quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Chorei…

Eu estava chorando?
Não, não estava.

Foi apenas uma lágrima
Que não soube seu lugar
Escorregou devagar
E eu não pude impedir.

Eu não estava chorando,
Foi só um cisco em meu olho
Que me fez lacrimejar
Foi só uma lágrima que não pude segurar…

Eu não estava chorando!
Não vês que estou a sorrir?
Eu não confessarei jamais que um dia eu chorei por ti…



Kah Moreira: "Chorei...". Fevereiro de 2014.
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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Menino Peregrino

Vivendo sem viver realmente
Olhando sem olhar de verdade
Caminhando a esmo - vagando
Em busca de felicidade...

É assim que te vejo
Viajante sem rumo
Alguém sem direção
Caminhante sem prumo…

Passando pelos lugares- sem olhar
Falando sozinho- sem se entender
Passando por quem te ama- sem notar
Fazendo outros sofrer- sem perceber…

Peregrinando- em uma vida solitária
Abrigado pela vida- amante
A procura do que está na tua frente
Vai seguindo o caminho errante.

Olhando sem ver, 
Tocando sem sentir,
Gostando sem amar,
Vivendo sem existir.

 Menino Peregrino 
Tem vida, mas não tem destino.
Tem coração, mas não ama.
Tem saudade, mas não entende.
Tem emoção, mas não a sente. 

Kah Moreira: "Menino Peregrino". Fevereiro de 2014.
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Menina; mulher.

Menina, jovem sonhadora,
Que lê romances então,
Que sonha com um lindo amor,
Mas tem medo de ferir o coração.

Jovem menina sente falta
De algo que não sabe o que é
Algo que falta para completar
Seus anseios de mulher…

Menina que já sofreu desilusões,
Mulher pronta para o amor,
Que guarda para si os sonhos,
Por temer a dor.

No peito trás consigo
Ilusões a tanto esquecidas,
Sonhos desperdiçados
E emoções nunca vividas.

O que o futuro reserva
Para estas jovens meninas?
Serão saciados os sonhos?
Quais serão suas sinas?


Kah Moreira: "Menina; mulher". Fevereiro de 2014.
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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Passos no escuro

Porque nem tudo que aprendi facilita
Esses passos que sem rumo eu dou
Esses passos em meio à escuridão
Esses passos buscando descobrir quem sou…

Perdida entre o mar e o céu
Confusa entre o sim e o não
Tentando entender o que se passa em mim
Procurando respostas em meu coração.

Inexplicável é o que sinto agora
Inabalável minha força de vontade
Que me faz insistir sempre
Encontrando em mim, a verdade.

Verdade do que quero, realmente.
Verdade que me faz seguir
Que faz insistir
Que me faz ser
Que me leva a viver

As respostas estão em mim
No fundo do meu ser
As respostas que um dia acharei
As respostas que me ajudarão a crescer.


Kah Moreira: "Passos no escuro". Fevereiro de 2014.
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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O politicamente correto e o mundo de ilusões.

Há certas manifestações que me deixam bastante "consternado", para não dizer irritado. Uma delas é o atentado cultural promovido por alguns educadores e sociólogos/ativistas preguiçosos em relação às obras culturais brasileiras: as canções de roda de Villa-Lobos estão sendo reformuladas à óptica do "politicamente correto" por que, no entender dessas pessoas, as letras como "Atirei o pau no gato", "O cravo brigou com a rosa", "samba Lelê" e até mesmo obras literárias de Monteiro Lobado, são influenciadoras de algum tipo "preconceito". Mas isso, sejamos francos, ou é pura preguiça ou é falta de conhecimento.

Ou preguiça de explicar às crianças que essas cantigas foram compostas por um compositor e maestro brasileiro, o primeiro - e que me ocorra o único - a compor música erudita brasileira com base nos elementos culturais indígenas, africanos, portugueses, enfim da miscelânea cultural que é Brasil e que sua obra além de uma admirável expressão da cultura deste país, no que diz respeito às cantigas de roda, tem muito a ver com os costumes de sua época - que certamente mudaram muito de lá pra cá. O mesmo vale para Lobato, que retrata certa personagem com elementos hoje considerados racistas. A preguiça de explicar o contexto sócio-histórico de produção dessas obras, de analisá-las e tecer alguma forma de paralelo com os dias de hoje, afim de melhor contemplar o panorama histórico-cultural do Brasil e formar cidadãos que conheçam suas raízes nacionais, sua cultura, seu povo e capazes de melhor se relacionarem com as adversidades, com questões mais adiante polêmicas e complexas, tal como a desigualdade social, a violência, discriminação, etc. Ou então não conhecem esses aspectos e intentam essas modificações ridículas que falseiam a realidade, confundem o indivíduo e embotam sua capacidade de analisar e integrar-se à sociedade em que vive.

Particularmente, eu sempre entendo que professor e educador não é a mesma coisa: professores apontam a direção, dão instrução, fornecem ou ensinam como construir as ferramentas necessárias ao desenvolvimento do aluno, tiram dúvidas, mas fazem pensar, exigem um posicionamento do próprio aluno; confrontam-no. Já o educador diz o que é certo e errado, direciona segundo alguma ideologia e não faz questão de confrontar o educando ou de fazê-lo refletir sobre a questão. Vejamos a história das marcas de batom no banheiro: o educador, representado pelo faxineiro, não fez com que as meninas parassem de beijar o espelho por compreenderem que isso é errado por dificultar a vida dos funcionários da manutenção e sujar algo que é de uso comunitário, enfim, sendo algo ética e moralmente incorreto. Ele simplesmente as fez parar por que limpou o vidro com água da privada, então elas não beijariam mais o espelho por que isso é anti-higiênico e não as convém, tão-somente. O que significa que se o vidro for outro, limpo não com água da privada, elas tornaram a sujá-lo com batom. Mas o problema verdadeiro é que não deveria haver diferença entre professor e educador, já que os termos, em boa parte dos dicionários, são sinônimos. Neste caso das marcas de batom, educar está se baseando na pior das suas acepções: adestrar! O verdadeiro ato de ensinar consiste em "Oferecer a alguém o necessário para que esta pessoa consiga desenvolver plenamente a sua personalidade. Propagar ou transmitir conhecimento (instrução) a; oferecer ensino (educação) a; instruir¹”.


O preço desta distinção entre "professor" e "educador" e deste recorrente intuito de adestramento ao invés de "dar asas ao voo" é uma sociedade que desconhece suas origens e vive à sombra de uma ilusão que lhe impede de crescer. Ora, é preciso que haja a capacidade de questionar, mas também a de compreender. De renovar-se e de recordar. Não deveria prevalecer o medo de refutar por que tal coisa foi dita por alguém de posição supina, e sim o encorajamento de pesquisar, de pensar e embasar suas conclusões e demonstrar mais um ângulo da questão e levá-lo à discussão. É preciso coragem e autonomia no pensar. E, parece-me que, sem compreendermos nosso passado, não podemos entender o presente, tampouco mudar o futuro.

Farias, M.S.: "O politicamente correto e o mundo de ilusões". Fevereiro de 2013.
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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

"Você é o que você lê". Não, não é!

 "Você é o que você lê". Li a Constituição, então sou Juiz? Ah, francamente, que apotegma mais estúpido! Como se o espirito humano fosse algo tão simplório e estreito. Além do que, um livro é ruim segundo qual parâmetro, o de quem profere essa idiotice? "Santa" arrogância! Lê-se por lazer, por aprendizagem... A leitura, seja qual for, serve para ampliar horizontes, levantar questões, suscitar novas formas de olhar o mesmo fato. Ninguém se torna o que lê, mas muda por refletir segundo o que leu, por compará-lo a outros e depreender disso alguma nova concepção. "Você é o que você lê" é mais um pseudo-argumento "intelectualóide" para intimidar e coagir outros às suas ideologias. Segundo qual parâmetro um livro é condenado bom ou ruim?

Li "A menina que veio de longe" e detestei. Achei um dos livros mais cansativos e prolixos que já li. A critica que tece é pouco aprofundada e foi um esforço homérico produzir sobre esse livro, tanto que foi necessário usá-lo apenas como fonte do tema e nada mais - para embasamento e reflexão eu empreguei outros escritos e encaixei "a martelo" os fragmentos do tal livro nos trabalhos que tive de fazer - e que, na minha opinião, ficaram uma bosta. Mas ainda que eu não goste desse livro; há quem goste. Há quem tenha se identificado com "A menina que veio de longe" e se inspirado no livro, mesmo até para iniciar sua vida leitora. O fato de eu não gostar ou não ter conseguido entender e/ou refletir sobre os temas ali tratados segundo o prisma da autora, não me dá o direito de dizer que quem lê o livro tem mau-gosto e é prolixo. O livro, seja como for, tem seu valor - que é relativo segundo cada leitor.

Essa história de condenar um livro sendo "bom" ou "mau" e o leitor como um produto dele, é uma insanidade que já vimos há alguns séculos na Idade Média e sua maior expressão chama-se "Index Librorum Prohibitorum".

Cada um tem o direito de emitir um juízo sobre o que lê, sobre o que assiste, até sobre o que come, mas não tem o direito de empurrar suas "verdades" gorja à baixo no demais. Achas que alguém fez mal em ler um livro que tu não gostaste? Então chame para um diálogo e exponha as premissas que te incomodam e os argumentos dela provenientes e escute os argumentos e as premissas alheias. Eu sempre digo: a verdade é como uma fotografia: mostra apenas um ângulo da paisagem - o do fotógrafo!

Tu és o produto das tuas convicções, das tuas ideologias e das tuas ações.

"Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos." (Eduardo Galeano).

Farias, M.S.: "Você é o que você lê". Não, não é!". Fevereiro de 2014.
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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Eufemismos destrutivos nas organizações

Texto de Roberto Funck¹.

"Encorajado pelo brilhante texto de Luiz Antonio Simas, atrevo-me a trazer o mesmo tema tratado por ele para dentro das organizações. Ah, sim. Não é só nas escolas que a insanidade do politicamente correto se alastra. O mesmo ocorre nas organizações onde, desde algum tempo, várias denominações estão sendo substituídas por outras, também sob a égide do “politicamente correto”, mas que não passam de meros eufemismos, com efeitos que podem ser devastadores no longo prazo.

"Podemos começar com “empregado”, hoje um termo pejorativo em muitas organizações. As pessoas que trabalham em organizações hoje são associados, colaboradores ou qualquer outra coisa do tipo. Ora, o artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho considera empregado “toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.” Ou seja, do ponto de vista legal, todo aquele que presta serviços com tais características é um empregado. Ponto. O uso dos eufemismos deriva do falso entendimento de que os empregados sentir-se-ão mais valorizados se forem tratados por associados ou colaboradores, etc. Falso entendimento porque isso é uma ilusão que dura até o momento em que o colaborador, valendo-se da Legislação Trabalhista, recorre ao Judiciário para reclamar seus direitos como empregado. Aí ele deixa de ser colaborador para ser o empregado que sempre foi. Por outro lado, especialmente aqueles que acompanham um pouco mais de perto o desempenho da economia, já ouviram falar, alguma vez de nível de “dessociação” ou de nível de “descolaboração”? Não, o que encontramos são estatísticas sobre o nível de “desemprego”. E o que procuramos quando estamos “desempregados”? Um emprego, naturalmente. E até etimologicamente, empregado “é aquele que exerce emprego ou função, funcionário” (Aurélio). Nada de errado com o termo.
Podemos seguir com “chefe”. Bem, chefe quem tem é índio! Equipes organizacionais têm “líderes”! Como se uma pessoa pudesse transformar-se em líder por uma portaria ou nomeação oficial.

"Esquecem os gestores das empresas as sábias palavras do maior dos gurus da Administração, Peter Drücker: “Líder é quem tem seguidores”. Algo como dizer que professor é quem tem alunos, mestre é quem tem discípulos. Ninguém tem seguidores por decreto. Os seguidores surgem pela postura, pelos ideais, pelo exemplo. Independentemente disso, toda organização necessita um certo grau de organização e controle, ou transforma-se em um caos. E é por isso que existem diferenças hierárquicas nas organizações. “Chefe” soa mal? Tudo bem: use-se “coordenador”. Os líderes, aqueles que tem seguidores, surgirão sozinhos, de maneira informal, como aliás, surgiu o termo na literatura da Administração.

"Apenas para não deixar o texto muito longo, finalizemos com “Gestão de Pessoas”. Lindo, mas não saberia dizer o que é mais forte na expressão: a ingenuidade ou hipocrisia. Por que ingenuidade? Porque tradicionalmente o departamento com esse nome chamava-se “Administração de Recursos Humanos”. Coisa horrível ser tratado como recurso! Mas, pensem bem: quando você aceita um emprego, o que é que está vendendo ao empregador? Sua capacidade de produzir alguma coisa ou você mesmo? Parece óbvio que o que vendemos é nossa capacidade de produzir algo: o nosso trabalho. E o trabalho, seja ele braçal ou intelectual é um recurso, um recurso humano. Uma pessoa é muito mais do que sua capacidade de produzir trabalho. É aí que entra a questão da ingenuidade e da hipocrisia. Ingenuidade, quando não se consegue distinguir o que está sendo vendido ou comprado. Hipocrisia, quando se utiliza uma expressão que, aparentemente, e apenas aparentemente, é mais politicamente correta e também apenas aparentemente mais motivadora, com a finalidade de gerir a pessoa, integralmente, e não apenas a sua capacidade de produzir trabalho.

"No longo prazo, a utilização desses termos normalmente é devastadora. Por um simples motivo: quando assinamos um contrato de emprego, estamos assumindo não um, mas dois contratos. O primeiro é o contrato formal, aquele regido pela Legislação Trabalhista e normalmente explícito. O segundo é implícito e inclui as expectativas psicológicas mútuas entre as duas partes contratantes. Nesse caso, é indiferente o que contenha o contrato formal. O contrato psicológico é feito de expectativas, que podem ser reais ou não, criadas pela outra parte ou não. Agora, vejam que tipo de expectativas psicológicas pode gerar uma empresa que tenha um Departamento de Gestão de Pessoas, os coordenadores sejam denominados líderes e os empregados, colaboradores. Assim que o funcionário percebe que ele está sendo tratado como um recurso ou, o que é pior, que a empresa está tentando gerenciar sua pessoa; que ele não é um colaborador, mas um empregado e que existem chefes ou coordenadores, mas não líderes, ocorre o que se chama “quebra do contrato psicológico”. Muito pior que a dissolução de um contrato formal, a quebra do contrato psicológico gera um sentimento de frustração, de descrença na organização e de revolta no empregado, que ele passa a ser um inimigo da organização. E, no entanto, como o contrato formal não foi desfeito, ele continua na organização.

"Sob esse lógica, não é muito difícil entender porque tantos empregados, em tantas empresas, produzem tão pouco e esperam tão ansiosamente pela chegada da tarde de sexta-feira."

1. Roberto Funck é Diretor do Centro de Docência On-line Independente - CEDOI. Bacharel em Administração pela  Universidade Católica de Pelotas - UCPel. Mestre em Direção e Administração de Empresas pela Escuela Superior de Administración y Dirección de Empresas - ESADE. Doutor em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRS. Participou, em 2012, como um dos Conferencionistas Magnos do "III Congreso Internacional EDUTIC - Peru 2012: ‘El impacto de las tecnologias en la educación’" e, em 2013, do Congreso Virtual Mundial de e-Learning.

O Diálogo Livre. é um espaço aberto à conversação e ao debate. Todo tipo de resposta às nossas publicações é bem-vindo e igualmente publicado, desde que de acordo às nossas políticas de relacionamento. Apreciamos muito a interação de nossos leitores e visitantes - obrigado, Roberto, pela sua bem-vinda contribuição!

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O Cravo não brigou com a rosa.

Texto de Luiz Antônio Simas¹

"Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

"Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

"É Villa Lobos, cacete!

"Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

"Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

"Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

[...]

"Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. [...]

"Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

"Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

[...]

"[...] me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

"Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto."

1. Luiz Antonio Simas nasceu no dia de finados de 1967 e é Império Serrano.É mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio. É considerado um dos profissionais mais importantes do Rio de Janeiro em sua área de atuação. Publicou em parceria com o caricaturista Cássio Loredano, o livro O vidente míope, sobre o desenhista carioca J. Carlos, indicado pela Revista de História da Biblioteca Nacional como uma das publicações mais relevantes da área no ano de 2007. Desenvolve pesquisas sobre a cultura popular carioca, mais especificamente nos campos do futebol e da música popular. Foi o responsável pela pesquisa da exposição Todas as Copas, evento realizado no Brasil e nos Estados Unidos durante a Copa do Mundo de 1994. Seu trabalho foi considerado pela FIFA como um dos mais completos levantamentos já realizados sobre a história dos mundiais de futebol. É atualmente consultor da área de carnaval do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

- O Diálogo Livre comunica que recebeu este texto através de correio eletrônico, destarde não se responsabiliza por eventuais incompatibilidades de dados. 

O clima

Onde passa deixa marcas e lágrimas em muitos olhares de graça;
Devasta cidades inteiras sem deixar nada por onde passa.

Arrasta o que vem pela frente, obrigando todos a sair,
Quem enfrenta ou fica em seu caminho acaba por se ferir.

Ameaça acabar com toda a existência,
Nem todos percebem, mas isso é uma consequência.

Ninguém quer saber de fazer a sua parte,
E depois lamentam porque acaba em morte.

Tempestades, furacões, ciclones, erupções; 
Ventanias, enxurradas, alagamentos nas estradas…

Soe a sirene! Soe a corneta!
O clima está se vingando de quem não cuida bem do planeta!


Kah Moreira: "O clima". Fevereiro de 2014.
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