quarta-feira, 21 de maio de 2014

O desabafo de uma médica brasileira.

- Hoje, enquanto me distraía pelas publicações de amigos, em minha conta pessoal no Facebook, eu me deparei com o texto que segue, supostamente escrito por uma médica brasileira. Digo supostamente por que não consegui "rastreá-lo" até a origem. Mas seja como for, quem o escreveu fê-lo com tanta sinceridade que me comoveu, de verdade. Dessa forma, mesmo sem conseguir entrar em contato com a autora referenciada e pedir-lhe permissão, eu o resolvi publicar aqui. Vale a pena lê-lo até o fim. Não é um escrito contentor de conteúdo político ou no qual se faça qualquer tipo de crítica partidária - absolutamente! Trata-se do mais sincero externar de "desabafo" do que parece ser um boa profissional.
- Farias, M.S.

O desabafo de uma médica brasileira.

"Dilma, deixa eu te falar uma coisa!
“Sou Fernanda Melo, médica, moradora e trabalhadora de Cabo Frio, cidade da baixada litorânea do estado do Rio de Janeiro.
“Este ano completo 7 anos de formada pela Universidade Federal Fluminense e desde então, por opção de vida, trabalho no interior. Inclusive hoje, não moro mais num grande centro. Já trabalhei em cada canto...
“Você não sabe o que eu já vi e vivi, não só como médica, mas como cidadã brasileira. Já tive que comprar remédio com meu dinheiro, porque a mãe da criança só tinha R$ 2,00 para comprar o pão.
“Por que comprei?
“Porque não tinha vaga no hospital para internar e eu já tinha usado todos os espaços possíveis (inclusive do corredor!) para internar os mais graves.
“Você sabe o que é puxadinho?
“Agora, já viu dentro de enfermaria? Pois é, eu já vi. E muitos. Sabe o que é mãe e filho dormirem na mesma maca porque simplesmente não havia espaço para sequer uma cadeira?
“Já viu macas tão grudadas, mas tão grudadas, que na hora da visita médica era necessário chamar um por um para o consultório porque era impossível transitar na enfermaria?
“Já trabalhei num local em que tive que autorizar que o familiar trouxesse comida ( não tinha, ora bolas!) e já trabalhei em outro que lotava na hora do lanche (diga-se refresco ralo com biscoito de péssima qualidade) que era distribuído aos que aguardavam na recepção.
“Já esperei 12 horas por um simples hemograma. Já perdi o paciente antes de conseguir um mera ultrassonografia. Já vi luva descartável ser reciclada. Já deixei de conseguir vaga em UTI pra doente grave porque eu não tinha um exame complementar que justificasse o pedido.
“Já fui ambuzando um prematuro de 1Kg (que óbvio, a mãe não tinha feito pré natal!) por 40 Km para vê-lo morrer na porta do hospital sem poder fazer nada. A ambulância não tinha nada...
“Tem mais, calma! Já tive que escolher direta ou indiretamente quem deveria viver. E morrer...
“Já ouvi muito desaforo de paciente, revoltando com tanto descaso e que na hora da raiva, desconta no médico, como eu, como meus colegas, na enfermeira, na recepcionista, no segurança, mas nunca em você.
“Já ouviu alguém dizer na tua cara: meu filho vai morrer e a culpa é tua? Não, né? E a culpa nem era minha, mas era tua, talvez. Ou do teu antecessor. Ou do antecessor dele...
“Já vi gente morrer! Óbvio, médico sempre vê gente morrendo, mas de apendicite, porque não tinha centro cirúrgico no lugar, nem ambulância pra transferir, nem vaga em outro hospital?
“Agonizando, de insuficiência respiratória, porque não tinha laringoscópio, não tinha tubo, não tinha respirador?
“De sepse, porque não tinha antibiótico, não tinha isolamento, não tinha UTI?
“A gente é preparado pra ver gente morrer, mas não nessas condições.
“Ah Dilma, você não sabe mesmo o que eu já vi! Mas deixa eu te falar uma coisa: trazer médico de Cuba, de Marte ou de qualquer outro lugar, não vai resolver nada!
“E você sabe bem disso.
“Só está tentado enrolar a gente com essa conversa fiada. É tanto descaso, tanta carência, tanto despreparo...
“As pessoas adoecem pela fome, pela sede, pela falta de saneamento e educação e quando procuram os hospitais, despejam em nós todas as suas frustrações, medos, incertezas...
“Mas às vezes eu não tenho luva e fio pra fazer uma sutura, o que dirá uma resposta para todo o seu sofrimento!
“O problema do interior não é falta de médico. É falta de estrutura, de interesse, de vergonha na cara. Na tua cara e dessa corja que te acompanha!
Não é só salário que a gente reivindica. Eu não quero ganhar muito num lugar que tenha que fingir que faço medicina. E acho que a maioria dos médicos brasileiros também não.
“Quer um conselho?
“Pare de falar besteira em rede nacional e admita: já deu pra vocês!
“Eu sei que na hora do desespero, a gente apela, mas vamos combinar, você abusou!
“Se você não sabe ser "presidenta", desculpe-me, mas eu sei ser médica, mas por conta da incompetência de vocês, não estou conseguindo exercer minha função com louvor!
“Não sei se isso vai chegar até você, mas já valeu pelo desabafo!".
Fernanda Melo.

Imagem extraída do "Google Imagens" e acrescentada à postagem pelo Diálogo Livre.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Vítimas ou cúmplices?

Olá, em um primeiro momento gostaria de me apresentar. Me chamo Janaina Melo, sou acadêmica do 1º semestre do curso de Jornalismo, na Universidade de Cruz Alta e sou nova por aqui. Em minha primeira publicação, viso abordar um assunto bastante discutido pelas pessoas e que dispõe de diversas maneiras de interpretação: A mídia e o seu amplo poder de manipulação.



Muitas pessoas, ao entrarem em contato com algum dos veículos de comunicação, questionam-se sobre o que está sendo veiculado, outras, no entanto, simplesmente ''absorvem'' o conteúdo, seguindo-o sem ao menos fazer o esforço de refletir a cerca. Algumas programações se dão de forma apelativa, e usam de ''artimanhas'' nem sempre corretas para cativar a atenção das pessoas, adquirindo cada vez mais audiência.
Um dos programas mais assistidos da televisão brasileira é o ''Brasil Urgente'', veiculado na Band e apresentado pelo bastante conhecido, Datena. O programa geralmente aborda questões polêmicas e crimes corriqueiros na sua programação, e o que é inegável é a capacidade do apresentador em persuadir os telespectadores para que assistam o programa até o final. O programa todo se desenvolve de forma apelativa e com um extremismo desnecessário. E então surge a pergunta: Os telespectadores persuadidos são vítimas até que ponto? A partir de que momento, tornam-se cúmplices da mídia sensacionalista?
Penso que, programas como este só ''sobrevivem'' no cenário da comunicação porque conquistaram um público fiel, que em hipótese alguma abandonam os Datenas e seus altos poderes de expressarem opiniões através de palavras muitas vezes grotescas e desnecessárias.
O comentário acima não é uma crítica direta ao programa Brasil Urgente, tampouco ao apresentador do mesmo, e sim um convite a reflexão. Proponho que as pessoas busquem uma informação mais livre de opiniões pessoais, para que possam ter a liberdade de formular sua própria opinião, sem interferência, sem influência.
Acho louvável a coragem de apresentadores como Datena e Raquel Sherazade em expor suas opiniões sem medo da represália, contudo, defendo a ideia de que cada pessoa é livre para pensar, sem influências.

       Janaína Melo: "Vítimas ou cúmplices?". Maio de 2014. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons 4.0 International. Deve ser citada conforme especificado acima.

Licença Creative Commons
Este obra de Janaína Melo está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em discente.farias@gmail.com.

sábado, 17 de maio de 2014

Unimultiplicidade social

Breve esclarecimento: em 2013, minha então professora de Produção Textual, senhorita Marlise Klug, propôs à turma o desenvolvimento de um artigo personalizado acerca do livro "A menina que veio de longe", da escritora Andrea Ilha. À época, por sermos o último ano de Ensino Médio pelo antigo curriculum e, consequentemente, os últimos a ter a disciplina de Produção Textual, ela sugeriu a criação de um livro, concretamente um e-book, no qual se reunisse todos os artigos dos alunos de ambos os terceiros anos. Na ocasião eu lhe pedi que não publicasse o meu artigo junto aos demais, pois eu o julgava inferior em relação aos trabalhos que eu já havia apresentado a ela anteriormente. Fui atendido. Hoje, no entanto, tive certa saudade de minha turma. Rememorando meu terceiro ano, esse mesmo artigo me ocorreu como um dos dois trabalhos mais desafiadores durante todo o curso. Ele, de certa forma, marca o início da evolução do pensar, isto é, assinala o começo da exigência de um pensar mais complexo, mais amplo... Embora eu ainda não goste muito do que tenha composto, resolvi publicá-lo pelo valor simbólico que ora adota. O outro trabalho desafiador que tive, por mais que eu deseje, não poderei publicar: trata-se de um artigo de Sociologia sobre as múltiplas consequências da Revolução Industrial; eu o compus inteiramente a manuscrito e a professora Rosa jamais me devolveu - e eu não guardei qualquer cópia.
17/05/2014.
***
Unimultiplicidade social

Resumo: o presente objeto de estudos visa apresentar uma modesta e pouco aprofundada análise dos elementos que constituem a formação social dos indivíduos e o comportamento destes ante as estruturas historicamente desenvolvidas da sociedade, embasando-se, para tanto, na obra “A menina que veio de longe”, de autoria de Andréa Ilha, e na composição musical “Terra de Gigantes”, do outrora vocalista da consagrada banda gaúcha “Engenheiros do Hawaii”, Humberto Gessinger. Notar-se-á que, a influência familiar e os modelos comportamentais impostos pelo corpo social afetam extensamente não apenas o comportamento do indivíduo, mas também a forma como ele se auto-representa.


O ser humano está longe de ser um elemento simples de compreender: trata-se de um organismo profundamente complexo, tanto biológica quanto filosoficamente. Do momento em que nasce ao que morre experimenta diversas influências e busca, a cada uma delas, situar-se no espaço e no tempo: saber quem é; o que pode ser; o que almeja para si e, sobretudo, sobressair-se às expectativas muitas vezes tanto mais do mundo do que propriamente suas. Contudo, para que o indivíduo seja capaz de lidar com tais questões, surgidas naturalmente em certo momento de sua existência, precisa, a priori, de uma bem estruturada relação familiar, pois é no seio da família onde ele terá suas primeiras influenciações, as quais determinarão ferrenhamente o modo como ele irá relacionar-se futuramente com os seus semelhantes. Além disso, outro fator determinante à capacidade do indivíduo em viver é sua a sua habilidade de relacionar-se com as mudanças e as vicissitudes da vida. Nem sempre é fácil compreender que para evolucionar é preciso partir das zonas de conforto e dedicar-se a experiências novas, tampouco que não se pode sempre controlar a tudo. E é justamente essa inabilidade em lidar com as frustrações e com as adversidades o que compromete, muitas vezes, a interação social, pois é justamente com os erros, com os fracassos, com vieses do acaso que se obtém a aprendizagem e o conhecimento necessários à compreensão das “mil maneiras como sofrem e pensam as pessoas”. Compreensão esta fundamental para que se viva harmoniosamente dentro da estrutura social, por que do contrário passa a viver-se como que em ilhas e, como todo bom personagem literário ilhado, a enlouquecer-se lucidamente.


Parte I: do livro e sua análise

“A menina que veio de longe”, livro de estreia da escritora Andréa Ilha, conta a história de uma jovem menina vítima do abandono afetivo familiar e que sofre com o vício de seus pais, bem como com as mudanças frequentes em sua vida.

É inegável o papel da família à constituição moral, intelectual, afetiva e social dos indivíduos. Quando as relações familiares são tumultuadas ou escassas é comum, segundo psicólogos, que as crianças desenvolvam um comportamento menos sociável e uma grande carência afetiva, tal como é o caso da protagonista, expresso nas seguintes passagens: “[...] Dulce se viu plantada na frente de toda turma, sozinha, assustada. […] como é que conseguiria se apresentar? [...]” / “[...] achava que nunca teria novos amigos naquela escola [...]” / […] Tudo estava muito confuso para Dulce! […] estava se sentindo muito mal e muito só. Chorava tanto! Queria que os pais estivessem aqui, apenas para dar um beijinho de aniversário! [...]”. Em longo prazo, quando não sanados os possíveis traumas de infância por tais fatores ocasionados, é de se supor a formação de adultos emocionalmente ou mesmo psicologicamente comprometidos.

Em função disso, estudos contemporâneos indicam que o alcoolismo, da mesma forma que o vício em outras drogas – lícitas ou não – está associado, dentre outros fatores, mais diretamente a questões emocionais que abrangem desde o trato familiar ao social. No livro, os pais de Dulce utilizavam-se da bebida como um “facilitador” da realidade: “[...] Pai... bebe não […]” / “Mas, ô, filhota... Como eu vou suportar? O pai precisa de alguma coisa para não sentir essa dor [...]”. Além disso, ambos os progenitores possuíam histórico de relações familiares conturbadas. Com o tempo e a assiduidade o vício engessou-se de maneira que lhes foi a ruína última – não muito divergente da realidade que se vê noticiada amiúde.

Ademais, viver e conviver, tanto em família quanto em sociedade, exige de cada indivíduo uma grande flexibilidade e sensibilidade para lidar com as adversidades e imprevistos que se podem suceder, bem como certa estabilidade emocional, como salienta o trecho: […] “Querida, tu não pode ser assim! Não é bacana repreender os amigos desse jeito”/ […] / “Eu te entendo, querida, e até concordo que devemos ser sinceros com os nossos amigos. Mas, tu estás conhecendo ela agora! Tente ser mais paciente [...]” . É importante que se saiba como e quando exprimir um juízo. Deve-se saber compreender as divergências e as particularidades de cada um, adaptar-se tanto aos indivíduos quanto aos contextos, compreender a “uni-multiplicidade” da humanidade. Desta forma desenvolve-se não somente o trato social como também a habilidade de se lidar com as vicissitudes.

Desta forma, compreende-se que as relações familiares, sobretudo durante a infância, são determinantes para a formação emocional e psicológica dos indivíduos e, por conseguinte, a maneira como este irá relacionar-se com o mundo quando adulto. Se o ambiente onde a criança cresce for instável e participação dos pais defectiva, é muito provável que a mesma siga esse modelo de ser, ou ainda que não tenha um pleno desenvolvimento das competências sociais, vindo mais tarde a compensar suas carências nalgum vício – mais comumente em drogas, sejam lícitas ou não. Em função de tal desestrutura, alguns psicólogos apontam que bom percentual dos indivíduos busca acomodar-se em qualquer condição, desde que ela proporcione o alívio de seus medos; assim, muitos temem mudanças e frustações, não conseguem lidar com esse tipo de evento, o que acarreta não serem capazes de adquirir conhecimento de mundo, de mudarem com as vicissitudes e viverem em sociedade. Porquanto, infere-se o papel nucelar indelével da família face à sociedade, e desta última para com cada membro seu no sentido de tornar a existência um prazer e não um flagelo.

Parte II: da música “Terra de gigantes” e sua análise

Hoje, mais que nunca, vivemos em um mundo de gigantes da indústria, da Arte, do intelectualismo, da religiosidade e de diversos outros segmentos sociais. E, como é de se supor, quem não for tão grande deve tomar o cuidado de não ser esmagado e buscar crescer logo ou ao menos encontrar uma forma de subsistir em sua pequenez. Desta forma, nossos dilemas pessoais – ainda que tão universais – fazem-se irrelevantes aos grandes, de modo que a transição de uma fase da vida para outra, as crescentes exigências da sociedade e o processo de amadurecimento do pensamento geram um sentimento de solidão e irrelevância a quem desponta para o mundo adulto.

 Enquanto somos infantes o mundo nos é uma nova fantástica – e a recíproca é verdadeira. Os livros e os adultos nos permeiam de sonhos e valores de forma tal que somos induzidos à crença de uma realidade ideal, onde vemos o mundo com simplicidade e sabemos tudo o que queremos ter e ser. Todavia, esta fase um dia expira e logo principiam as insatisfações, como se percebe no eu-lírico: “[...] eu tenho uma guitarra elétrica / durante muito tempo isso foi tudo / que eu queria ter. [...]”. Surge, então, a necessidade de novos desafios e também da contemplação mais profunda da realidade.

Desta forma dá-se, gradativamente, o processo de evolução da complexidade do pensar, o qual pode apresentar-se complicado e mesmo sofrido para muitos, como parece ser o caso do eu-lírico: “[...] Mas, hey mãe! / Alguma coisa ficou pra trás / Antigamente eu sabia exatamente o que fazer [...]”. É nesse período que medos e incertezas avultam-se ao passo que passamos a observar o mundo mais diverso, mais profundo e complexo com tantas possibilidades e variáveis que nos fogem do alcance. Tentamos elencar, assimilar tudo isso, mas por vezes a bagagem cognitiva ainda é pouca para tanto, de forma que se principia a perceber a complexidade da existência e sentirmo-nos não mais tão “ímpares” e seguros, e sim confusos e incertos abrindo caminho às questões de cunho existencialista.

Não obstante ter de lidar com tantos dilemas pessoais – e tão comuns à humanidade – como o é o amadurecimento, os processos de formação, a escolha de uma profissão, a busca pelo emprego sonhado etc., tem-se ainda de digladiar com as arcaicas e mesquinhas estruturas ideológicas sociais onde o que vale é o produto de um processo e não o processo em si, de maneira que o indivíduo é tratado como mercadoria em função de sua força de trabalho: “[...] nessa terra de gigantes / que trocam vidas por diamantes [...]”. Nesse contexto, o indivíduo passa sentir-se só no mundo, preso a “uma ilha a milhas e milhas de qualquer lugar”; abandonado enquanto ser “bio-psico-social” e percebido apenas como um objeto necessário, tal como uma mera e inanimada engrenagem ao funcionamento das estruturas econômicas.

Portanto, compreende-se que, hodierno, nossas sociedades tão modernas exigem que cada vez mais cedo os jovens abandonem os sonhos e utopias que toda infância dita saudável proporciona e que deveriam, segundo um sentimento arraigado à alma do mundo, nortear a formação da têmpera do ser humano ideal, ainda que passível de falhas. Impuseram-se tantos padrões e exigências, tantos modelos de ser, ter e agir que a idiossincrasia, a humanidade de cada um ser vai sendo olvidada e, para que se atenda a tantas demandas, está-se a viver em uma eterna correria que nos faz antecipar tudo, de modo que, ao invés de viver-se cada fase da existência profundamente – e quedar-se ao cabo naturalmente preparado à próxima –, pretende-se fazer de cada dia o último e nele viver toda uma vida sem jamais pensar no amanhã. Nessa insanidade de morte, de desprezar o esplendor da existência, nem mesmo que se dispusesse da eternidade haveria tempo bastante. Porquanto se precisa saborear melhor a vida e viver mais profundamente e não velozmente, pois como já disseram “o tempo não para” e nem tudo é fabricável ou comercializável, a exemplo da felicidade.

Considerações finais

Viver é interagir com mudanças, adequar-se a situações e evoluir através da aprendizagem com os erros e as dificuldades. No mundo de hoje os jovens, sobretudo, não-raro veem-se lidando com problemas como o desemprego, o abandono e as mudanças que a vida e a sociedade exigem.

Desde muito cedo somos alertados sobre a necessidade de evoluirmos intelectualmente, socialmente; falam-nos das mudanças e de sua benfazeja existência. Ocorre que nem sempre estas mudanças são bem-vindas ou desejadas; por vezes nos acomodamos em um contexto e nos recusamos a abandoná-lo. No geral ansiamos por um porvir esplêndido, mas tememos as incertezas e o não sermos capazes de lidar com elas.

O desemprego, por exemplo, é um dos principais temores de muitos brasileiros, preponderantemente dos jovens que estão ingressando no mercado laboral, repletos de metas e sonhos. A autonomia financeira dignifica, uma vez que seja assaz degradante a condição de pedinte, dependente da boa vontade alheia ou de parentes.

Em tais contextos, onde o jovem ou mesmo o adulto encontra-se à mercê de outrem, podem ocorrer situações de abandono, deixando o indivíduo em uma situação ainda mais desesperadora. O abandono familiar, expresso muitas vezes na falta de compreensão e apoio dos familiares, quando aliado ao menoscabo social, muitas vezes manifestado pela inobservância das qualidades e aptidões em detrimento de outros aspectos supérfluos e/ou imorais, tais como a predileção fundamentada em aparências e bajulações, pode apontar para um quadro depressivo ou de desesperanças, bem como corroborar com problemas sociais.

Desta forma, temos que a sociedade e a própria vida exigem de nós uma imensa maleabilidade e capacidade de adequação ao ambiente, tal como um camaleão capaz de camuflar-se, e assim proteger-se garantindo sua subsistência, em qualquer meio. Contudo, por mais que nos preparemos às mudanças, sempre teremos de conviver com medos e incertezas, de maneira ou outra; assim, precisamos evitar os “acomodadores”, como diz Paulo Coelho, e seguirmo-nos aprimorando, pois somente podemos – e precisamos dessa certeza única – contar com as nossas capacidades e conhecimentos, com nós mesmos... Dos demais devemos cobrar apenas uma atitude friamente racional em relação as nossas qualidades e ações, uma contemplação do mérito, tão-somente. Afinal, como diz Malba Tahan: “o homem só vale pelo que sabe”...

Referências
ILHA, Andréa. “A menina que veio de longe”. 1ª ed. São Paulo: All Print Editora, 2012. 79 p.
IstoÉ, 07 de maio 2008, p. 21;

IstoÉ, 04 de novembro 2013,

SciELO: A Scientific Electronic Library Online.

Psicoterapêutico

VARELLA, Dráuzio.  “Dependência química”.
< http://drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/dependencia-quimica/

SCHNORRENBERGER, Andréa S. “A família e a dependência química: uma análise do contexto familiar”. Florianópolis: UFSC, Centro Sócio Econômico,

Departamento de serviço social. Fevereiro de 2003.
< http://tcc.bu.ufsc.br/Ssocial288588.PDF>

Qualidade Simples

Oncomédica: ajudando pessoas a vencer desafios.

Resiliência.
< http://pt.wikipedia.org/wiki/Resili%C3%AAncia_(psicologia)>

“Engenheiros do Hawaii”: “Terra de Gigantes”, composição de Humberto Gessinger.
< http://letras.mus.br/engenheiros-do-hawaii/12906/>

Ana Carolina: “Unimultiplicidade”, composição de Tom Zé

Hopcraft; Hopcraft; Flint; Janszen; Germain. “Duma”. [Filme-vídeo]. Produção de Carol Cawthra Hopcraft, Xan Hopcraft, Carol Flint, Karen Janszen, Karen Janszen, Mark St. Germain. EUA: Warner Bros, 2005. 1 DVD, 100 min. color. son.

WEST, Morris. “As Sandálias do Pescador”. --. Rio de Janeiro: Distribuidora Record de servicios de impensa, S.A., 1963. 264 p.

COELHO, Paulo. “O Zahir”. --. Rio de Janeiro: Rocco, 2005. 316 p. 


***

ANEXOS



I “Terra de Gigantes”
Compositor: Humberto Gessinger


Hey mãe!
Eu tenho uma guitarra elétrica
Durante muito tempo isso foi tudo
Que eu queria ter

Mas, hey mãe!
Alguma coisa ficou pra trás
Antigamente eu sabia exatamente o que fazer

Hey mãe!
Tem uns amigos tocando comigo
Eles são legais, além do mais,
Não querem nem saber
Que agora, lá fora
O mundo todo é uma ilha
A milhas e milhas
De qualquer lugar

Nessa terra de gigantes
Que trocam vidas por diamantes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes

Hey mãe!
Já não esquento a cabeça
Durante muito tempo
Isso foi só o que eu podia fazer
Mas, hey mãe!
Por mais que a gente cresça
Há sempre alguma coisa que a gente
Não consegue entender

Por isso, mãe
Só me acorda quando o sol tiver se posto
Eu não quero ver meu rosto
Antes de anoitecer
Pois agora lá fora,
Todo mundo é uma ilha
A milhas, e milhas, e milhas...

Nessa terra de gigantes
Que trocam vidas por diamantes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes

Mega, ultra, hiper, micro, baixas calorias,
Kilowats, gigabites
Traço de audiência
Tração nas quatro rodas
E eu, o que faço com esses números?
Eu, o que faço com esses números?

Nessa terra de gigantes
Eu sei, já ouvimos, tudo isso antes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes

Hey mãe.....hey mãe



II “Unimultiplicidade”
Compositor: Tom Zé

Neste Brasil corrupção
pontapé bundão
puto saco de mau cheiro
do Acre ao Rio de Janeiro
Neste país de manda-chuvas
cheio de mãos e luvas
tem sempre alguém se dando bem
de São Paulo a Belém
Eu pego meu violão de guerra
pra responder essa sujeira
E como começo de caminho
quero a unimultiplicidade
onde cada homem é sozinho
a casa da humanidade
Não tenho nada na cabeça
a não ser o céu
não tenho nada por sapato
a não ser o passo
Neste país de pouca renda
senhoras costurando
pela injustiça vão rezando
da Bahia ao Espírito Santo
Brasília tem suas estradas
mas eu navego é noutras águas
E como começo de caminho
quero a unimultiplicidade
onde cada homem é sozinho
a casa da humanidade.



Farias, M.S.: "Unimultiplicidade social". Maio de 2014. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima.

Licença Creative Commons
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com

terça-feira, 13 de maio de 2014

A redentora desprezada.

   Na data 13 de Maio de 1888, a Redentora, Sua Majestade Imperial, Dona Isabel I, Imperatriz Constitucional e Defensora Perpétua do Brasil, assinou a Lei Áurea concedendo liberdade ao povo negro. Depois que a lei áurea foi aprovada pelos deputados, o Documento foi apresentado para a assinatura da princesa Izabel, O Conde d’Eu, nessa ocasião, teria tido um momento de hesitação: “Não o assine, Isabel. É o fim da monarquia”. Ao que ela respondeu: “Assiná-lo-ei, Gaston. Se agora não o fizer, talvez nunca mais tenhamos uma oportunidade tão propícia. O negro precisa de liberdade, assim como eu necessito satisfazer ao nosso Papa e nivelar o Brasil, moral e socialmente, aos demais países civilizados”.
   É uma pena que, menos de um ano depois, os saqueadores tenham conseguido dar um golpe e acabar com nossa monarquia. Vejo muitos dizerem que a Imperatriz fez pouco em face do que o negro enfrentou a posteriori, todavia, não vejo nenhum desses reconhecer que o Império nunca teve oportunidade de implementar planos de inserção do negro à sociedade brasileira por causa do golpe republicano - e os republicanos nada fizeram pelos ex-escravos depois que usurparam o poder: difamaram a monarquia e prometerem o que nunca cumpriram!
   Há quem prefira enaltecer o 20 de novembro, em memória de um déspota traído pelos seus, do que reconhecer o ato de nobreza da eterna Defensora do Brasil - puro racismo... A Majestade contou, ao menos em sua época, com a lealdade daqueles que sempre confiaram em sua justiça e em sua propensão a este ato de genuína democracia. 
   13 de Maio é a verdadeira data da libertação, da proclamação da igualdade. 
Salve, Sua Majestade Imperial, Dona Isabel I, a Redentora, Imperatriz Constitucional e Defensora Perpétua do Brasil!

Farias, M.S.: "A redentora desprezada". Maio de 2014. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima.

Licença Creative Commons
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Bauhaus

“A rigor, não há muita diferença entre o artesão e o artista”.

Com esse aforismo se poderia sintetizar, um tanto vagamente, o ideal da Bauhaus, a mais importante instituição de ensino de arte de todos os tempos.
Seu idealizador, o arquiteto alemão Walter Gropius, servira na Primeira Grande Guerra e, ao observar as catástrofes produzidas por esse conflito, expandiu suas ideologias, até então tidas por utópicas, de criar uma escola de arte e desenho capaz de transformar o mundo, onde a máquina servisse em benefício do homem.
Quando surgiu, em 1919, na cidade de Weimar, Alemanha, a Bauhaus já possuía uma ideologia bastante distinta das escolas de arte de então: ela reunia em si as oficinas de ensino técnico; o ensino de arte, tipografia, desenho industrial, arquitetura e outros ofícios. Além disso, possuía um ensino “democrático” e dinâmico, em invés do tradicional rigor das instituições convencionais: ela permitia que alunos e professores trabalhassem juntos. Também visava o ensino às pessoas de classe média, coisa até então impensada, pois normalmente somente aqueles de classe alta estudavam arte.
Conforme foi ganhando repercussão, a Bauhaus transformou-se no “pesadelo” das escolas convencionais, em razão de suas metodologias revolucionárias de ensino, que reuniam metafísica, abstracionismo, expressionismo e mesmo o subjetivismo, já que se buscava incentivar o aluno a encontrar sua forma particular de trabalhar. Os mestres exortavam seus aprendizes a desenvolver suas habilidades produzindo peças, antes mesmo de desenhá-las. Ela reunia o trabalho artesanal e também mecânico.
Uma das grandes inovações da Bauhaus foi que o ensino de fabricação de peças era ensinado pelos mestres e pelos artesãos, enquanto que o projeto artístico de tais peças advinha dos artistas.
Grandes nomes como: László Moholy-Nagy pintor, fotógrafo, pioneiro em ensinar design; Johannes Itten, criador de disco de cores, que permite a escolha de tons harmoniosos, além de, junto a Kandinsky e Paul Klee, desenvolver o curso básico obrigatório – curso este que unificou a Bauhaus de todas as épocas, o qual punha ênfase sobre associação de cor e geometria, na tentativa de padronizá-las cientificamente -, lecionavam na Bauhaus. Kandinsky dizia que as formas geométricas primárias transmitiam sensações semelhantes às cores primárias, desta forma, ele associou o azul ao círculo, o amarelo ao triângulo e o vermelho ao quadrado.
A Bauhaus também se utilizava do teatro como forma de unificar seu ensino, pois reunia harmônica e expressivamente todas as formas de arte ensinadas: arquitetura, desenho, pintura, tecelagem etc., estimulava a criatividade, sendo, portanto, parte essencial  do ensino.
A Bauhaus também trabalhou com a fotografia, foi uma das primeiras a trabalhar com efeitos de luz e sombra, de sobreposição de imagens e montagens.
Sendo uma escola de design, contribui também para uma renovação do mobiliário. A princípio do século passado, o mobiliário muitas vezes não passava de grosseiras imitações e repetições de estilos arcaicos; a Bauhaus então revoluciona criando móveis mais leves, adaptados ao bom-gosto, além de serem economicamente mais acessíveis, por serem constituídos de materiais reaproveitados. Essas inovações, embora tenham chegado ao Brasil ainda no começo de século XX, demoraram algumas décadas para serem produzidas.
Por essa época, a Alemanha passava por uma crise econômica, desta forma, a Bauhaus utilizava-se de material de ferro-velho em suas obras, algo bem mais barato e, segundo a visão de hoje, ecologicamente correto. Eles chegaram a produzir uma casa de componentes pré-fabricados, completamente mobiliada pelas oficinas da Bauhaus, ambientalmente correta, barata e fácil de viver. A “Casa am Horn”, como fora chamada, representava um passo na construção de um mundo melhor, apesar de ser experimental. Seu custo de produção era tão baixo, que qualquer operário qualificado era capaz de erguê-la, ou comprá-la com todas as comodidades modernas inclusas: calefação central, banheiro, etc.
A Bauhaus teve um papel fundamentalíssimo no desenvolvimento da arquitetura moderna, ela criou um novo tipo de artista: o desenhista industrial. Infelizmente, foi obrigada a fechar por decisão de Hitler, mas não sem antes ter cumprido uma missão: devolver à arquitetura sua posição de arte maior, esquecida, provavelmente, desde parte da Idade Média, ou antes, mesmo dos tempos das grandes construções romanas, gregas, etc. 
Os membros da Bauhaus, ainda instalada em Weimar, eram normalmente mal vistos pela população em função de sua aparência despojada: eles usavam cabelo comprido, rabo-de-cavalo; produziam música moderna e coisas tidas à época como estranhas... Alguns alunos chegaram a pintar as estátuas de Goethe e Schiller, situadas à frente do teatro de Weimar, de vermelho. Um fato interessante de se mencionar, ainda em tempo, é que Weimar era na época um centro cultural de toda Alemanha, razão pela qual, muito provavelmente, tenha sido escolhida por sede da Bauhaus.
Quando o partido nazista começou a ganhar força em Weimar, os mestres da Bauhaus
decidiram por fechá-la, antecipando-se ao governo. Mais tarde, ela foi reaberta em Dessau, uma cidade com poder econômico maior, além de ser mais industrializada. Durante esse período as ideologias de ensino já haviam passado por algumas modificações como, por exemplo, tendo-se tornado mais racionalista o ensino e a produção. Durante algum tempo ela voltou-se à produção industrial, tornando-se quase que completamente funcionalista; quando Mies van der Rohe assumiu a direção da Bauhaus, por volta de 1930, ficou um tanto escandalizado com isso, pois sendo amigo de Kandinsky e de Klee, desejava restabelecer a arte como fundamento da instituição, sem, contudo, abandonar a disciplina.
Rohe fez a Bauhaus voltar sua atenção à arquitetura e vetou toda e qualquer forma de envolvimento político,  proibição que, no entanto, não foi cumprida, uma vez que os membros da instituição eram fortemente ideológicos e, não-raro, se envolviam em manifestações e protestos políticos.
 Assim como correu em Weimar, o partido nazista ganhou força em Dessau e, desta vez, obrigou o fechamento definitivo da Bauhaus, dizendo-a centro de ideias comunistas, judias e cosmopolitas. Os saldados nazistas tomaram o suntuoso prédio de sua sede, que havia sido construído pelos membros da escola, com técnicas inovadoras, em menos de um ano e inteiramente mobiliado pelas suas oficinas. Jogaram pelas janelas todo maquinário e transformaram o local num detestável destacamento do partido de Hitler.
Em 1934 Kandinsky teve de abandonar a Alemanha, coagido pela política hitleriana. Estabeleceu-se na Grã-Bretanha, onde foi nomeado professor da renomadíssima Universidade de Harvard, em 1937. Posteriormente, fixou-se nos Estados Unidos, desenvolvendo, junto a Marcel Breuer, seu antigo discípulo, considerável número de obras.
As ideias de Kandinsky sobre o ensino de Arte e Arquitetura receberam grande aceitação e passaram a prevalecer, sendo empregadas, ainda hoje, por instituições como a Universidade de Yale, Instituto de Tecnologia de Illinois, Brooklyn College. Considera-se que Chicago, nos E.U.A., seja uma das maiores expressões das técnicas de arquitetura desenvolvidas pela Bauhaus.


Farias, M.S.: "Bauhaus". Maio de 2014. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima.

Licença Creative Commons
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com
 
Licença Creative Commons
Diálogo Livre de Farias, M. S. et alia é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.