O consumo de álcool está engessado no comportamento
humano por diversos fatores histórico-culturais. Quase todas as sociedades, por
mais afastadas que estivessem entre si, tanto geográfica quanto temporalmente,
desenvolveram alguma forma de ópio para facilitarem o enfrentamento de suas
frustrações ou regar suas celebrações.
Durante o Império romano, os imperadores e boa parte
da população, principalmente os que ocupavam lugar de destaque, consumiam
álcool amiúde, tanto ou mais que água. Em função disso, passagens épicas como a
de Nero pondo fogo em Roma, são hoje pensadas como uma consequência direta ou
indireta do excessivo consumo de álcool que, à época, continha um tóxico
empregado para a conservação da bebida, o qual produzia efeitos psico-neurológicos
consideráveis e permanentes; além disso, muitos dos vasilhames utilizados para
consumir ou armazenar vinho eram criados em materiais igualmente tóxicos, como
o chumbo.
Entretanto, hoje os tempos são outros e, de posse de
um vasto conhecimento científico, a sociedade remodelou os modos de produção e
consumo de bebidas, a pesar de mantê-lo, em diversos casos, tal como o faziam
os romanos.
Ainda hoje muitas pessoas com problemas de ordem
social, financeira, sentimental, etc., utilizam-se não somente da bebida, como
também de outras drogas, para se refugiarem da realidade. O álcool serve-lhes
como que um anestésico à dor das frustrações, dos medos; um sistema de polias
ao peso das responsabilidades inerentes ao ato de viver. Assim, tais indivíduos
vão afastando-se não apenas do enfrentamento dos fatos como também dos seus. Em
diversos casos, como exemplificado no livro de Andréa Ilha, o vício dos pais
compromete a saúde das relações familiares em um nível tão sério que os filhos
e mesmo outros membros da família passam a ser afetados.
Hoje, contudo, cada vez mais cedo os jovens
iniciam-se à vida “boêmia”, talvez por um efeito de pressão social, onde os que
fazem uso da bebida, dentre outros, são mais bem aceitos.
Além disso, há ainda a apologia midiática: comumente
veem-se propagandas de cervejarias onde o consumo do produto torna um
indivíduo, a princípio ignorado e desinteressante a certo grupo “popular”,
subitamente “descolado” e atraente – nisso entra também o apelo sexual, onde
belas modelos com pouca roupa são utilizadas como que o “prêmio” pelo consumo
da bebida.
Mas a verdade é que a coisa não é bem assim. Ademais
de causar grave dependência, o álcool conduz a enfermidades muitas vezes
irreversíveis, tal como a cirrose, sendo inclusive um dos principais
protagonistas de acidentes automobilísticos fatais, como no caso dos pais da
protagonista de “A menina que veio de longe”, Dulcinéa, cuja vida começavam por
ordenar.
Desta maneira, compreende-se que atualmente o
alcoolismo constitui-se um problema social que, apesar do reconhecimento, é
apoiado de certa maneira pela mídia, uma vez que seja uma fonte de lucro
bastante atrativa, sobretudo às cervejarias e às instituições por elas
financiadas. Parece, porquanto, um pouco intangível extirpar do étos social o
prazer pela bebida, sendo, por conseguinte, necessário por parte do Estado e
das próprias famílias conscientizar os jovens quanto ao uso do álcool e
empreender na ajuda àqueles que dele fizeram-se reféns.
Farias, M.S.: "Alcoolismo hoje". Dezembro de 2013.
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