Fernando Pessoa, cidadão português, viveu de 1888 a 1935, e é um dos maiores poetas do mundo. Notabilizou-se por incorporar personagens escritores com marcas pessoais próprias como Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. A densidade de seus escritos o conduziu ao status comparável a Luís de Camões.
Helena tem três anos de idade. Filha de Milene e de Tiago, reside com sua família ao sul do Rio Grande do Sul. Aos fins-de-semana, a menina tem a possibilidade de passear no pequeno sítio de seus tios, próximo à cidade. Ali observa cabritos, bodes, ovelhas, vacas, gatos, cães. Não esconde sua admiração pelos felinos adotados por mim e por Silvia, especialmente Tigreza e Sivuca.
O interessante é que assim como Fernando Pessoa, Helena criou heterônimos com o diferencial de que todos são animais. Há momentos, por exemplo, em que ela personifica um bode e faz o relato sobre o que comeu, se sofreu maus tratos, etc. Em outros, é uma gata e insiste para ser tratada como tal, inclusive anda de quatro pela casa, muito convicta do papel que assume.
Hoje, por exemplo, enquanto eu e Silvia visitávamos sua avó e nossa tia – Leda D'Ávila Lima – Helena interpretava um carneiro e dizia para nós, no teatro da sala em que chimarreávamos:
- "Eu sou carneiro. Não gosto de ração, só como pasto e milho."
Segundo o artigo "uma leitura sócio-histórica da imitação no processo de ensino e aprendizagem" (FERNANDES1, Vera Lúcia Penzo – UFMS – verapenzo@yahoo.com.br - GE: Educação e Arte / n.01Agência Financiadora: CAPES) disponível em (acesso em 05 de maio de 2012):
Vigotski não descarta a possibilidade de que existam momentos em que a imitação se torne meramente um fazer mecânico, mas procura expandir este sentido restrito para um sentido amplo, onde a imitação é a base sobre a qual ocorre a apropriação do conhecimento e o desenvolvimento do ser humano, isto se for compreendida na perspectiva sócio-histórica, com uma atividade humana carregada de intencionalidade e de elaboração intelectual. Existindo, então uma unidade dialética entre a imitação mecânica e a imitação intelectual. Vigotski trata da imitação em distintos momentos de sua obra.
Chega a ser emocionante a percepção que Helena tem dos animais que observa. Sobre uma gata que adotamos - a qual tem uma perna quebrada e teve um olho perfurado – ela pediu à Silvia:
- Amanhã, tu bota um olhinho nela?
Em tal pergunta parece residir um dos substantivos abstratos mais belos: a compaixão - que alavanca a ação da solidariedade e que, por isso, torna nossos dias plenos de esperança em tempos melhores. Por isso, Helena é tão adorável: suas atitudes ultrapassam o universo das bonecas mecânicas que falam, choram e andam, maquinalmente, para contemplar e interpretar a concretude do que vive e pulsa na ânsia de viver com dignidade.
É com essa percepção acerca do mundo à sua volta, que esperamos que Helena seja um ser humano sensível aos sentimentos dos outros - não só das pessoas mas de todos os seres animais que sentem dor, frio, sede, medo, angústia, e que dividem conosco este mundo que só é fascinante pela sua diversidade.
Farias, Juarez Machado de. "Helena e Pessoa: heteronômios de gente e bicho". Maio de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
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