3.
Dizem que a dor é ótima aliada para decisões certas e é mesmo verdade... Antônio adentrou o altar com os olhos dissimulados mais famosos da região. Fazia algum tempo que não o via e pude perceber que sua nova “dona” havia dado um jeito no modo bagunçado dele ( de corpo e alma)!
Sentei-me nas últimas fileiras, pois por mais descarada que fosse não me permitiria estragar o sonho de alguém; pelo menos não naquele instante... O suspense aconteceu quando Antônio veio em minha direção depois de ver-me. Eu sorri, mas sua expressão era impenetrável. Logo eu, que decifrei seus segredos por tantos anos não consegui desvendar suas feições tão minhas conhecidas. Levantei-me, pronta para escutar um pedido de retirada com muita educação, mas o de sempre aconteceu, Antônio surpreendeu-me num abraço desesperado por socorro. Nós gargalhamos e ninguém entendeu o porquê.; convidou-me para sentar e conversar. Sorri com desdém e neguei o pedido. Abraçou-me de novo e então implorou num sussurro quase inaudível:
“- Não deixe-me dizer sim!”
O aperto no meu coração ficou suspenso entre a pena, seguida, de euforia. Eu estava certa mais uma vez!
“- Este é teu destino meu bem...”.
O desespero no seu olhar tomou lhe o rosto inteiro. Antônio era uma afetação de dor! Apressei o diálogo para um breve beijo em sua face e afastei-me. O que menos queria naquele momento era que fofocas chegassem aos ouvidos da noiva...
Meu antigo amor ficou feito estátua antes de ser carregado para seu devido lugar. O ar começava a me faltar e as dúvidas transbordavam novamente. Finquei um dedo no outro até quase gritar de dor. Eu tinha um propósito e não desistiria de cumpri-lo. Fui até a rua e enchi os pulmões de ar tanto quanto pude. Logo o casamento começaria e não haveria mais tempo para medo, dúvidas e muito menos euforia. Digo que a suprema felicidade veio da cena que passou-se com Antônio. Nada poderia tirar-me o contentamento de vê-lo descomposto e sem reação, depois que, só havia o medo de descobrir que ainda amava-o e com isto não precisava mais me preocupar. A artimanha de chegar mais cedo para ser vista havia dado certo. Claro que na cabeça de todos só o fiz para desconcertar o noivo e fazer com que largasse tudo, mas para mim era apenas confirmação. Não podia seguir com o plano sem ter a certeza que o noivo não mexia mais com meu coração!
Até que estivesse certa que o casamento começaria decidi que ficaria na rua. Acendi um cigarro, coisa que não fazia desde que decidira deixar do vício. A “conversa” com Antônio havia me deixado, como dizer... Atordoada! Ou digamos, menos que isso, o sentimento na verdade era: Preocupação. E nada mais que isso... Meu medo era que o casamento terminasse antes de um “Feliz Para Sempre”, quem sabe terminasse antes mesmo do ‘aceito’, o que não era comum e causaria um final no mínimo trágico nesta história toda.
Então, como que saído da luz que emanava de todos os lados (e quem sabe se não foi das trevas?), o desconhecido apareceu e dirigiu-se a mim diretamente. Fiquei branca, verde, rosa... Já não era Madalena e sim um arco-íris em carne e osso!
- Olá Madalena, flor de meus encantos... O que fazes na rua? Venhas, serei teu acompanhante esta noite! Ofereceu o braço como exímio cavalheiro que parecia ser, mas me guiou com uma força e determinação de mãe que segura o filho pelas orelhas...
Farias, Maikele. "Olhos negros Desconcertantes... - Parte 3". Maio, 2012.
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Nossa!!
ResponderExcluirPobre Madalena...
Aguardo a continuação desse drama. Mais uma vez, parabéns!!
Um abraço!!