- Hoje, enquanto me distraía pelas publicações de amigos, em minha conta pessoal no Facebook, eu me deparei com o texto que segue, supostamente escrito por uma médica brasileira. Digo supostamente por que não consegui "rastreá-lo" até a origem. Mas seja como for, quem o escreveu fê-lo com tanta sinceridade que me comoveu, de verdade. Dessa forma, mesmo sem conseguir entrar em contato com a autora referenciada e pedir-lhe permissão, eu o resolvi publicar aqui. Vale a pena lê-lo até o fim. Não é um escrito contentor de conteúdo político ou no qual se faça qualquer tipo de crítica partidária - absolutamente! Trata-se do mais sincero externar de "desabafo" do que parece ser um boa profissional.
- Farias, M.S.
O desabafo de uma médica brasileira.
"Dilma, deixa eu
te falar uma coisa!
“Sou Fernanda Melo,
médica, moradora e trabalhadora de Cabo Frio, cidade da baixada litorânea do
estado do Rio de Janeiro.
“Este ano completo 7
anos de formada pela Universidade Federal Fluminense e desde então, por opção
de vida, trabalho no interior. Inclusive hoje, não moro mais num grande centro.
Já trabalhei em cada canto...
“Você não sabe o que
eu já vi e vivi, não só como médica, mas como cidadã brasileira. Já tive que
comprar remédio com meu dinheiro, porque a mãe da criança só tinha R$ 2,00 para
comprar o pão.
“Por que comprei?
“Porque não tinha vaga
no hospital para internar e eu já tinha usado todos os espaços possíveis
(inclusive do corredor!) para internar os mais graves.
“Você sabe o que é
puxadinho?
“Agora, já viu dentro
de enfermaria? Pois é, eu já vi. E muitos. Sabe o que é mãe e filho dormirem na
mesma maca porque simplesmente não havia espaço para sequer uma cadeira?
“Já viu macas tão
grudadas, mas tão grudadas, que na hora da visita médica era necessário chamar
um por um para o consultório porque era impossível transitar na enfermaria?
“Já trabalhei num
local em que tive que autorizar que o familiar trouxesse comida ( não tinha,
ora bolas!) e já trabalhei em outro que lotava na hora do lanche (diga-se
refresco ralo com biscoito de péssima qualidade) que era distribuído aos que
aguardavam na recepção.
“Já esperei 12 horas
por um simples hemograma. Já perdi o paciente antes de conseguir um mera
ultrassonografia. Já vi luva descartável ser reciclada. Já deixei de conseguir
vaga em UTI pra doente grave porque eu não tinha um exame complementar que
justificasse o pedido.
“Já fui ambuzando um
prematuro de 1Kg (que óbvio, a mãe não tinha feito pré natal!) por 40 Km para
vê-lo morrer na porta do hospital sem poder fazer nada. A ambulância não tinha
nada...
“Tem mais, calma! Já
tive que escolher direta ou indiretamente quem deveria viver. E morrer...
“Já ouvi muito
desaforo de paciente, revoltando com tanto descaso e que na hora da raiva,
desconta no médico, como eu, como meus colegas, na enfermeira, na
recepcionista, no segurança, mas nunca em você.
“Já ouviu alguém dizer
na tua cara: meu filho vai morrer e a culpa é tua? Não, né? E a culpa nem era
minha, mas era tua, talvez. Ou do teu antecessor. Ou do antecessor dele...
“Já vi gente morrer!
Óbvio, médico sempre vê gente morrendo, mas de apendicite, porque não tinha
centro cirúrgico no lugar, nem ambulância pra transferir, nem vaga em outro
hospital?
“Agonizando, de
insuficiência respiratória, porque não tinha laringoscópio, não tinha tubo, não
tinha respirador?
“De sepse, porque não
tinha antibiótico, não tinha isolamento, não tinha UTI?
“A gente é preparado
pra ver gente morrer, mas não nessas condições.
“Ah Dilma, você não
sabe mesmo o que eu já vi! Mas deixa eu te falar uma coisa: trazer médico de
Cuba, de Marte ou de qualquer outro lugar, não vai resolver nada!
“E você sabe bem
disso.
“Só está tentado
enrolar a gente com essa conversa fiada. É tanto descaso, tanta carência, tanto
despreparo...
“As pessoas adoecem
pela fome, pela sede, pela falta de saneamento e educação e quando procuram os
hospitais, despejam em nós todas as suas frustrações, medos, incertezas...
“Mas às vezes eu não
tenho luva e fio pra fazer uma sutura, o que dirá uma resposta para todo o seu
sofrimento!
“O problema do
interior não é falta de médico. É falta de estrutura, de interesse, de vergonha
na cara. Na tua cara e dessa corja que te acompanha!
Não é só salário que a
gente reivindica. Eu não quero ganhar muito num lugar que tenha que fingir que
faço medicina. E acho que a maioria dos médicos brasileiros também não.
“Quer um conselho?
“Pare de falar
besteira em rede nacional e admita: já deu pra vocês!
“Eu sei que na hora do
desespero, a gente apela, mas vamos combinar, você abusou!
“Se você não sabe ser
"presidenta", desculpe-me, mas eu sei ser médica, mas por conta da
incompetência de vocês, não estou conseguindo exercer minha função com louvor!
“Não sei se isso vai
chegar até você, mas já valeu pelo desabafo!".
Fernanda Melo.
Imagem extraída do "Google Imagens" e acrescentada à postagem pelo Diálogo Livre. |
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