segunda-feira, 30 de abril de 2012

"Poemas Inconjuntos", Fernando Pessoa.

Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.
As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço,
Da trovoada de depois de amanhã?
Tenho a certeza, mas a certeza é mentira.
Ter certeza é não estar vendo.
Depois de amanhã não há.
O que é isto:
Um céu azul, um pouco baço, umas nuvens brancas no horizonte,
Com um retoque de sujo em baixo como se viesse negro depois,
Isto é o que hoje é,
E, como hoje por enquanto é tudo, isto é tudo.
Quem sabe se eu estarei morto depois de amanhã?
Se eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã
Será outra trovoada do que seria se eu não tivesse morrido.
Bem sei que a trovoada não cai da minha vista,
Mas se eu não estiver no mundo,
O mundo será diferente - 
Haverá eu a menos -
E a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada.

***
(10/07/1930)
Pessoa, Fernando, (1888-1935). Poemas de Alberto Caeiro:  obra poética II. Porto Alegre, L&PM, 2010. 137 p.

domingo, 29 de abril de 2012

Maikéle, nossa mais nova escritora!

   Maikéle Farias, uma amiga e colega de escola passa a fazer parte de nossa equipe de escritores do "Diálogo Livre". Competente e criativa, Maikéle dentro em breve começará a postar seus belos textos com temas e gêneros diversos. Como criador do "Diálogo Livre" sinto-me muito honrado com a aceitação de todos estes bons escritores em participar da equipe. Maikéle, seja muito bem-vinda ao "Diálogo Livre"! 

Dois guardiões da natureza.


"Dois espíritos de luz
São de pátrias diferentes
Mas a terra é sempre a mesma
A pedir boas sementes.

Um que fala português,
Outro que fala espanhol,
Mas o idioma é um só,
A estrela dos dois é o Sol.

Quem costurou seus destinos,
Quem os fez almas irmãs
Brincarem feito meninos
No verde destas manhãs?

Com delicada paciência,
Cuidam árvores nativas
Que outros fariam fogo,
Liquidando matas vivas.

Porongos artesanais,
Frutos livres de venenos,
Brotam de seus ideais
Que tantos acham pequenos.

A moeda imediatista
Não lhes compra essa verdade:
Viver como ecologista
Numa nova sociedade.

Dona Celeste, seus olhos
São azuis de um livre céu;
Dom Paisano, deitam brisas
Nas abas de seu chapéu.

A terra onde seus pés
Sonham pulsar um viveiro
Suporta todo o revés
Pois seu sonho é verdadeiro.

Enquanto tantos desmatam,
Matam o que é natural,
Ouvem tantos que bravatam:
"compensação ambiental".

Se alimentam com a bravura
De viver enternecido,
Sorvendo a literatura
Num país tão pouco lido...

Paisano fez um Pinóquio
Todo feito de porongo,
E os dois pensam que o nariz
Cada vez fica mais longo.

Prometem rios, oceanos,
E eles querem somente
Traçar os seus verdes planos
Com paz e dignamente,
No lugar que foi Fazenda,
Que ainda chamam Rubira
E que a "Conquista da Luta"
Nem sempre é boa labuta:
Devolve pouco e mais tira!

Dona Celeste e Paisano,
Duas almas por exemplo,
Que esta Terra, sem engano,
É mais que casa - é um templo."


  Farias, Juarez Machado de. "Dois guardiões da natureza". Abril de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
        Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima.

Licença Creative Commons
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.

   Poema escrito por Juarez Machado de Farias, em 29 de abril de 2012, após visita do autor com o Secretário Municipal do Meio Ambiente, Professor Marcones Madruga Farias, em 28 de abril de 2012, ao lote rural ocupado desde 2001 pelo casal Edinson Carmelito Rodríguez (Paisano) e Celeste Joana Mosmann.
   Por proposição do Vereador Juarez Machado de Farias, os dois receberão, durante a Semana Municipal do Meio Ambiente de Piratini, o Troféu Ecológico João Modesto Madruga, por seus relevantes serviços prestados em preservação à mata nativa existente no lote rural cedido pelo INCRA, situado no 2º Distrito de Piratini, lugar denominado "Rubira" (Assentamento Conquista da Luta).
Um dos objetivos da homenagem é chamar a atenção das autoridades federais para a urgente concessão de compensação ambiental para Celeste e Paisano pois a área que lhes foi cedida pelo Programa Nacional de Reforma Agrária é, em verdade, ocupado, grandemente, por árvores nativas, logo, é inconcebível que, em tempos de tantas lutas e mecanismos e legislativos de cunho preservacionista, se incentive que se faça desmatamentos em um lugar que deve ser uma RESERVA! 

Ana Menires, bem-vida à equipe!

    Atendendo a nosso pedido, Ana Menires, mais conhecida por "Anhy" juntou-se a nossa equipe de autores do "Diálogo Livre". Anhy é poeta, cronista, cheia de habilidade para escrever e com experiência. Dentro em poucos veremos seus belos textos aqui publicados. Seja bem-vinda à nossa equipe! 

sábado, 28 de abril de 2012

Juarez Machado de Farias, seja bem-vindo à equipe do "Diálogo Livre"!

   Senhores leitores, de fato esta semana está sendo muito aprazível a este blog e, é com grande satisfação que comunico-vos que o poeta, escritor e radialista piratiniense, Juarez Machado de Farias aceitou nosso convite para participar da equipe de escritores do "Diálogo Livre". Breve teremos o prazer de ler seus textos aqui publicados. Seja muito bem-vindo a nossa equipe!

Bem-vinda, Ana Carla!

   Realmente esta sexta-feira está sendo uma dádiva ao "Diálogo Livre". Depois da grande colaboração de Douglas, da bem-vinda colaboração de Joana como nossa mais nova autora, recebemos também, para reforçar ainda mais este time, a Ana Carla, dona do "Simples Estudante". A partir de agora ela também passa a compor o time de autores colaboradores deste blog. Bem-vinda!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Joana Pereira, nossa primeira autora colaboradora.

   Prezados leitores, é com grande alegria que vos comunico que hoje ganhamos uma nova colaboradora, minha amiga e colega de escola, Joana Pereira. Aos poucos veremos suas belas postagens neste blog, a partir do dia 11 de Maio começaremos a postar seus escritos. A primeira crônica com que esta ilustre parceira nos agracia, chama-se "Um adeus sem despedida". Para deleitar-lhes, algumas linhas:
   
   "De fato, não é comum contar uma história começando pelo final, porém, sem saber o fim não haverá um começo.
   Era sexta-feira, seis de agosto de 2010, fazia frio neste dia. Lembro que estava atrasada para ir à escola.
   Deveria ser umas quatro horas da tarde, uma amiga disse que eu e meu irmão iríamos mais cedo para casa. Foi um silêncio aterrorizante até a metade da viagem, quando resolveram contar, minha prima estava junto.
   Foi neste momento que desejei que este silêncio nunca tivesse terminado. [...]". (Pereira, Joana. "Um adeus sem despedida". http://livredialogo.blogspot.com.br/ - todos os direitos reservados).

   Ficou curioso pelo resto do texto? Dia 11 de Maio ele será publicado na íntegra! 

Estamos com um novo visual...

   Hoje, 27 de Abril de 2012, este blog estreia um novo design, cortesia de Douglas Dutra (o carinha da foto), proprietário do blog  "Café, Poesia & Ideias". A nova aparência é dinâmica, com um ar mais sóbrio retratando o ideal pretendido pelos autores. Agradecemos enormemente a criatividade, disponibilidade e bom grado de Douglas. Obrigado! 

   

Arnaldo Jabor fala sobre o Rio Grande do Sul.

Pois é. O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos. 
Olham o escândalo na televisão e exclamam 'que horror'.


Sabem do roubo do político e falam 'que vergonha'.


Veem a fila de aposentados ao sol e comentam 'que absurdo'.


Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem 'que baixaria'.

Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'. E pronto! Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.

Do ressentimento passivo à participação ativa'.

Pois recentemente estive em Porto Alegre, onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.

Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.

Abriram com o Hino Nacional. Todos em pé, cantando.

Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.

Fiquei curioso. Como seria o hino?

Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra!

'Como a aurora precursora / do farol da divindade, / foi o vinte de setembro / o precursor da liberdade '.

Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão. Com garrafa de água quente e tudo. E oferece aos que estão em volta.

Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem.

E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista, não estou acostumado.

Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'. 

Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo. Aliás, você sabia que

São Paulo tem hino? Pois é... Foi então que me deu um estalo.

Sabe como é que os 'ressentimentos passivos' se transformarão em participação ativa?

De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil? De São Paulo é que não será.

Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo. Os paulistas perderam a capacidade de mobilização. Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.

São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.

Cada um por si e o todo que se dane. E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.

Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa 'liga'. A mesma que eu vi em Porto Alegre.

Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo.

Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles. De minha parte, eu acrescentaria, ainda: 

'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'

Arnaldo Jabor.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Para os que esperam que tudo "caía do céu"...

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Farias, M. S. “Para os que esperam que tudo 'caía do céu' ”. Abril de 2012. http://livredialogo.blogspot.com/
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sexta-feira, 13 de abril de 2012

sexta-feira, 6 de abril de 2012

“Política às rebatinhas”.

Lima Barreto escreveu em Recordações do escrivão Isaías Caminha: “Foi com grande surpresa que não senti naquele doutor Castro [deputado] [...] nada que denunciasse tão poderosas faculdades. [...] Nada nele manifestava que tivesse um forte poder de pensar e uma grande força de imaginar, capazes de analisar as condições de vida de gentes que viviam sob céus tão diferentes e de resumir depois o que era preciso para a sua felicidade e para o seu bem-estar em leis bastante gerais [...]. [...] o legislador tinha que ter ciência [...]. A Quiromancia e a Matemática, a Grafologia e a Química, a Teologia e a Física [...]”.  Observa ainda: “[...] as palavras de Fagot [deputado] lhe morriam nos lábios: movia a boca e gesticulava como um doido furioso”.
Qualquer semelhança entre a cena descrita e a nossa política atual é mera obra do acaso... É incrível como ainda nossa política contemporânea é tão alquebrada! É deveras lamentável que em tantas décadas desde que o livro citado foi escrito pouco ou nada se tenha alterado no agir de nossos políticos. Quiçá se a política, via de regra, fosse exercida por indivíduos graduados, intelectuais, com histórico límpido, fibra moral, ética, valores enfim (quanta pretensão...), essa anarquia, ou melhor, a entropia da política brasileira tivesse termo. Mas, o que se pode esperar se até mesmo um palhaço de letramento duvidoso se fez eleito deputado federal (o mais votado!), senão um circo? Um circo onde “doidos furiosos” proferem com infeliz assiduidade discursos verborrágicos, no afã de transmitirem a ideia de defenderem ideais benéficos a seus representados, quando, na verdade, em maioria dos casos, desgraçadamente, o que vigora é o pungente interesse subjetivo.
Transcorrem os anos e a inércia da sociedade frente a essa tétrica realidade se faz preocupante, pois enquanto os de fato “doutores Castro e Fagot” da atualidade enchem os bolsos de dinheiro público, o povo é cada vez mais lesado, com um sistema de saúde coletivo defectivo que só funciona exemplarmente no papel, um processo educacional que não foge a essa circunstância... dentre outros tantos quesitos de monta pública que conservam-se “a ver navios” e que somente caem às vistas de nossos políticos quando aproximam-se as eleições. Ora, claro! Pois eles têm consciência que novamente o povo lhes “concederá a confiança”...
Recorde-se que um terno não representa a capacidade intelectual de um político. Zomba Barreto quanto à ostentação intelectual do trajar: “[...] as gravatas pareciam dizer-me: Veste-me, ó idiota! Nós somos a civilização, a honestidade, a consideração, a beleza e o saber. Sem nós não há nada disso; somos, além de tudo, a majestade e o domínio!”.
Desperte sociedade brasileira e observe as (in)consequências que possuem o voto, a eletiva de um representante político. O jogo de interesses particulares que se sustenta por detrás da política nacional. Dentro em pouco teremos novas eleições, destarde, rogo-lhes que avaliem mais criteriosamente seus escolhidos, que acima do interesse pessoal da escolha, ponha-se o bem-estar da sociedade. Que se faça ver através da espessa bruma da aparência (no sentido mais amplo do termo), o verdadeiro intuito de quem lhe pede a confiança do voto, do contrário, vestiremos, ou melhor, continuaremos a vestir a Túnica de Néssus dos políticos.
Farias, M. S. “Política às rebatinhas”. Abril de 2012. http://livredialogo.blogspot.com/
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