sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Como seriam as filosofias de vida de um bandido, de um herói, de um santo?

Primeiro: eu não acredito que alguém nasça com a pretensão de ser bandido, herói ou santo. As pessoas são o que são em virtude das circunstâncias e da força de seu caráter. Como eu disse na postagem "Questões de Filosofia", há quem seja bandido pelas circunstâncias (por exemplo, um miserável que se vê obrigado a furtar para que seu filho ou ele mesmo não morra de inanição, embora se envergonhe de agir assim, odiando sua ação – um sentimento demasiado elevado da alma humana, racional e ideológico); mas há também os fracos de espírito que frente ao primeiro obstáculo desistem e optam pelo mais sujo e fácil caminho: roubam por que querem, não porque necessitam; são trastes, pessoas inúteis e sem valor. Um herói o é porque agiu destemidamente quando todos os outros se acobardaram, desistiram. Não lembro agora de dados específicos, mas li certa vez em “Colunas do Caráter”, de Júlio Schwantes, a história de um navio que acabou batendo em umas pedras que lhe perfuraram o casco, durante uma tempestade. Das centenas de pessoas que se reuniu na margem, na manhã seguinte, nenhuma se animava a ajudar os membros da tripulação, cerca de 170 pessoas, que se encontrava em situação grave. Todos diziam ser impossível salvá-los, não havia como outro barco chegar lá sem se estraçalhar, lançar cordas era impossível, e nenhum homem em sã consciência, por melhor nadador que fosse se lançaria naquelas águas ferozes. Eis que, um jovem estudante, senão me falha a memória, universitário vê a situação e decide fazer algo. Os demais riem dele, dizem-no louco, suicida, mas ele estava convicto de fazer algo. Amarrou uma corda à sua cintura, conseguiu que alguns lhe dessem apoio, segurando a corda na margem, o jovem então se joga na água fria e agitada até o navio. Foi um esforço homérico lutar contra as forças da água, mas chegou até o navio, abraçou um membro da tripulação e se jogou de novo à água para serem puxados de volta à terra firme. Repetiu o esforço enquanto pode, até que, sem forças, desfaleceu na praia. Algumas semanas depois, quando recobrou a consciência no hospital, sua primeira pergunta era se tinha conseguido salvar todos. Infelizmente não, mas salvara cerca de 50% da tripulação. Virou herói, saiu em todos os jornais. Qual foi sua filosofia? Simplesmente decidiu que podia e iria ajudar. Arriscou a vida por um ideal: socorrer. Virou herói não porque o quis, mas por causa das circunstâncias e de sua determinação. Já o santo é uma figura mais complicada. Alguns santos possuem em suas biografias um passado bastante devasso, todavia, em algum momento de suas vidas se converteram e viveram fiéis às leis de Cristo, sem jamais as abandonarem – praticaram a humildade, a pobreza, a fraternidade, a caridade, etc.
Se ainda não é bastante claro, vou tentar simplificar. Um ladrão, quando o é por escolha, é um derrotista, alguém incapaz de lutar, de encarar a vida, escolhe o caminho mais fácil, vive à custa da luta alheia. O herói é aquele que simplesmente decide fazer o que ninguém mais tem ou teve coragem para fazer em relação ao bem de outrem; é um indivíduo destemido, que age em nome de determinados valores e de sua consciência. O santo é semelhante ao herói, à diferença é que todos podem ser santos sem arriscar-se; santo é aquele que vive de acordo a um conjunto de preceitos sem fugir dele em momento algum, nem mesmo quando o seja favorável. O que o herói e o santo têm em comum é que ambos abnegam-se em favor do próximo necessitado, ambos vivem fiéis às suas consciências e aos seus valores, sem jamais deixarem-se demover ou acobardar, ainda que isto signifique a morte. Eles têm o que nós chamamos de dignidade.

Farias, M. S. "Como seriam as filosofias de vida de bandido, de um herói, de um santo?". Setembro de 2013. www.livredialogo.blogspot.com
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