domingo, 23 de junho de 2013

Quem dera fosse só pelos R$ 0,20...

1. Manifestar o sentimento de cidadania e patriotismo deveria ser um direito de cada cidadão, muito mais que uma obrigação. Nossa geração, denominada "geração Coca-Cola" nunca presenciou de fato crises políticas, econômicas e sociais como se acredita os jovens de 1964 protagonizaram; muitos dos que foram às ruas neste junho de 2013 talvez não tenham sido nem Caras Pintadas. Nascemos já em um tempo de lutas findas e vitórias logradas; em um tempo onde se prega que vivemos em democracia, em liberdade, numa igualdade... Todavia, algo que deveria ter acabado há 500 anos ainda se faz presente em nosso governo: os altos impostos, a ingerência do Estado e a corrupção.
2. Geográfica e culturalmente o Brasil é um país rico, diverso. Durante o colonialismo fomos a "ama dourada" de Portugal. Mesmo após nossa Independência e de nossa República proclamada prosseguimos pagando altos tributos para cada governo que passou pelo poder; crê-se que hoje paguemos mais de 50 tributos. A questão tributária afeta diretamente a questão do emprego, pois com as empresas, pequenas ou grandes, precisando pagar por quase, senão tudo o que fazem e produzem, é certo que precisarão elevar preços, reduzir o número de funcionários em função dos gastos com salários. Salários baixos, preços altos e pouco emprego à disposição somente pode gerar uma sociedade desequilibrada e com graves problemas sociais e - porque não dizer? - morais. Ayn Rand, em "A Revolta de Atlas" cria um universo onde o governo incompetente congela salários, estagna e controla a indústria, cria impostos desproporcionais e põe a sociedade em miséria caótica.
3. Isto nos leva à questão da ingerência do Estado. A arrecadação do governo em impostos não é pequena. Segundo o "Impostômetro", lançado em 2003 pela Associação Comercial de São Paulo, entre 01/01/2013 e 20/06/2013, o valor total de impostos pagos pelo brasileiro é de 733.376.990.117,48 reais. O governo, através da Receita Federal, diz investir em infraestrutura, transporte, educação, saúde, etc., contudo, o povo não vê grandes resultados. Não-raro as obras públicas são mal planejadas, caras demais e lentas, isto quando não resultam mal acabadas como a TransAmazônica. No SUS é comum ver hospitais sucateados e déficit de médicos que se recusam a trabalhar quer seja pelas condições de serviço ou pela má remuneração - e quem arca, em todos os sentidos, é povo. Com relação à educação, verdade seja dita, as universidades recebem verbas que não chegam a gastar totalmente, enquanto a educação básica pública sofre com escolas precárias, maus profissionais e, para os bons que ainda restam, remuneração que deixa a desejar. Enquanto isso, segundo estudo da Organização Transparência Brasil, de 2011, o Brasil possui os políticos mais caros do mundo: custam 11.545 reais por minuto; muitos destes parlamentares sem formação universitária e trabalhando menos de 10h/dia - isto sem considerar a quantidade exagerada de políticos em exercício.
4. Uma das coisas que Rand crítica na obra já citada é a falta de valores, de capacidades, o comércio do espírito. Um mau que parece assolar nosso Congresso há décadas feito uma maldição é justamente a corrupção: de "Privataria", dinheiro na cueca à "mensalão", etc. Como se já não bastasse todo o exposto, ainda há político que se apossa do que não é seu, que viaja à Europa à custa da fome, da doença, da violência e da ignorância de seu povo. Enriquecer pelo mérito, pelo suor do próprio corpo é algo poético, mas a conquista imerecida é nauseante. E essa corrupção respinga por setores inimagináveis: a mídia manipula as massas; no Congresso, qual como na selva, uns atacam os outros para se defenderem, quando não, calam-se para preservar suas "tocas de tatu", pois nunca se sabe quem sabe o quê e quando pode fazer tudo desmoronar. Aqueles que deveriam legislar pelo bem da Nação são os primeiros a infringir a Constituição não somente roubando, mas em outros aspectos como o desrespeito ao laicismo do Estado.
5. As manifestações da última semana não foram por R$ 0,20 meramente, isto foi o estopim. A revolta do povo foi contra a má administração do país. O que precisamos no Brasil, a priori, é que o povo entenda seu papel na política e os meios pelos quais lutar, pois apesar de belas e muito significativas, as manifestações em si não resolvem grandes problemas. Nossa política, não nosso sistema político, é que está viciada e necessitando urgentemente ser renovada, é preciso de novos políticos, de novas ideologias. Atualmente o governo cultua a necessidade, parece recompensar a necessidade quando na verdade deveria recompensar a capacidade. Ao invés de dar esmolas, de praticar a caridade que cada vez mais se afigura o contrário da justiça, dever-se-ia observar e incentivar qualidades. Precisa-se que o trabalho digno seja recompensado, é um crime pagar para trabalhar, ser punido pelas suas capacidades e prestigiado pelas necessidades. O trabalho, o salário deveria ser isento de tributos, que se cobre pelo consumo, por exemplo. Necessita-se neste país de uma reforma tributária, fiscal; se o Estado fosse bem administrado, com o que pagamos de impostos viveríamos em uma Nação com excelente qualidade de vida. A questão é que se pode fazer muito melhor e com menos. Precisamos de uma reforma moral positiva! 

Farias, M. S. "Quem dera fosse só pelos R$ 0,20...". Junho de 2013. http://livredialogo.blogspot.com.br/
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