvimento de nossas sociedades e que um
destes é à base de nossa atual. O primeiro desses fatores foi a Revolução
Industrial, que fez surgir à máquina na produção têxtil, desenvolveu, por assim
dizer, a indústria; o advento do motor a
vapor revolucionou também os meios de transporte e outros setores. O segundo
fator foi a descoberta e o empreendimento do petróleo. Nossas sociedades estão
baseadas, sobretudo, nessa forma fóssil de obtenção de energia e outros
insumos.
Hoje é difícil pensarmos em uma sociedade sem
recursos enérgicos, ou antes, sem estes em larga escala. É impensável vivermos
em um mundo sem energia elétrica, sem eletrodomésticos (micro-ondas,
computadores, televisores, lâmpadas, chuveiros, etc.), da mesma forma que sem
combustíveis, o que implicaria em um colapso total dos meios de transporte. A
carência de matéria-prima à produção de energia, logicamente, remeteria a um
contexto semelhante ao supracitado; seria como que regressarmos à Idade Média
em termos tecnológicos e industriais.
A matéria-prima utilizada pelas nossas sociedades,
hodierno, é, predominantemente, o petróleo e o carvão mineral, ambos concebidos
como fontes de energia fósseis e grandes colaboradores dos danos ambientais.
Ambos estes movimentam a vida moderna. Da destilação fracionada do petróleo nas
refinarias produz-se a maioria dos combustíveis que alimentam os vários tipos
de motores (gasolina; diesel; querosene; gás natural; combustível de aviação;
gás óleo; bunker[1]
etc.), desse processo também resultam óleos lubrificantes minerais, graxos e
sintéticos utilizados nos motores e máquinas – das comuns às ultra-pesadas;
piche, betume ou asfalto que agregado a materiais adequados constitui a
pavimentação de ruas e estradas. Da separação dos componentes do petróleo
seguida de reações químicas na indústria se originam detergentes; plásticos;
tecidos; borrachas; essências para perfumes; tintas e corantes; medicamentos;
inseticidas; fertilizantes agrícolas; explosivos; colas, dentre outros.
Embora seu caráter poluidor, estas fontes de energia
são relativamente baratas e, até então, abundantes na natureza. Não obstante,
são finitas. Temendo, em futuro não muito distante, a completa escassez desses
recursos, tanto mais que seus efeitos negativos sob o meio-ambiente, cientistas
do mundo inteiro trabalham na concepção e desenvolvimento de fontes de energia
renováveis, ecologicamente corretas, sustentáveis e o mais importante:
economicamente atrativas. De tais pesquisas surgiram, por exemplo, os parques
eólicos, as usinas geotérmicas, dentre outras fontes de produção de energia
elétrica, bem como os biocombustíveis – tema central do presente objeto de
estudos.
***
Biocombustíveis
Os biocombustíveis são, essencialmente,
combustíveis de origem agrícola, não fóssil e renovável – fato pelo qual também
são denominados agrocombustíveis. Embora toda forma orgânica de vida seja capaz
de produzir alguma forma de energia – bioquímica – os biocombustíveis são
formados em laboratórios, de forma industrial, tendo em vista seu uso comercial
que demanda grande quantidade.
Existe também a biomassa, outra
forma de obtenção de energia, considerada renovável e não fóssil, que consiste
no reaproveitamento do lixo. Mas por que renovável? Simples: nossas sociedades
produzem, diariamente, toneladas de lixo, além do que, a biomassa compreende
também a decomposição natural de qualquer forma orgânica – sejam animais,
plantas, fezes, enfim qualquer elemento orgânico. Sabe-se que os lixões, mundo
a fora, emitem gases poluentes; dentre esses gases está, por exemplo, o metano,
que é combustível.
Através da biomassa é possível
obter, por exemplo, o biogás; para tanto, utiliza-se um biodigestor,
resumidamente um recipiente vedado onde estão os restos orgânicos; os
microrganismos responsáveis pela decomposição entram em ação, provocando a
decomposição anaeróbica[2],
liberando grande quantidade de gás que é canalizado. Existem também outros
quatro processos: (1º) pirólise[3]:
obtêm-se gás, carvão natural e óleos vegetais; (2º) gaseificação[4]:
produz apenas gás; (3º) combustão[5]:
obtêm-se vapor e gás, normalmente utilizado em caldeiras e para alimentar
turbinas a gás; (4º) co-combustão: atualmente o mais empregado, é a substituição
na queima, de parte do carvão mineral, em termelétricas, por biomassa.
O biodiesel é também insumo da
biomassa, obtido, porém, através de gorduras vegetais e animais – óleo de
cozinha (de girassol ou canola, etc.) e banha, por exemplo. Pode ser empregado
em detrimento do diesel de petróleo, e não possui em sua configuração a
presença de enxofre.
Já o bioetanol é produzido pela
síntese de amidos, sacarose e celulose, podendo também substituir parcial ou
completamente o etanol de petróleo, inclusive sendo agregado à gasolina; pode
ser utilizado na fabricação de perfumes, desodorantes e medicamentos etc.,
enfim, pode substituir amplamente o etanol convencional. Dentre as principais
matérias-primas do bioetanol, hoje, estão o arroz, o milho e a soja.
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Considerações
finais
À primeira percepção os
biocombustíveis parecem ser a solução perfeita aos mais irrequietos problemas
ambientais e econômicos atuais e futuros; baratos, renováveis, ecologicamente
adequados, virtualmente possibilitam – ou antes, aumentariam – a independência
dos Estados em relação à importação de combustíveis... Porém, há outros
aspectos que devem ser considerados.
Os biocombustíveis são favoráveis
economicamente a partir da perspectiva que todos os países os poderiam produzir,
além de que se pode controlar sua quantidade através do aumento ou diminuição
do plantio de matéria-prima, ou do uso de biomassa; diferentemente do petróleo
que é um recurso finito, localizado em depósitos submarinos, cujo processo de
extração, transporte, manuseio e uso ofertam constantes riscos à natureza, além
de ser incomum a todos os países e, pelo fato de estar cada vez mais raro, seu
preço elevar-se tanto mais.
A partir de uma perspectiva
ambiental o tema ainda é polêmico. Há argumentos de ambas as partes; os que
apoiam os biocombustíveis defendem que as plantas que os originam absorvem Co2
do ar e compensam a queima futura. Todavia, não existe nenhum estudo que
comprove essas alegações, além do que, se deve considerar também a emissão de
poluentes das máquinas colheitadeiras, do processo de fabricação de
biocombustíveis, dentro outros. Um suposto estudo realizado nos E.U.A., por
volta do ano de 2007, teria afirmado que na China o uso de bioetanol de milho
elevaria ao invés de reduzir os índices de poluição, até 2010.
As alegações desfavoráveis à
produção de biocombustíveis também se embasam sobre a premissa de que não há
como saber realmente seus benefícios e que, para plantar matéria-prima é
necessária terra, que poderia servir ao cultivo de gêneros alimentícios ou ao
abrigo de ecossistemas essenciais à vida.
A ONU (Organização das Nações
Unidas), em 2007, emitiu um relatório alertando para tais aspectos
ecologicamente contraditórios da produção de biocombustíveis. Um dos pontos
frisados foi o risco da predominância da monocultura. O Brasil, por exemplo,
possui regiões em que predomina o plantio de soja, em caso dos biocombustíveis,
especula-se que haveria um amplo predomínio da plantação de cana-de-açúcar,
remetendo o país a uma condição muito semelhante a colonial. Ademais,
representa um risco assentar a economia de um país sobre monoculturas, qualquer
imprevisto (queda do preço de exportação; aumento do valor de produção; pestes
ou pregas) desestabilizaria economicamente o Estado.
A redução na plantação de gêneros
alimentícios em detrimento da produção de matéria-prima à indústria bioquímica
geraria escassez de alimentos e aumento expressivo dos preços, intensificando
diversos problemas socioeconômicos, o que exigiria do governo adoção de alguma
medida nesse sentido. Em 2013 já se pode sentir aumento dos preços de alguns
gêneros alimentícios em função de fatores ecológicos climáticos; alguns gêneros
tiveram aumento de até +84,90% (farinha de mandioca); +37% (arroz); 37,74%
(feijão).
A grande preocupação da ONU e de
outras entidades é que o promissor mercado de biocombustíveis leve a uma
perniciosa “corrida do ouro”.
Farias, M.S. "O futuro da modernidade". Maio de 2013. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima.
Esta obra de Farias, M. S., foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com
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Referências
Souza, Joamir Roberto de. Novo olhar
matemática. 3º v. 1ª ed. São Paulo: FTD, 2010.
Gonçalves Filho, Aurélio. Física e
realidade: ensino médio física 3. São Paulo: Scipione, 2010.
Peruzzo, Francisco Miragaia. Química na
abordagem do cotidiano. 3º v. 4ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.
http://pt.scribd.com/doc/69975379/O-aumento-do-preco-dos-alimentos-crescimento-da-populacao-e-degradacao-ambiental
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Biocombust%C3%ADvel
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/combustiveis-madeira-ao-biocombustivel-435651.shtml
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http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,desmatar-para-plantar-biocombustivel-agrava-o-efeito-estufa,121167,0.htm
http://nagencia1.blogspot.com.br/2008/04/floresta-amaznica-vai-ser-devastada.html
1. Combustíveis
para veículos marítimos.
2. Microrganismos
anaeróbicos são aqueles capazes de viverem privados de ar ou oxigênio. A
decomposição anaeróbica a que se refere dá-se em ambiente com tais condições ou
com baixa presença de tais elementos.
3. Submete-se a
biomassa à queima em altas temperaturas em ambiente sem oxigênio.
4. Semelhante à
prévia, porém, as temperaturas empreendidas são menores.
5. Queima da
biomassa a temperaturas altíssimas, na presença de oxigênio.
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