terça-feira, 30 de outubro de 2012

Happy Halloween

Em comemoração ao Halloween, pesquisamos um pouco acerca da origem da comemoração, encontramos diversos materiais, muitos destes divergentes em níveis distintos, não havendo como compor algo cujo conteúdo fosse 100% confiável, resolveu-se publicar um texto recebido há anos por e-mail, que explica a origem Celta do Halloween, a interferência do cristianismo e o surgimento do "Dia de Todos os Santos". A todos boa leitura e divirtam-se nas comemorações!
 ***
A origem do Halloween remonta às tradições dos povos que habitaram a Gália e as ilhas da Grã-Bretanha entre os anos 600 a.C. e 800 d.C., embora com marcadas diferenças em relação às atuais abóboras ou da famosa frase "Gostosuras ou travessuras", exportada pelos Estados Unidos, que popularizaram a comemoração. Originalmente, o Halloween não tinha relação com bruxas. Era um festival do calendário celta da Irlanda, o festival de Samhain, celebrado entre 30 de Outubro e 02 de Novembro e marcava o fim do verão (samhain significa literalmente "fim do verão").
A celebração do Halloween tem duas origens que no transcurso da História foram se misturando:

Origem Pagã
A origem pagã tem a ver com a celebração celta chamada Samhain, que tinha como objetivo dar culto aos mortos. A invasão das Ilhas Britânicas pelos Romanos (46 a.C.) acabou mesclando a cultura latina com a celta, sendo que esta última acabou minguando com o tempo. Em fins do século II, com a evangelização desses territórios, a religião dos celtas, chamada druidismo, já tinha desaparecido na maioria das comunidades. Pouco se sabe sobre a religião dos druidas, pois não se escreveu nada sobre ela: tudo era transmitido oralmente de geração para geração. Sabe-se que as festividades do Samhain eram celebradas muito possivelmente entre os dias 5 e 7 de novembro (a meio caminho entre o equinócio de verão e o solstício de inverno). Eram precedidas por uma série de festejos que duravam uma semana, e davam início ao ano novo celta. A “festa dos mortos” era uma das suas datas mais importantes, pois celebrava o que para nós seriam “o céu e a terra” (conceitos que só chegaram com o cristianismo). Para os celtas, o lugar dos mortos era um lugar de felicidade perfeita, onde não haveria fome nem dor. A festa era celebrava com ritos presididos pelos sacerdotes druidas, que atuavam como “médiuns” entre as pessoas e os seus antepassados. Dizia-se também que os espíritos dos mortos voltavam nessa data para visitar seus antigos lares e guiar os seus familiares rumo ao outro mundo.

Origem Católica
Desde o século IV a Igreja da Síria consagrava um dia para festejar “Todos os Mártires”. Três séculos mais tarde o Papa Bonifácio IV († 615) transformou um templo romano dedicado a todos os deuses (Panteão) num templo cristão e o dedicou a “Todos os Santos”, a todos os que nos precederam na fé. A festa em honra de Todos os Santos, inicialmente era celebrada no dia 13 de maio, mas o Papa Gregório III († 741) mudou a data para 1º de novembro, que era o dia da dedicação da capela de Todos os Santos na Basílica de São Pedro, em Roma. Mais tarde, no ano de 840, o Papa Gregório IV ordenou que a festa de Todos os Santos fosse celebrada universalmente. Como festa grande, esta também ganhou a sua celebração vespertina ou vigília, que prepara a festa no dia anterior (31 de outubro). Na tradução para o inglês, essa vigília era chamada All Hallow’s Eve (Vigília de Todos os Santos), passando depois pelas formas All Hallowed Eve e “All Hallow Een” até chegar à palavra atual “Halloween”.


"Happy Halloween". Outubro de 2012. In: http://livredialogo.blogspot.com.br/


"Isto é halloween" - (Marlin Manson)
[sombra]
Garotos e garotas de todas as idades
Vocês não gostariam de ver algo estranho?

[sombra siamesa]
Venham conosco e vocês verão...
Essa, nossa cidade de Halloween

[coral de abóboras]
Isso é o Halloween! Isso é o Halloween
Abóboras gritam na calada da noite

[fantasmas]
Isto é o Halloween! Todos fazem uma cena
Gostosuras ou travessuras até os vizinhos morrerem de medo
Esta é nossa cidade, todos gritam
Nossa cidade do Halloween...

[criatura embaixo da cama]
Sou aquele que se esconde debaixo da sua cama
Dentes afiados e brilhantes olhos vermelhos

[homem embaixo das escadas]
Sou aquele que se esconde debaixo da sua escada
Dedos como cobras e aranhas no meu cabelo

[coral de cadáveres]
Isto é o Halloween, isto é o Halloween

[vampiros]
Halloween! halloween! halloween! halloween!
Nessa cidade, que chamamos de lar
Todos aclamam a canção da abóbora

[prefeito]
Nessa cidade, nós não a amamos agora?
Todos estão esperando pela próxima surpresa

[coral de cadáveres]
Na esquina, um homem se esconde numa lata de lixo
Algo está esperando para dar o bote e você vai...

[demonio arlequim, lobisomem & "homem derretido"]
Gritar! Isto é o Halloween!
Vermelho e preto, verde viscoso

[lobisomem]
Você não está com medo?

[bruxas]
Bem, está bem!
Diga uma vez, diga duas vezes,
Arrisque-se e jogue os dados
Passeie com a lua na calada da noite

[árvore "com enforcados"]
Todos gritam, todos gritam

[homens enforcados]
Na nossa cidade do Halloween!

[palhaço]
Sou o palhaço com a cara rasgada
Aqui numa rapidez e sumo sem deixar rastro

[segundo "ghoul"]
Sou o "Quem" quando você pergunta "Quem está aí?"
Sou o vento soprando no seu cabelo

[sombra oogie boogie]
Sou a sombra na lua à noite
Enchendo seus sonhos até a borda com terror

[coral de cadáveres]
Isto é o Halloween, isto é o Halloween!
Halloween! (6x)

[trio de crianças cadáveres]
"Tender Lumplings" em todo lugar
A vida não é divertida sem um bom susto!

[pais cadáveres]
Esse é nosso trabalho, não somos maus
Na nossa cidade do Halloween

[coral de cadáveres]
Nessa cidade

[prefeito]
Nós não a amamos agora?
Todos estão esperando pela próxima surpresa

[coral de cadáveres]
Jack Esqueleto pode te pegar por trás e
Gritar como um espírito*
Fazer você pular fora da sua pele
Isto é o Halloween! Todos gritam
Por favor, abra caminho para um cara especial...

Nosso cara Jack é rei da Abóbora Remendada
Todos saudem o Rei da Abóbora agora

[todo mundo]
Isso é halloween, isso é halloween
Halloween! halloween! halloween! halloween!

[trio de crianças cadáveres]
Nessa cidade, que chamamos de lar
Todos saudem a canção da abóbora!

[todo mundo]
La la-la la, halloween! halloween! [repetir]

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Paz...

Voa lindo pássaro,
E leve alegria para todos necessitados,
Renasça das cinzas, quando alguém houver lhe machucado,
Cure a alma dos apressados,
E quando estiver pronto,
Volte para mim,
Para rirmos e chorarmos dos acontecimentos descritos,
Carregue a paz interior!
Para não necessitar, que outros [...], muitas vezes de
má vontade,
A conceda!
Equilíbrio, paciência andam sempre juntos com a paz, pois
nos oferecem a plenitude.
A luta, a superação nos concedem a força para sobreviver.
A fé, a alegria não deixam a queda nos alcançar.
A dor, a descrença leva-nos à destruição
A esperança, e a vontade carrega-nos para longe do que não queremos.
Feliz seja tu, pássaro que consegue ajudar todos,
com somente muito obrigado!


Morgana (M.A.R.) “Paz...”. Outubro de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima.
Licença Creative Commons
Baseado no trabalho em http://livredialogo.blogspot.com.
Perssões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Contexto sócio-histórico do Romanticismo no Brasil.

Introdução
O movimento político, filosófico, artístico-cultural iniciado no século XVIII, conhecido como Romantismo ou Romanticismo, teve sua origem, assim como seus antecessores, na Europa, mas essencialmente em três países: Itália, Alemanha e Inglaterra. Não obstante, foi na França onde alcançou maior força e, através dos artistas franceses irradiou-se por toda Europa e para as Américas.

Consolidado sobre um ideário distinto ao racionalismo e ao iluminismo, o Romantismo buscou incentivar o nacionalismo – que veio a consolidar os estados franceses e, no Brasil, incentivar a valorização da cultura vernácula. As principais propriedades deste movimento são: a valorização das emoções, liberdade de criação, amores platônicos, temas religiosos, individualismo, nacionalismo e história.

O Romanticismo tomou forma na Literatura por meio das composições poéticas líricas, que se utilizavam, por vezes desmedidamente, de uma linguagem metafórica, vocábulos estrangeiros, comparações e frases diretas. Os motes preponderantes costumavam ser: os amores platônicos, acontecimentos históricos nacionais e tudo quanto se relaciona a perpétua incógnita da morte. As mais relevantes produções deste período são: “Cânticos” e “Inocência”, do poeta britânico William Blake; “Os sofrimentos do jovem Werther” e “Fausto”, do germânico Goethe – este primeiro levou a Europa a uma onda de suicídios, de tão profundo que fora Goethe em suas palavras. É um trabalho bastante distinto deste último, porém, não menos significativo; “Baladas Líricas”, do inglês William Wordsworth e várias poesias de Lord Byron; “Os miseráveis” e “Os três mosqueteiros”, dos franceses Victor Hugo e Alexandre Dumas, respectivamente.

No Brasil, consideram muitos estudiosos que o início do movimento tenha-se dado com a publicação, em 1836, de “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves de Magalhães. Nas terras de colonização lusitana a Literatura, ou melhor, o Romantismo viria a dividir-se em três gerações, cada qual bastante particular: (1ª) nacionalista ou indianista; (2ª) conhecida como o “Mal do século”, Byroniana ou ultrarromântica; (3ª) com textos marcados pela crítica social.


Início do Romaticismo no Brasil
                        
No início do século XIX, mais precisamente por volta de 1822, o Brasil foi cenário de grandes transformações políticas, sociais e culturas que contribuíram de maneira categórica para a concepção de uma legítima identidade pátria e, por conseguinte, de uma literatura com propriedades mais brasileiras.

A fuga da família real e da corte portuguesa para o Brasil em 1808 já denotava que aquele século seria de significativas reformas no arcabouço político, econômico, cultural e social do país. D. João VI é verdade era um soberano despreparado para reinar, seu irmão mais velho D. José morreu de varíola, sua mãe, D. Maria I, considerada louca e obrigada a deixar o trono, D. João foi obrigado a reinar. Com sua indecisão crônica, delegava funções a seus ministros; hesitou quanto pode em tomar uma decisão com relação a Napoleão: se aderisse ao Bloqueio Continental, desfaria a boa relação com a Inglaterra, além dos prejuízos políticos, corria o risco da esquadra britânica bombardear Lisboa, sede da corte. Se não acatasse as ordens de Bonaparte, as tropas deste marchariam – e marcharam – a Portugal para destronar a Casa de Bragança. Não vendo outra solução contra as forças napoleônicas, recorre ao auxílio da potência inglesa e lança-se rumo à colônia portuguesa mais rica e, portanto, de maior interesse, o Brasil. Não obstante façamos justiça ao nosso monarca, pois foi ele o verdadeiro mentor do Estado brasileiro, criando diversas instituições e serviços que deram base à autonomia nacional.

D. João VI abriu os portos brasileiros ao livre comércio com o mundo, possibilitando assim o fácil ingresso de novas inclinações culturais, prevalecentemente europeias. Ademais, estabeleceu escolas, museus, bibliotecas, instigou a tipografia, o que viabilizou a impressão de livros nas terras do novo mundo, uma vez que estes viam de Portugal, além da criação de jornais. O núcleo político-cultural-econômico passa a ser a capital do reino, o Rio de Janeiro e não mais região aurífera de Minas Gerais. Às portas da realeza nasce um público sólido de ledores preponderantemente constituído de educandos juvenis e mulheres concernentes à burguesia em ascensão.

Empós a independência do Brasil em 1822, o brasileiro passa a desenvolver um maior sentimento patriótico e busca na história e nas características geográficas do país qualidades a serem exaltadas, buscando também encobrir as intensas crises social, econômica e financeira. O país viveu de 1823 a 1831 uma fase agitada com o despotismo de D. Pedro I, crises políticas, a abdicação, o período regencial com as tentativas de fragmentação do império, a ascensão prematura de D. Pedro II ao trono... Nesse contexto um tanto desordenado surge o Romanticismo no Brasil com fortes traços de lusofobia e, sobretudo, civilismo.

“Não se pode lisonjear muito o Brasil de dever a Portugal sua primeira educação, tão mesquinha foi ela que bem parece ter sido dada por mãos avaras e pobres. No começo do século atual, com as mudanças e reformas que tem experimentado o Brasil, novo aspecto apresenta a sua literatura. Uma só ideia absorve todos os pensamentos, uma ideia até então desconhecida; é a ideia da pátria; ela domina tudo, e tudo se faz por ela, ou em seu nome. Independência, liberdade, instituições sociais, reformas políticas, todas as criações necessárias em uma nova Nação, tais são os objetivos que ocupam as inteligências, que atraem a atenção de todos, e os únicos que ao povo interessam.” (Gonçalves de Magalhães).

O desenvolvimento de um público novo foi um dos acontecimentos mais importantes para o Romantismo neste país, graças ao qual a Literatura se popularizou, fato que não se dava com os demais estilos da época e suas características clássicas. Heis que, nasce o romance, um gênero literário mais acessível que abjurava as fórmulas clássicas de composição. Junto ao surgimento dos primeiros cursos universitário em 1827, e com o liberalismo burguês, o mercado consumidor passa a englobar dois novos seguimentos da sociedade brasileira: o estudante e a mulher. Com o desenvolvimento da imprensa nacional, os folhetins e jornais tornaram-se ferramentas essenciais no desenvolvimento do romance romântico.

Fundamentos teóricos do Romanticismo

* Egocentrismo: em Latim, “ego” significa “eu”, daí deduz-se a definição de “egocentrismo” – “eu sou o centro”. É exatamente isso, o artista busca desligar-se da sociedade e focar-se no subjetivismo, voltando-se para o seu âmago. É comum nos poemas o predomínio da primeira pessoa do singular.

* Nacionalismo: o Romantismo intenta salientar os aspectos particulares de cada região: geografia, história, cultura et reliqua, pondo-os assim à mesa de discussão da escol intelectual.

* Liberdade de Expressão: é um dos, senão o principal ponto deste movimento. O artista se enjeita a adotar moldes, sua intenção é explorar a si, a seus sentimentos, numa procura categórica por singularidade. A emoção supera a razão no proceder das personagens, caracterizadas pela têmpera de amor, ódio, amizade, respeito e honra. O artífice busca ressaltar toda e qualquer condição onírica; caso o mundo real não lhe satisfaça, ele acaba por idear um universo particular. A representação da mulher amada é sempre um modelo de caráter, moral e qualidades irreparáveis. Há sempre a presença de figuras antagônicas, isto é, heróis simbolizando o bem, e vilões representando o mal. Tal concepção moral de contraste entre bem e mal se chama maniqueísmo e constituiu a diretriz básica das narrativas românticas. A natureza toma formas mais características e alia-se ao estado de espírito da personagem ou do poeta; momentos melancólicos ou de desencanto passar-se-ão em panoramas soturnos; por outro lado, instantes de contentamento dar-se-ão em lugares belos, cintilantes.

Engana-se, porém, quem pensa que no Romantismo as obras adotam apenas o lirismo e a inocência, pois ele tem seu lado tétrico: o derrotismo sentimental que se mostra nas alusões à morte, no êxtase e no furor passional que por vezes leva a personagem à insanidade, aos finais frustrados, infelizes e até mesmo sombrios. Outra característica é o escapismo: o autor busca refugiar-se do mundo real em um ficcional. Nota-se em inúmeras obras a tendência de escapismo para o pretérito.

Gerações do Romanticismo.

1ª Geração: caracterizado pelo lirismo, o subjetivismo, o sonho de um lado, o exagero, a busca pelo exótico e pelo inóspito do outro. Também se destaca o nacionalismo, presente da coletânea de textos e documentos de caráter fundamentalista que remetem para o nascimento de uma nação, fato atribuído à época medieval, a idealização do mundo e da mulher e a depressão por essa mesma idealização não se materializar, assim como a fuga da realidade, o escapismo. A mulher era uma musa, amada e desejada, porém, intocada.

2ª Geração: notam-se traços de pessimismo e certo gosto pela morte, religiosidade e naturalismo. A mulher era alcançada, mas a felicidade não.

3ª Geração: trata-se de um período de transição para outra vertente literária: o realismo, que denúncia os vícios e mazelas sociais, ainda que muitas vezes de forma sarcástica, irônica e realçada, com intenção de expor realidades ignoradas, revelar fragilidades. A mulher era idealizada e acessível.

Gerações do Romantismo no Brasil

1ª Nacionalista ou indianista: caracterizada pelo louvor a natureza, regresso ao passado, medievalismo, adoção da figura do índio como herói pátrio, sentimentalidade e religiosidade. Principais autores: Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre e Gonçalves de Magalhães.

2ª Mal do século: veementemente influída pela obra de Lord Byron e Musset, é chamada, inclusive, de geração byroniana. Impregnada de egocentrismo, negativismo boêmio, pessimismo, dúvida, desilusão adolescente e tédio constante – característicos do ultrarromantismo, o verdadeiro “mal do século”- seu tema preferido é a fuga da realidade, que se manifesta na idealização da infância, nas virgens sonhadas e na exaltação da morte. Os principais poetas dessa geração foram Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.

3ª Condoreira: caracterizada pela poesia social e libertária reflete as lutas internas da Segunda metade do reinado de D. Pedro II. Essa geração sofreu intensamente a influencia de Victor Hugo e de sua poesia político-social, daí ser conhecida como geração hugoana. O termo condoreirismo é consequência do símbolo de liberdade adotado pelos jovens românticos: o condor, águia que habita o alto da cordilheira dos Andes. Seu principal representante foi Castro Alves, seguido por Tobias Barreto e Sousândrade.

Considerações Finais

A vinda da família real para o Brasil representou uma revolução cultural, por assim dizer, instituiu-se novos patamares sociais e culturais, a sociedade da até então colônia portuguesa passou a conviver com a etiqueta, a fineza da burguesia europeia e a contagiar-se por estes costumes. D. João VI fez muito pelo Brasil em termos culturais, instituiu a Academia de Belas-Artes, a Biblioteca Nacional, abriu escolas, museus, universidades etc., influenciou de certa forma a educação do povo colonial, mas toda esta “ascensão” fazia-se em moldes europeus, desconsiderando a cultura vernácula. O Brasil passou por grandes tumultos políticos, com a independência em 1822, cresceu o sentimento de patriotismo, que dantes era quase inexistente ante ao ufanismo europeu, isto é, a desclassificação daquilo que era natural do Brasil frente ao que era fruto do estrangeiro.

Com o aumento de pessoas alfabetizadas e com a desmistificação dos livros, ou seja, com a reversão do pensamento de que livros eram destinados apenas a doutores – fato destacado por Lima Barreto em “Triste fim de Policarpo Quaresma” -, cresce o contingente de ledores, sobretudo pela popularização da Literatura viabilizada pelo romantismo que, distinto dos movimentos anteriores possuía uma grande liberdade de expressão e também formal, assim, muitos autores adotavam uma linguagem mais informal e com vocabulário mais brasileiro. Os autores da época com seus escritos indianistas fazem do índio um herói nacional, exclamando a beleza geográfica, num fundo histórico, com a exposição das mazelas sociais e políticas, das fortes críticas ao segundo reinado, contribuindo para a valorização das artes, da cultura e do próprio Brasil por sua sociedade. Nota-se em alguns escritos do século XIX lusofobia, isto é, desprezo por Portugal. Tudo isso contribuiu para a criação de uma identidade genuinamente brasileira.

Nos escritos de José de Alencar percebe-se uma incessante luta pela valorização da cultura vernácula. Em “O demônio familiar”, ele contrasta duas personalidades: Alfredo e Azevedo. Este primeiro valoriza a cultura pátria e critica seu menoscabo pela exaltação estrangeira, feito pelo último. Em “O guarani” “Iracema” e “Ubirajara” busca a consolidação do herói brasileiro. Em “As Minas de Prata”, um romance histórico, há também o feitio de críticas sociais. “Senhora”, um livro escrito em período de transição para o realismo, ele expõe as hipocrisias e corrupções da sociedade.

Percebe-se que a Literatura foi fundamental na constituição de uma identidade brasileira, na libertação das correntes que nos prendiam aos moldes europeus. Foi deveras relevante sua contribuição para a valorização de nossa cultura que estava a ser apagada pela imposição de costumes europeus. Podemos dizer que, foram décadas de luta de diversos escritores e poetas para que o povo brasileiro deixasse de lado a veneração pelo estrangeiro e passasse a valorizar as qualidades nativas de sua pátria. Todavia, hoje nota-se, ainda que velado, certo sentimento remanescente de inferioridade colonial do Brasil, percebido pela falta de entusiasmo da população, sobretudo jovem, em apreciar seu idioma, sua cultura e artes, em lutar contra a má política, o desvaler da educação e de outros setores de monta pública. Aos poucos estamos novamente sendo aculturados, adotando costumes e tradições que não nos pertencem, olvidando, ignorando os nossos. E tudo isso parece dar-se com entusiasmo. É uma pena observar tal comportamento, pois é o mesmo que dizer que a luta de tantos ao longo da História foi vã, que mais uma vez nos falta fibra e caráter de lutarmos com orgulho pela nossa identidade cultural, e a história se reprisa...

Farias, M. S. "Contexto sócio-histórico do Romanticismo no Brasil". Outubro de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima.

Licença Creative Commons
Esta obra de Farias, M. S., foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.

Referências

Barreto, Ricardo Gonçalves. Português, 2º ano: Ensino Médio. 1ª ed. São Paulo: Edições SM, 2010. 384 p.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo_no_Brasil#Contexto_hist.C3.B3rico
http://www.desconversa.com.br/portugues/tag/romantismo-contexto-historico/
http://enemnota100.blogspot.com.br/2007/08/romantismo-contexto-histrico-no-brasil.html
http://www.mundovestibular.com.br/articles/6517/1/Romantismo-no-Brasil/Paacutegina1.html
http://educacao.uol.com.br/portugues/romantismo-no-brasil-caracteristicas-e-autores.jhtm
http://aprovadonovestibular.com/romantismo-caracteristicas-autores.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo
http://www.suapesquisa.com/romantismo/romantismo.htm
http://www.brasilescola.com/literatura/romantismo.htm

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Resenha do livro "A Cabana", de William P. Young.

Young, W. P. A Cabana. Rio de Janeiro, Sextante, 2008. 236 p. 01ª ed. Tradução: Alves Calado.
A Cabana conta a história de Mackenzie Allen Phillips, que durante muito tempo viveu imerso em um mar de dor e sofrimento ocasionado pelo sequestro e morte de Melissa, sua filha mais nova. Mack, qual também é denominado, nunca foi um beato e, desde a perda de Missy, forma carinhosa pela qual chamavam a Melissa, sua relação com o Celestial deteriorou. Transcorrido algum tempo desde o nefasto ocorrido, em uma manhã gelada de inverno, Mack recebe um misterioso bilhete até então supostamente escrito por Deus, convidando-o a volver a cena do homicídio de Melissa, uma cabana vetusta e de dificílimo acesso à cidade de Joseph. A vida de Mackenzie Allen Phillips nunca mais seria a mesma após retornar ao palco de sua recordação mais dantesca e pesarosa...

Willie, um amigo de Mack é quem narra à história, sendo seu foco, portanto, relatar o que se passou com seu amigo durante sua estada à cabana. Este livro está dividido em prefácio, dezoito capítulos, um posfácio, uma parte dedicada aos agradecimentos do autor. Cada capítulo possui sob o título uma citação de autores distintos.

Mackenzie Allen Phillips teve uma infância muito difícil, seu pai era alcoólatra, agredia a esposa e a ele com assiduidade. Aos treze anos Mackenzie fugiu de casa, e desde então nunca mais reviu nem seu pai nem sua mãe. Passou por muitas dificuldades, até que casou-se com Nan, com quem teve cinco filhos: Jon, Tyler, Josh, Katherine (Kate) e Melissa.

Mack decide por fazer um passeio de férias com Missy, Kate e Josh, eles vão até uma Reserva na cidade de Joseph. Mack estava se preparando para seguir viagem quando a canoa em que Kate e Josh faziam um passeio, – cedida por seus novos amigos do camping – vira e Josh não consegue emergir, Mack sai em disparada para salvar a Josh e também a Kate – embora esta tenha conseguido emergir -, deixando Missy sozinha perto do trailer. Quando retornam não encontram a Missy, e assim, dá-se inicio a uma procura pela menina. A melhor pista que conseguem é que uma criança trajando semelhante à Melissa fora levada em um jipe verde por um homem desconhecido.

 As autoridades encontram na cena do crime um broche de joaninha com detalhes específicos que o FBI após examinar percebe ser a assinatura do Matador de Meninas, um misterioso assassino do qual nada se sabia, exceto essa peculiar assinatura. Qual supracitado, algum tempo depois se descobre uma velha cabana, onde encontram o vestido que a menina trajava e uma poça de sangue...

Os anos passam e, em uma fria manhã de inverno, sozinho na residência de sua família, Mackenzie decide sair à rua e conferir sua caixa de correspondências - nevara a noite toda e ainda o sucedia -, o gelo cobria todo caminho, deixando-o escorregadio, com muita dificuldade Mack chega até a o portão, quando retira a correspondência, surpreende-se com um bilhete singelo no qual o signatário “Papai” o convidava a retornar à cabana. Pensando ser uma brincadeira de mau gosto, ele retorna a casa, porém, no trajeto de volta ele escorrega e fere-se. Já em sua sala-de-estar, ele resolve checar se o tal bilhete era uma brincadeira de seu carteiro, mas, para sua surpresa, o tal sequer conseguira chegar à sua rua, dada as condições do trajeto ocasionadas pela nevasca.

Mack decide não falar nada para sua família por tratar-se de um assunto doloroso. Não obstante, colhendo do ensejo de uma viajem que Nan faria com as crianças para a casa de sua irmã, Mackenzie dirime por ir à cabana. Pede a seu amigo Willie o jipe emprestado, este preocupado com o amigo cede-lhe inclusive uma arma para no caso de ser o assassino, Mackenzie poder se defender.

Depois de chegar à cabana e encontrar com a Santíssima Trindade personificada de uma forma muito peculiar pelo autor, Mack passa por um processo de aproximação de Deus. Aos poucos Mackenzie vai aceitando e aprendendo a lidar com a tragédia que abalou não apenas a sua vida, mas a de sua família toda. Papai era na verdade, uma forma afetuosa pela qual Nan chamava a Deus.

Durante sua estada, Allen trava muitos diálogos cujos temas envolvem religião, fé, e claro, a perda de sua filha. Nosso protagonista aprende a perdoar e, no decorrer do tempo vai se distanciando de seu pesar. Perto do fim de sua estada na cabana com a Santíssima Trindade, Deus resolve levá-lo para um passeio – a esta altura Mackenzie já havia passado por inúmeras experiências e mudado muito – essa excursão seria a parte final, por assim dizer, de sua jornada na cabana, Papai mostra a Mack onde estava o corpo de Missy e, juntos, transladam-no de volta a choupana. Ao chegarem, Jesus havia preparado um esquife de madeira para depositarem os restos de Melissa e, no jardim que Sarayu (nome dado pelo autor ao Espírito Santo) havia limpado uma área, foi inumada a criança.

Quando Mack retonava à sua residência, sofre um acidente de carro e passa dias internado em estado grave em um hospital. Para surpresa de nosso protagonista, ele nunca chegara à cabana... Na sua jornada rumo ao tugúrio um carro cruza o sinal vermelho colidindo com o seu jipe, ele passa três dias internado em estado de profundo coma. Mas, após se recuperar, junto com a polícia de Joseph, ele vai até o local onde estivera com Deus – ao menos em sonho - para resgatar o corpo de Melissa e, para assombro de todos, lá estava! Algum tempo depois, a polícia através das pistas encontradas no local onde o corpo de Missy foi esconso pelo Matador de Meninas, pode efetuar a prisão deste. Mackenzie depôs no julgamento do mesmo e explanou como encontrou o local, por mais inacreditável, comovente e surpreendente que fosse.

Embora este livro demonstre-se surreal, puramente fictício, e, em alguns momentos passar a impressão de que autor é um alienado, a ideia por detrás da narrativa é interessante e, a própria história chega a ser comovente.  Devo admitir que, achei algumas coisas um pouco difíceis de deglutir, mas muitas das ideias que Young insere nas práticas entre a Santíssima Trindade e Mackenzie vai ao encontro de minha visão acerca de fé e religião. Muito mais importante que seguirmos uma religião, é termos fé e confiança em Deus e seus desígnios. De nada adianta sermos excessivamente devotos a uma religião, se não o fazemos de coração. Não existe uma religião boa ou má, desde que sua crença seja em Deus na sua plenitude e ela lhe trouxer paz, então ela é boa. Deus é um só, não importa o credo, se espírita, católico, protestante, budista ou judeu. Nenhum ser humano detém a verdade, somos falhos e insignificantes ante a magnificência do Divino. A forma que William retratou a Santíssima Trindade foge dos padrões tradicionais, porquanto supracitei que em alguns momentos o autor parece ser um alienado e tudo mais, porém de certo modo compreendo esta escolha: ele visa quebrar essa imagem convencional que temos, mostrando que o Celestial está acima de todos os nossos conceitos prévios e circunscritos. Ou como ele próprio diz “nada é um ritual”. Deus que é infinito vê, pensa e age de uma forma muito além do que nós, seres humanos limitados somos capazes de compreender.

Por mais que esta história possa parecer surrealista, e por mais complexa que seja a forma qual o literato visa expressar e levar ao público a sua ideia, eu recomendo esta obra a todas as pessoas que têm ou que buscam uma ideia de fé livre de certos dogmas e convenções que discriminam e que julgam. Liberdade não é sinônimo de libertinagem. O que o autor tenta oferecer é uma visão mais ampla da fé, dentro dos princípios bíblicos, é claro. É um livro iconoclasta quando comprado a nossas convenções sobre a face da fé. Trata-se de um escrito dirigido a um publico mais maturo por que exige bastante reflexão. É um texto a ser debatido, pois qual disse, possui algumas coisas difíceis de deglutir e, além do mais, cada um de nós vê as coisas apenas sob uma óptica, sob sua orientação religiosa.

William P. Young nasceu em Alberta, no Canadá em 11 de maio de 1955, mas passou grande parte de sua infância em Papua, Nova Guiné, junto com seus pais missionários, em uma comunidade tribal. Pagou seus estudos religiosos trabalhando como DJ, salva-vidas e em diversos outros empregos temporários. Formou-se em Religião em Oregon, nos Estados Unidos. 

Farias, M. S. "Resenha do livro 'A Cabana', de William P. Young". Outubro de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima. 

Licença Creative Commons
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sociólogos notáveis.

Introdução
A Sociologia enquanto ciência tem por objetivo estudar, racionalizar, explicar as sociedades, as relações entre os indivíduos, mas não individualmente – a compreensão e o estudo de cada indivíduo é tarefa de outras ciências, como a Psicologia. O sociólogo busca compreender as relações sociais entre grupamentos de indivíduos no meio em que estes se encontram; o comportamento de instituições e associações; as relações de interdependência existentes dentro do contexto politicamente organizado e complexo pela estruturação cultural a que denominamos sociedade.
Costuma-se afirmar que esta ciência tenha nascido no século XVII em meio as grandes transformações ocorridas, dentre as principais o declínio do conhecimento teologal como verdade suma e incontestável e a ascensão do conhecimento científico até então suprimido. As grandes transformações políticas ocorridas em todo o mundo, como a queda da monarquia, a instituição da democracia, o surgimento do Capitalismo, a descoberta das terras do Novo Mundo, a Revolução Francesa com seus ideais iluministas e as Revoluções Industriais – que marcaram a passagem da sociedade feudal para sociedade capitalista, constituíram o principio de uma nova fase caracterizada pela razão e o cientificismo.
No século XIX com o surgimento de sérias crises e o destaque das iniquidades sociais, surge o “social”: um problema a ser pesquisado, estudado em função de reordenar a vida em sociedade. Nos campos clássicos da Sociologia costumava-se enfatizar as ações individuais ou as ações coletivas, neste aspecto destacam-se os trabalhos de quatro grandes nomes desta ciência, Augusto Comte, Karl Marx, Émile Durkheim e Marx Weber. Neste objeto de estudos trataremos acerca da breve biografia e contribuições destes nomes, considerados o arcabouço da Sociologia.

***
Augusto Comte
Nascido em Montpellier, França, em 1798, Isidore Auguste Marie François Xavier Comte, tonou-se, junto a sua escola filosófica, o Positivismo, uma das figuras mais relevantes do século XIX e a mais influente no Brasil, nesta época. É também considerado o “pai” da Sociologia – denominação por ele dada a esta ciência a partir do radical latino “socius” (associação) e do radical grego “lógus” (estudo). Sua intenção era a de elencar todos os estudos sobre a humanidade, incluindo História, Economia e Psicologia, a fim de compreender o que preservava aos grupos sociais unidos, e assim, desenvolver um “antídoto” à desintegração social.
Auguste Comte foi secretário de Saint-Simon¹, quem orientou-lhe ao estudo das ciências sociais, deixando-lhe bastante frisada a ideia de que os fenômenos sociais, da mesma forma que os físicos, podem ser sintetizados em leis, e que todo o conhecimento cientifico e filosófico deve ter o objetivo de aperfeiçoar moral e politicamente a espécie humana.
Comte acreditava que a Europa estava em crise dada sua transição da ordem feudal para a nova ordem capitalista. Pela mesma razão, estaria o consenso social sendo dissociado, uma vez que este seja caracterizado pela forma de pensar, pelas representações de mundo e as crenças de uma sociedade, fatores estes que passavam por uma fase de transformações com as diversas rupturas ideológicas do período, como o declínio do conhecimento teologal e ascensão do cientificismo. Fazia-se imperativo o desenvolvimento de uma ciência “positiva”, a Física Social,  que fosse capaz de modificar estreitamente a ordem social com o objetivo de fazê-la evoluir de forma optimizada e acelerada. A Sociologia deveria, embasada pelos paradigmas das ciências naturais, explicar a sociedade.
Auguste desenvolveu a “Lei dos três Estados”, segundo a qual o pensamento humano desenvolveu-se em três etapas:
  1. Teológica: Explicam-se os processos naturais como efeitos da ação e da vontade de seres ocultos; sendo os fenômenos naturais causados pelas forças divinas; assim sendo, o politeísmo é tido como religião adequada a esta etapa. Quando se lhe substituem pelo monoteísmo, dá-se uma abstração, proporcionando o surgimento da segunda etapa.
  2. Metafísica: os fenômenos são explicados por abstrações racionais; formulam-se diversas teorias acerca do mesmo fenômeno. Esta etapa é considerada por Comte autodestrutível, levando assim ao último estado do pensamento humano.
  3. Positiva: o homem busca conhecer e explicar a natureza através da observação e experimentação, investigando as leis que a regem. Todavia, não se procuram leis gerais que não possam ser verificadas pela experimentação e pela dedução ou raciocínio matemático. Tudo que ultrapassa este limite é tido por metafísico e não tem mérito.
Auguste Comte classifica ainda a ciência de seu tempo de acordo um princípio de generalidade decrescente e complexidade crescente, considerando que a Matemática, Astronomia, Física, Química e Biologia já haviam entrado na etapa positiva, cabendo a Sociologia enquanto ciência da sociedade humana, seguir o mesmo caminho e transformar-se numa física social.
Em 1845, o sociólogo conhece Mme. Clotilde de Vaux, por quem se apaixona, fator este que o fez comprometer de certo modo seu pensamento anterior frente à adoção e pregação de um novo misticismo: a “Religião da Humanidade”, na qual o centro do culto era a própria humanidade. Comte criou um sacerdócio com rígida disciplina, sacramentos e orações para seus adeptos.

***
Karl Marx
Karl Heinrich Marx nasceu em Treves (Trier), filho de um advogado judeu convertido ao Protestantismo. Cursou as universidades de Bonn e Berlim, onde estudou Direito, dedicando-se, todavia, à Filosofia e à História. Ainda em Berlim tomou parte em um grupo denominado “hegelianos de esquerda”, que interpretavam do ponto de vista revolucionário as ideias de Hegel².
Marx não se deteve ao estudo de teorias, desenvolvendo pelo transcorrer de sua vida grande atividade política, ao decorrer da qual desenvolveu a doutrina do Socialismo proletário revolucionário. Dado o radicalismo de suas teorias e ações políticas, Karl foi alvo de perseguições e diversas vezes expatriado. Principiou a difusão de suas convicções por meio do periódico renano “Gazeta do Reno”, que ao passar a sua orientação, acabou vetado pelo governo. Em 1843, ao transferir-se para Paris, Karl Marx conheceu Friedrich Engels³, que se tornaria seu mais fidedigno amigo e colaborador. Juntos, desenvolveram a doutrina do Comunismo Cientifico. Após o II Congresso da sociedade secreta de propaganda “Liga dos Comunistas”, em 1848, Marx compôs seu ilustre “Manifesto Comunista”, onde esboçou o Materialismo Dialético e a teoria da luta de classes, suas principais ideias.  Perseguido pela miséria, apenas graça ao auxílio econômico de Engels, é que Karl foi capaz de concluir a elaboração de “O Capital”, sua principal obra. As limitações de sua condição social, o trabalho excessivo, comprometeram-lhe a saúde, impossibilitando que concluísse “O Capital”. Em 1883 Marx faleceu em Londres.
Para Marx, o sistema capitalista privilegia a exploração do homem pelo homem, e beneficia um diminuto grupo, constituído pelos donos dos meios de produção e por pessoas que passam a tirar proveito de alguma forma do mecanismo capitalista. Segundo sua teoria da mais-valia, um operário, por exemplo, que trabalhe por oito horas diárias e produz em apenas cinco horas o produto correspondente a seu salário, o que ele produzir nas três horas restantes constitui o excedente, ou seja, a mais-valia, da qual o capitalista se empossa.
É imperioso proferir que, o sistema de ideias de Marx, elaborado a partir da Filosofia Clássica alemã, da Economia Política inglesa e do Socialismo francês, conhecido como Marxismo, do qual a essência reside na doutrina econômica, não pode ser compreendido sem o conhecimento de sua fundamentação filosófica. Com isso, estamos circunscritos, neste estudo, as teorias apenas, sem abordarmos propriamente o conteúdo do Marxismo.
Karl Marx previu ainda o fim do sistema capitalista através de uma grande crise econômica que desmantelaria a sua estrutura – desemprego, falência das agências bancárias etc. Em princípio, a maneira de acabar com a estrutura do capitalismo seria fomentar a luta entre as classes que a constituem: o proletariado contra os proprietários dos meios de produção, com a vitória da primeira, que chegaria ao poder, pondo fim a propriedade privada dos meios de produção que passariam a uma posse comum, o que viabilizaria o êxito final: o extermínio de todas as desigualdades sociais.


***
Émile Durkheim
Nasceu na Alsácia, em 1858, estudou na França e na Alemanha, sendo o pioneiro da escola francesa de Sociologia ao conciliar de forma exitosa a pesquisa empírica com a tese sociológica. Influenciado pelo Positivismo de Comte, Durkheim perseverou para tornar as Ciências Sociais em disciplina rigorosamente científica. Sob sua observação, a sociedade é um organismo, semelhante ao corpo humano, onde cada órgão exerce uma função e depende dos demais para existir; importa, portanto, que cada indivíduo sinta-se parte desta estrutura, senão, acarretará em abnormidades sociais que desgastariam este organismo.
Em 1887, Émile Durkheim estabeleceu a cadeira de Sociologia na Universidade Bordeaux. Em 1902, alcançou uma suplência na cadeira de Ciência da Educação, na Universidade Sorbonne, sendo efetivado em 1906, quando passando a lecionar Sociologia e Pedagogia.
Segundo Émile, a Sociologia deve estudar os fatos sociais, os quais possuem três características: (a) coerção social; (b) exterioridade; (c) poder de generalização. Os fatos sociais possuem autonomia, sendo exteriores aos indivíduos e introjetados nestes ao extremo de transformarem-se em hábitos. Em seu entendimento, o sociólogo deveria ser sujeito completamente imparcial, distante da sociedade ao estudá-la, para que suas conclusões sejam verdadeiras, livre de qualquer convenção imposta pela sociedade, e assim ser capaz de criar-lhe “antídotos” às suas mazelas.
Durkheim ajustou técnicas científicas ao estudo das relações humanas, todavia, admoestou que as interdependências puramente estatísticas não são válidas, a menos que seja possível estabelecerem-se nexos lógicos entre elas. Foi precursor no estudo sistemático de um fato social: o suicídio, em sua obra homônima ao mote – “Le Suicide” (1897) -, na qual identifica a autodestruição em três níveis:
  1. Egoísta: é um estado onde os laços entre o indivíduo e os outros na sociedade são demasiado fracos para impedir-lhe o suicídio. Este nível foi detectado por Émile como sendo comum dentre os divorciados, que recorrem à morte para furtarem-se ao sofrimento.
  2. Anômica: desencadeada pela crença de que o mundo social do indivíduo desmantelou-se; acontece quando as normas sociais e leis que governam a sociedade não correspondem com os objetivos de vida do indivíduo. Uma vez que este não se identifica com as normas da sociedade, o suicídio passa a ser uma alternativa de escapar. Durkheim viu esta explicação para os suicidas protestantes.
  3. Altruísta: Durkheim viu isto ocorrer de duas formas diferentes: (a) onde indivíduos se veem sem importância ou oprimidos pela sociedade e preferem cometer suicídio; (b) onde indivíduos veem o mundo social sem importância e sacrificariam a si próprios por um grande ideal.
Émile Durkheim faleceu em Paris em 15 de Novembro de 1917.


***
Marx Weber
Nascido em Erfurt, na Turíngia, a 21 de abril de 1864, foi um sociólogo e economista alemão; em 1894, nomeado professor de Economia na Universidade Friburgo e, logo empós exerceu tal cargo em Heidelberg. Ainda que Marx Weber não tenha desenvolvido uma nova escola sociológica, a despeito do que fizeram seus predecessores vistos até então, pode ser considerado de forma justa como um dos maiores cientistas sociais do século pretérito.
Ufanista alemão, Weber é tido como um dos mais relevantes pensadores modernos, criador da Sociologia da Religião a partir da análise comparativa entre história da economia e história das doutrinas religiosas. Em seu livro, divido em três tomos, “Religionssoziologie” (em Português, “Sociologia das Religiões”), expressa suas ilações acerca dos vínculos entre as ideias e atitudes religiosas, além do aspecto religioso, esta composição aborda questões econômicas e o desenvolvimento do capitalismo.
A Sociologia weberiana é também conhecida por “compreensiva”, uma vez que, distinto de Comte e Durkheim com seus espíritos Positivistas e de Karl Marx com suas convicções revolucionárias, Weber acreditava que é necessário entender o sentido e o motivo da ação do individuo e não apenas o aspecto exterior da mesma. Em outros termos, ele cria que os seres humanos interagem de forma particular, cuja acepção é determinada pelo comportamento alheio. Esse proceder somente se enquadra no que Marx denomina como “ação social” quando o agente confere a sua conduta um sentido ou significado subjetivo e este correferir-se  ao comportamento de outros indivíduos.
Houve de sua parte a preocupação de estabelecerem-se metodologias que permitissem ao cientista estudar tais fenômenos subjetivos sem prodigalizar-se na enorme variedade de aspectos concretos; sendo a principal delas o “Tipo ideal”, segundo a qual se deve primeiro selecionar diretamente a dimensão do objeto a ser analisado e, posteriormente, apresentar esta dimensão de uma maneira mais pura, liberta de suas sutilezas concretas.
Marx Weber faleceu em Monique em 14 de Junho de 1920.

***
Considerações Finais
Hoje a Sociologia é considerada uma ciência de grande relevância, cujas pesquisas interessam de distintas formas a variegados setores, sobretudo, o Estado, talvez o maior financiador de seus estudos, uma vez que, a produção sistematizada de informações referentes à sociedade – abrangendo dados sobre empresas, famílias, grupos de pessoas etc. -, auxiliem no desenvolvimento da atividade governamental.
Neste estudo abordou-se sobre quatro dos grandes nomes ligados a esta ciência, notadamente seus “criadores”. Comte, criador do Positivismo, acreditava que a sociedade deveria ser regida sob ferrenhas normas, sob uma ordem plena, a qual promoveria o desenvolvimento optimizado e acelerado – o progresso – do Estado. Não obstante, existem críticas com relação aos paradigmas desenvolvidos por Comte, cujo modelo de desenvolvimento seria a Europa.
Segundo suas teorias, a Sociologia deveria, a partir da observação dos fenômenos e da descrição de suas regularidades, criar leis úteis ao desenvolvimento social – método positivo das ciências naturais, ou seja, somente é válido o conhecimento produzido através da observação e da experimentação científica destes e das leis gerais, desde que verificáveis, que regem a natureza.  O sociólogo deveria desenvolver uma nova ordem moral em substituição à teológica – a moral científico-positiva.
Émile Durkheim não pensava de forma muito distinta a Comte, para ele esta disciplina deve possuir leis claras e precisas para valer-se como ciência; seu foco era a compreensão dos padrões de conduta.
Karl Marx, por outro lado, vê no capitalismo a razão primordial dos problemas de desigualdade social, da exploração do homem pelo homem, desenvolvendo a teoria do Socialismo, onde o proletariado destituiria as estruturas capitalistas e desenvolveria a sociedade “ideal”, havendo, porém, ainda, a necessidade da existência do Estado – controlado pelos trabalhadores, que organizariam o funcionamento da sociedade – o qual teria a propriedade dos meios de produção. Na segunda etapa do Socialismo, o Comunismo, o Estado seria extinto, e cada um seria remunerado segundo suas necessidades; supôs que neste estágio não havia ambição nem desejo de ostentarem-se símbolos de riqueza.  Todavia, ao longo da História observamos que o emprego desta doutrina de pensamento foi falha em quase todos os países que a adotaram. A Alemanha comunista não persistiu, países a exemplo do Cazaquistão, na Ásia Central, sofreram grandes problemas sociais com o comunismo, muito maiores, quiçá, do que poderiam ter com o regime capitalista. Durante o século XX, os cazaques não tinham o direito de reclamar de nada, mesmo que o desejassem; o regime comunista acabou com a propriedade privada, o gado restou abandonado pelas estepes, fazendo com que 48,6% dos habitantes falecessem por inanição entre os anos de 1932 e 1933. Outro exemplo mau sucedido é Cuba, com problemas semelhantes aos supracitados. Com isso, se faz questionável a coerência das teorias de Marx, que dedicou a vida a seus estudos, composições e lutas políticas, sofrendo perseguições e vivendo em estado de miséria junto a sua esposa. É inegável que a intenção de Karl Marx de criar uma sociedade igualitária, sem problemas sociais decorrentes da contradição entre classes, provocada pelo sistema capitalista, é louvável, mas é preciso reconhecer as falhas de suas teorias, ou antes, de suas aplicações, e procurar retificá-las; é possível que as aplicações das teorias comunistas de Marx tenham sido inexitosas  até então, porque, como ele teorizou, o comunismo seria uma etapa após a “falência inevitável” do sistema capitalista, atualmente em vigor no mundo.
Por fim, Marx Weber traz à Sociologia uma proposta inovadora em relação aos positivistas: de que não se deveria buscar explicar os fenômenos sociais, e sim compreendê-los, visto que a sociedade não estaria submetida a leis imutáveis, mas seria constituída pela contínua ação social dos indivíduos. As leis e regras seriam ocasionadas como um complexo resultado às ações individuais, segundo as quais cada indivíduo escolheria uma forma distinta de proceder. As grandes ideias universais que guiam a sociedade, tais como o Estado, o mercado e as religiões, só existiriam porque muitos indivíduos orientariam mutuamente suas ações em determinado sentido compartilhado. A compreensão da sociedade se daria, portanto, a partir da ação social de cada pessoa, desde que dotada de sentido. Weber ainda atenta para o fato de que o sociólogo nunca é imparcial, uma vez que não pode simplesmente nulificar suas convicções, sua formação cultural, sendo, portanto, necessária à adoção de uma metodologia que irá servir-lhe de diretriz, assegurando sua objetividade. Além disso, afirma  que, os fatos sociais não podem ser observados como coisas, e sim como acontecimentos que o pesquisador nota e busca compreender.

***
Referências
Coelho, Paulo (1974 -). O Zahir. -- Ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2005. Pg.: 82. 316 p.
Comte, Augusto: In: BENTON, William. Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro, São Paulo: Encyclopedia Britannica Editores LTDA. 1964 – 1969; p. 369-370. Tomo 04.
Durkheim, Émile: In: BENTON, William. Enciclopédia Barsa. Rio de janeiro, São Paulo: Encyclopedia Britannica Editores LTDA. 1964 – 1969; p. 242-243. Tomo 05.
Marx, Karl Heinrich: In: BENTON, William. Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro, São Paulo: Encyclopedia Britannica Editores LTDA. 1964 – 1969; p. 62-64. Tomo 09.
Weber, Marx: In: BENTON, William. Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro, São Paulo: Encyclopedia Britannica Editores LTDA. 1964 – 1969; p. 141. Tomo 14.
http://classicosdasociologia.blogspot.com.br/2012/04/classicos-da-sociologia-auguste-comte.html
http://manguevirtual.blogspot.com.br/2010/09/qual-diferenca-entre-durkheim-karl-marx.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_de_Saint-Simon
http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber                           
http://www.brasilescola.com/sociologia/pensadores-classicos-sociologia.htm
http://www.grupoescolar.com/pesquisa/a-origem-da-sociologia.html
http://www.infoescola.com/sociologia/auguste-comte-e-a-lei-dos-tres-estados/#
http://www.mundociencia.com.br/sociologia/sociologia.htm
http://www.travessa.com.br/SOCIOLOGIA_DAS_RELIGIOES_CONSIDERACAO_INTERMEDIARIA/artigo/e69554bc-d77b-4664-b3f3-8e559dc7ac7b

--------------------------------------------------
1. Claude-Henri de Rouvroy, Conde de Saint-Simon, foi um filósofo e economista francês, nascido em 17 de Outubro de 1760, e um dos fundadores do socialismo moderno e teórico do socialismo utópico. Propôs a criação de um novo regime político-econômico, pautado no progresso científico e industrial, em que todos os homens dividissem os mesmos interesses e recebessem adequadamente pelo seu trabalho. Faleceu no dia 19 de Maio de 1825, em Paris.
2. Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) foi um filósofo alemão. Recebeu sua formação no Tübinger Stift (seminário da Igreja Protestante em Württemberg). Foi um dos criadores do idealismo alemão. Seu cômputo historicista e idealista da realidade como uma Filosofia europeia completamente revolucionada denota que foi, de fato, um importante precursor da Filosofia continental e do marxismo.
3. Friedrich Engels (1820-1895) foi um teórico revolucionário alemão que junto com Karl Marx fundou o chamado socialismo científico ou marxismo. Ele foi coautor de diversas obras com Marx, sendo a mais conhecida o “Manifesto Comunista”. Também ajudou a publicar, após a morte de Marx, os dois últimos volumes de “O Capital”, principal obra de seu amigo e colaborador.

Farias, M. S. "Sociólogos notáveis". Outubro de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima.

Licença Creative Commons
Esta obra de Farias, M. S., foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.
 
Licença Creative Commons
Diálogo Livre de Farias, M. S. et alia é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.

Blog Archive