segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A Rosa Desfolhada

Tento compor o nosso amor
Dentro da tua ausência
Toda a loucura, todo o martírio
De uma paixão imensa

Teu toca-discos, nosso retrato
Um tempo descuidado
Tudo pisado, tudo partido
Tudo no chão jogado

E em cada canto
Teu desencanto
Tua melancolia
Teu triste vulto desesperado

Ante o que eu te dizia
E logo o espanto e logo o insulto
O amor dilacerado
E logo o pranto ante a agonia

Do fato consumado
Silenciosa
Ficou a rosa
No chão despetalada

Que eu com meus dedos tentei a medo
Reconstruir do nada:
O teu perfume, teus doces pelos

A tua pele amada
Tudo desfeito, tudo perdido
A rosa desfolhada




terça-feira, 3 de novembro de 2015

Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas?

Resenha:
Sovienski, Fernanda; Stigar, Robson. Recursos Humanos x Gestão de Pessoas. Gestão: Revista Científica de Administração, v. 10, n. 10. Jan/jun 2008.

Com a Revolução Industrial e a divisão do trabalho, as empresas tiveram necessidade de gerenciar seu relacionamento com os funcionários e, conforme a Administração se foi consolidando ao longo da História, diversas abordagens foram construídas, refletindo, também, as transformações sofridas pelas sociedades e pelas empresas nelas inseridas: de uma clássica metáfora mecanicista à coeva metáfora orgânica.
Organizado em poucas secções, o artigo de dez páginas, com léxico carente, logo repetitivo, visa demonstrar as divergências conceituais/estruturais da tradicional área de Recursos Humanos em relação à moderna Gestão de Pessoas.
Tal como as empresas mudaram e as sociedades, a percepção sobre o empregado transformou-se, passando de mero recurso substituível a uma compreensão complexa da dimensão humana, onde fatores sociais, psicológicos e intelectuais adotam centralidade em detrimento da rotatividade de um elemento descartável.
A ideia é que a Gestão de Pessoas, ao revés dos Recursos Humanos, trate o empregado como um colaborador, parte essencial da organização, capacitando-o, moldando-o a ela, ao passo que o “emancipa”, fazendo-o mesmo mais qualificado para o mercado. Reconhece sua humanidade e visa, por ela, humanizar a empresa, propiciando um ambiente mais relacional entre todos os atores (chefes, empregados de diferentes setores...).
Em que pese os treinamentos e a maior participação dos empregados nas decisões da empresa, promovidos por essa nova percepção, fato é que Gestão de Pessoas faz-se um eufemismo para Recursos Humanos, uma visão romântica da empresa e do funcionário. A própria TGA e a Psicologia das Organizações demonstram que as relações humanas são complexas e cada indivíduo possui fatores específicos de motivação – daí as diversas teorias motivacionais: do homo æconomicus ao homo socialis. E, indiferente de qual seja a abordagem motivacional, o objetivo é sempre o mesmo: controle.
Mesmo a Gestão da Qualidade Total, que engloba muitos aspectos daquilo que os autores atribuem à Gestão de Pessoas, é vista como uma eficaz forma de administração por controle cultural. A ética a que se referem os autores não existe concretamente senão na forma de código deontológico, vez que ética é matéria de estudo da Filosofia.
É passível de inferência que com as transformações sociais, culturais, econômicas e políticas ao longo das décadas, as empresas precisaram adequar-se, especializarem-se cada vez mais. A antiga percepção do empregado como um recurso descartável passa a ser um custo. Um funcionário recrutado corretamente, em constante desenvolvimento pela empresa, isto é, aperfeiçoamento, gera maiores lucros, pois quão maior o capital intelectual, mais valioso o capital humano, maior a vantagem competitiva da organização e, consequentemente, maiores esforços ela fará para manter esse funcionário – é necessário preservar o investimento!
No entanto, isso não implica que as organizações com fins lucrativos estejam mais “humanizadas”, e sim que se preocupam com a rotatividade. Os mecanismos de cogestão são também uma forma de ampliar sua eficiência, mas em hipótese alguma a força dos “colaboradores” será maior que a da Diretoria, sobretudo no que tange aos rumos da empresa. É verdade que as políticas de Gestão de Pessoas quando efetivamente aplicadas criam maior satisfação para os empregados e para a empresa, mas é preciso muito cuidado para que ela não se torne apenas mais um método extremamente eficiente de controle que beneficie acima de tudo a empresa.
Não fosse o número limitado de uma página, eu diria mais: Gestão de Pessoas é uma forma de manipulação psicológica que dura até o momento em que não convém mais ao empregador manter o “colaborador”, o qual, por sua vez, recorrerá à Justiça do Trabalho por seus direitos enquanto empregado, mesmo por que a CLT não reconhece “colaboradores”, tampouco a etimologia de empregado é pejorativa como a tentam fazer os críticos do RH. Ocorre que o RH evoluiu para uma forma interna de marketing: Gestão de Pessoas. 


Farias, M. S. "Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas?". Outubro de 2015. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima. 
Licença Creative Commons

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O marketing efetivamente cria necessidades ou apenas as descobre?

Atividade de recuperação da primeira semana de aulas



Conforme o capítulo sugere, o Marketing implica a análise de uma série de variáveis psicológicas, sociais e culturais que influem na tomada de decisões do cliente na hora da compra, a fim de que se projetem ou configurem produtos e/ou serviços capazes de, “por si só”, numa paráfrase à citação de Drucker, venderem-se. Uma política de marketing bem elaborada pode ser a diferença entre sobreviver e falir em um mercado altamente competitivo e com clientes igualmente exigentes.

Hoje, os compradores possuem maior instrução e, portanto, melhores critérios do que há 70 anos, por exemplo. Além disso, a revolução tecnológica propiciou uma enxurrada de informações técnicas e trocas de experiências empíricas de compradores sobre todo tipo de produto ou serviço. A oferta de certo produto pode ser muito atrativa, mas a reputação do fabricante, do vendedor ou do próprio produto muito negativa em sites como “ReclameAqui” ou no próprio “eBay”. Esse tipo de dado afeta a decisão de compra, podendo mesmo levar o cliente a questionar-se sobre o real valor do produto.
Desse modo, não adianta apenas os profissionais de marketing descobrir necessidades latentes, mesmo por que, isso não garante a venda – o concorrente pode identificar essa mesma necessidade e ofertar o mesmo produto mais barato. É preciso também “criar” uma necessidade, ou, como o texto sugere, “influenciar o cliente a descobri-la”. O próprio exemplo dos smartphones: a grande maioria das pessoas sonha com um Iphone graças à ideia não apenas de status, mas de qualidade e eficiência associada ao aparelho; no entanto, essa mesma grande maioria sequer conhece completamente as funcionalidades do smartphone intermediário que possui, quer seja por que não necessita delas, quer seja por que não sabe operar.
Nasce aí uma perspectiva interessante: mais importante que a marca, é o conceito associado a ela. Apple não vende aparelhos eletrônicos, e sim status e qualidade. A Harley-Davidson, dizia um professor de TGA, tinha fama de desconfortável, com péssima estabilidade, contudo, tornou-se um clássico associado à ideia de liberdade – uma necessidade psicológica de todo ser humano, ou, no caso, de altos executivos capazes de adquiri-la. Starbucks vende mais que café: vende um ambiente de “comunidade” de lazer; e a Coca-Cola vende felicidade.
Disso, pode-se inferir que o marketing começa pela identificação de uma necessidade, mas do momento em que se desenvolve o produto ou serviço, passa-se a criar ou influenciar a imagem desses como a única, ou antes, a mais eficaz solução a essa necessidade, embora existam outras tantas além dele. Resulta um mecanismo dinâmico de variáveis objetivas – requisitos técnicos; preço etc. – e subjetivas – o valor do produto, o apelo psicológico: a necessidade criada e o desejo de satisfazê-la.
Talvez por isso questões como políticas de responsabilidade ambiental e social, dentre outras tantas, passam a ocupar vez por outra a correlação com a marca, conforme são valoradas pelo público-alvo, uma vez que isso se reflete na decisão de compra de um produto por ela ofertado. São as necessidades do cliente influenciando a empresa; e a empresa influenciado o cliente a criar a imagem de resposta ideal às suas necessidades.
As empresas de cosméticos e a indústria da moda são bom exemplo. Tradicionalmente, oferecem a “satisfação” de uma necessidade estética dos clientes, ao passo que também impõem um padrão “ideal” que, de alguma forma, “empurra” seus produtos. Hodierno, com uma nova percepção sobre conceitos de beleza, uma nova perspectiva se abre, e empresas como a Avon, por exemplo, passam a incluir modelos mais “gordinhas” em seus comerciais. Assim como marcas de roupas passaram a dar mais atenção ao mercado dito "plus size”.

Logo, o Marketing tanto é influenciado como influencia, num relacionamento dinâmico entre a sociedade, os grupos de indivíduos (público-alvo ou nichos de mercado), o próprio indivíduo e a empresa.

Farias, M. S. "O marketing efetivamente cria necessidades ou apenas as descobre?". Outubro de 2015. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima. 
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domingo, 13 de setembro de 2015

"Povo sem virtude acaba por ser escravo"

Semana passada, conversando com um amigo, esse recordava que certo acadêmico havia escrito que a maneira mais fácil de dominar um povo é aculturando-o. Tal prática pode dar-se ou pela imposição de uma nova cultura ou minando-se a cultura já existente. Hoje me deparo com um texto, compartilhado por alguns antigos professores, de autoria de Juremir Martins no qual ele discorria sobre a "farsa" da Revolução Farroupilha e criticava arduamente os festejos da Semana Farroupilha. Ora, não há aí outra coisa se não uma crítica ácida e desconstrutiva à qual não identifico outra intensão que a de apagar os costumes tão sólidos de um povo em detrimento das crenças e ideologias do próprio colunista.

A cultura de nosso Estado é fortemente ancorada no movimento Farroupilha, nos valores por ele defendidos; no ideal democrático e mesmo liberal que esse representou. A Semana Farroupilha comemora a lembrança de que um "povo que não tem virtudes acaba por ser escravo". Lembra-nos dos costumes do homem do campo e da altivez do povo gaúcho que não aceita que lhe pisem no pala.

A Revolução Farroupilha pode ter sido começada pelos fazendeiros e charqueadores, mas isso não a diminui ou desmerece. Mas, vindo de um jornalista medíocre como Juremir Martins, não se poderia esperar outra coisa.

E, por favor, jamais nos esqueçamos do real significado desse trecho de nosso amado Hino: "Povo que não tem virtude acaba por ser escravo". Não permitamos que nos diminuam, que desfaçam de nossos costumes. Nossa cultura é ser gaúcho, mesmo que nem todos usem pilcha, que entendam do campo ou falem "à moda da casa"; ser gaúcho é muito mais: está na têmpera dos homens e mulheres que nascem e crescem neste chão. Nossa cultura é nossa identidade! Sem identidade quem seriamos? E, mais importante, a quem e com qual propósito interessa apagar nossa identidade?


"Mostremos valor constância, nesta ímpia injusta guerra...".

Farias, M.S.







segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Hino da Independência (Hino do Império do Brasil).

"Já podeis, da Pátria filhos,
Ver contente a mãe gentil;
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil.

"Brava gente brasileira!
Longe vá... temor servil:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil.

"Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil...
Houve mão mais poderosa:
Zombou deles o Brasil.


"Brava gente brasileira!
Longe vá... temor servil:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil.

"Não temais ímpias falanges,
 Que apresentam face hostil;
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.

"Brava gente brasileira!
Longe vá... temor servil:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil.

"Parabéns, ó brasileiro,
Já, com garbo varonil,
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil.

"Brava gente brasileira!
Longe vá... temor servil:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil".






***


Hoje, em meio a tamanho caos na política de condução do Brasil, parece-me, mais que nunca, deveríamos aproveitar a data em que se comemora a Independência para contemplar as virtudes de nosso povo, de nossa terra; refletirmos sobre aquilo que queremos ser e aquilo que somos. O quanto de colonial reservamos em nossos modos toda vez que, de alguma forma, suscitamos que nada no Brasil poderá dar certo em função de seu povo (os políticos são povo!)? E, em contraparte, enaltecemos a grandeza de alhures como que se precisando de um líder. Isso é pensar como dependente.

As coisas vão mal, é fato. Mas as datas em que celebramos a República são outras. É nessas ocasiões que deveríamos protestar, porém cientes de nosso potencial enquanto povo livre e senhor desta terra, "[...] Boa terra! [que ] jamais negou a quem trabalha O pão que mata a fome, o teto que agasalha..." (BILAC, s.d.).

Enquanto não formos capazes de reconhecer o imenso potencial de nosso país e de nós brasileiros, todos os protestos serão gritos de pouco eco, pois o problema não está em outro lugar senão no povo descrente de si e de seu Brasil.

"Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
"[...]
"Quem com seu suor a fecunda e umedece,
vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!" (Olavo Bilac, "A Pátria").

Farias, M.S.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O Que Sou e o Que Faço Neste Mundo


"Involuntariamente, inconscientemente, nas leituras, nas conversas e até junto das pessoas que o rodeavam, procurava uma relação qualquer com o problema que o preocupava. Um ponto o preocupava acima de tudo: por que é que os homens da sua idade e do seu meio, os quais exactamente como ele, pela sua maior parte, haviam substituído a fé pela ciência, não sofriam por isso mesmo moralmente? Não seriam sinceros? Ou compreendiam melhor do que ele as respostas que a ciência proporciona a essas questões perturbadoras? E punha-se então a estudar, quer os homens, quer os livros, que poderiam proporcionar-lhe as soluções tão desejadas.

"(...) Atormentado constantemente por estes pensamentos, lia e meditava, mas o objectivo perseguido cada vez se afastava mais dele. Convencido de que os materialistas nenhuma resposta lhe dariam, relera, nos últimos tempos da sua estada em Moscovo, e depois do seu regresso à aldeia, Platão e Espinosa, Kant e Schelling, Hegel e Schopenhauer. Estes filósofos satisfaziam-no enquanto se contentavam em refutar as doutrinas materialistas e ele próprio encontrava então argumentos novos contra elas; mas, assim que abordava - quer através das leituras das suas obras, quer através dos raciocínios que estas lhe inspiravam - a solução do famoso problema, sucedia-lhe sempre a mesma coisa. Termos imprecisos, tais como 'espírito', 'vontade', 'liberdade', 'substância', ofereciam um certo significado à sua inteligência enquanto se deixava envolver na subtil armadilha verbal que lhe armavam; logo que regressava, porém, depois de uma incursão na vida real, a este edifício que supusera sólido, ei-lo que via desmoronar-se como um castelo de cartas, vendo-se obrigado a reconhecer que o edificara graças a uma perpétua transposição dos mesmos vocábulos, sem recorrer a essa 'qualquer coisa', que, na prática da vida, importa mais do que a razão.

"'Schopenhauer proporcionou-lhe dois ou três dias de serenidade, mercê da substituição a que procedeu em si próprio da palavra 'amor' por aquilo a que o filósofo chamava 'vontade'. Quando o examinou, porém, do ponto de vista prático, esse novo sistema estiolou-se como todos os outros, mero trajo de musselina que era no fundo. Como Sérgio Ivanovitch lhe tivesse recomendado os escritos teológicos de Komiakov, foi ler o segundo volume das suas obras. Embora desanimado logo de início pelo sentido polémico e afecetado do autor, nem por isso deixou de se sentir menos impressionado com a sua teoria da Igreja. A crer em Komiakov, o conhecimento das verdades divinas, recusado a um homem só, é concedido a um conjunto de pessoas que comungam do mesmo amor, isto é, a Igreja. Esta teoria reanimou Levine; uma vez que aceitasse a Igreja, instituição viva de carácter universal, com Deus à frente, e santa infalível por conseguinte, era-lhes mais fácil aceitar os seus ensinamentos sobre Deus, a criação, a queda, a redenção, que principiar do princípio, pelo próprio Deus, esse ser longínquo e misterioso. Infelizmente, tendo lido em seguida duas histórias eclesiásticas, uma de um escritor católico, outra de um escritor ortodoxo, chegou à conclusão de que as duas Igrejas, ambas infalíveis na sua essência, se repudiavam mutuamente. E a doutrina teológica de Komiakov não resistiu mais ao seu exame que os sistemas filosóficos.

"Durante toda aquela Primavera, Levine parecia outra pessoa. Viveu momentos terríveis. 'Não posso viver sem saber o que sou e com que fim fui lançado a este mundo', dizia ele de si para consigo. 'E visto que não poderei chegar a sabê-lo, torna-se-me impossível viver. No tempo infinito, na infinidade da matéria, no espaço infinito forma-se um organismo como uma borbulha, mantém-se por algum tempo, depois rebenta. Essa borbulha sou eu!' Este sofisma doloroso era o único, era o supremo resultado do raciocínio humano levado a cabo durante séculos; era a crença final da base de quase todos os ramos da actividade científica; era a convicção reinante.

"E porque lhe parecia a mais clara, Levine, involuntariamente, deixara-se penetrar por ela. Mas esta conclusão parecia-lhe mais que sofística; via nela como que a obra cruelmente irrisória de uma força inimiga a que era preciso subtrair-se. A maneira de se emancipar disso estava ao alcance de cada um... E a tentação do suicídio perseguiu tão frequentemente aquele homem sadio, aquele feliz pai de família, que tratou de afastar de si todas as cordas e nem sequer se atrevia a sair com a espingarda. Contudo, em vez de se enforcar ou de queimar os miolos, continuaria muito simplesmente a viver".

 (TOLSTOI, Leon. In: "Anna Karenina").

sábado, 22 de agosto de 2015

"A política de proibição das drogas aumenta ou diminui os crimes relacionados a elas?"


"Um problema persistente enfrentado por nossa sociedade é o uso de drogas ilegais, como a heroína, a cocaína, o ecstasy e o crack. O uso de drogas tem diversos efeitos negativos. Um deles é o fato de que a dependência de drogas pode arruinar a vida dos usuários e de suas famílias. Outro é que os viciados em drogas muitas vezes recorrem ao roubo e a outros crimes violentos para obter o dinheiro de que precisam para sustentar seu vício. Para desencorajar o uso de drogas ilegais, o governo norte-americano gasta bilhões de dólares por ano para reduzir o fluxo de drogas que entram no país. Vamos usar as ferramentas da oferta e da demanda para examinar essa política de combate às drogas.

"Suponhamos que o governo aumente o número de agentes federais dedicados ao combate às drogas. O que acontece com o mercado de drogas ilegais? Como de hábito, responderemos a essa pergunta em três etapas. Em primeiro lugar, vamos verificar se as curvas de oferta e demanda se deslocam. Em segundo, vamos verificar a direção do deslocamento. E, em terceiro, vamos ver como o deslocamento afeta o preço e a quantidade de equilíbrio.

"Muito embora o objetivo de uma política de proibição das drogas seja reduzir seu uso, o impacto direto dessa política recai mais sobre os vendedores que sobre os compradores. Quando o governo impede que algumas drogas entrem no país e prende mais traficantes, aumenta o custo de venda das drogas e, portanto, reduz a quantidade ofertada a qualquer preço dado. A demanda por drogas - a quantidade que os compradores desejam a qualquer preço dado - não muda. Como mostra o painel (a) da Figura 9, a proibição desloca a curva de oferta para a esquerda, de O1 para O2, e deixa a curva de demanda inalterada. O preço de equilíbrio das drogas aumenta de P1 para P2 e a quantidade de equilíbrio cai de Q1 para Q2. A diminuição na quantidade de equilíbrio mostra que a proibição das drogas reduz seu uso.

"Mas o que acontece com a quantidade de crimes relacionados às drogas? Para responder a essa pergunta, considere a quantia total que os usuários de drogas pagam pelas drogas que compram. Como são poucos os viciados em drogas que abandonarão seus hábitos destrutivos por causa de um aumento nos preços, é provável que a demanda por drogas seja inelástica, como indica a figura. Se a demanda é inelástica, então um aumento nos preços aumenta a receita total do mercado de drogas. Ou seja, como a proibição das drogas aumenta o preço destas proporcionalmente mais do que do que reduz seu uso, ela eleva a quantidade total de dinheiro que os usuários pagam pelas drogas que compram. Os viciados que já tinham de roubar para sustentar seus hábitos terão uma necessidade ainda maior de dinheiro rápido. Assim, a proibição das drogas pode aumentar o nível de crimes ligados a elas.

"Por causa desse efeito adverso da proibição das drogas, alguns analistas sugerem abordagens alternativas para o problema das drogas. Em vez de procurarem reduzir a oferta, os formuladores de políticas deveriam tentar reduzir a demanda por meio de uma política educacional. Uma bem-sucedida política educacional quanto às drogas tem o efeito representado no painel (b) da Figura 9. A curva de demanda desloca-se para a esquerda de D1 para D2. Com isso, a quantidade de equilíbrio cai de Q1 para Q2 e o preço de equilíbrio cai de P1 para P2. A receita total, que é o preço multiplicado pela quantidade, também cai. Assim, ao contrário de uma política de proibição das drogas, uma política educacional contra elas pode reduzir tanto seu uso quanto os crimes relacionados a elas".




MANKIW, Nicholas Gregory. Introdução à Economia: Princípios de Micro e Macroeconomia. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.

Sobre política e livre-arbítrio

Acho curioso como algumas pessoas negam o livre arbítrio. Dizem-se, por exemplo, que as cartas de azar destroem famílias e fortunas, que as armas matam, que a bebida desgraça, que as redes sociais destroem relacionamentos... Ora, e quanto aos que manejam tudo isso? A responsabilidade inerente às escolhas, ao descuido das pessoas é amiúde repassada à coisas inanimadas ou mesmo imateriais.
Assim também ocorre na política. Queixamo-nos da corrupção, mas não da nossa, evidente: da corrupção dos políticos que elegemos! E, francamente, qual outro critério a maioria dos eleitores utiliza se não os benefícios particulares que espera lograr votando neste ou naquele candidato daquele ou deste partido? A intensão do voto deveria ser um ato de cidadania, de civismo, não cinismo.
Qual a diferença entre as pequenas trapaças e corruptelas que praticamos no quotidiano daquelas que os políticos, os empresários proeminentes e o seu chefe praticam? O que muda, diria um amigo sábio, é o tamanho da oportunidade!
Se admitirmos certo comportamento em nome de uma satisfação pessoal simplesmente por que "isso não vai prejudicar ninguém", ou por que "não faz diferença", mesmo sabendo do incorreto que o é, estamos permitindo uma flexibilização de nossos valores. Conforme a oportunidade cresce e esse comportamento se torna habitual, a dimensão da corrupção aumenta.
Vejo dizer que vivemos uma crise ética. Discordo. Ética é matéria de estudo da Filosofia; não se impõem: ela serve para estudar a moral - e ainda assim requer uma perspectiva, como diria um professor de Legislação Social. A "ética" à qual estamos habituados é, na verdade, código deontológico.
Penso que vivemos uma "crise" de consciência, onde cientes da hierarquia de nossos valores, toleramos comportamentos e práticas sem a coragem de submetê-los à essa mesma hierarquia. E, por isso mesmo, é mais conveniente atribuir a qualquer outro que não a cada um em sua medida a responsabilidade por consequências desastrosas.

Como disse Thatcher:
 "Cuidado com seus pensamentos porque se convertem em palavras. Cuidados com tuas palavras porque se convertem em ações. Cuidado com tuas ações porque se tornam hábitos. Cuidado com os teus hábitos porque eles formam teu caráter. Cuidado com teu caráter porque se torna o teu destino. Nós nos tornamos naquilo em que pensamos".


Farias, M. S.

sábado, 15 de agosto de 2015

Análise do Documentário sobre a fórmula Black-Scholes:

Trabalho apresentado à disciplina de Teoria
Econômica como requisito parcial à aprovação.


Introdução


O assim intitulado “Documentário sobre a fórmula Black-Scholes” refere ao desenvolvimento de tal formulação matemática. Inicia-se abordando um dos problemas associados à especulação acionária de mercado: os riscos sobre retorno de investimento. Em outros termos, os riscos relativos a se comprar algum ativo em detrimento de outro e os rendimentos desse serem menores que os daquele.

Com base em suas experiências, os “traders” compram e vendem ativos nos pregões das bolsas de valores, alguns ganham maior notoriedade devido à suas altas taxas de acerto, isto é, de lucro sobre a compra de ações, por exemplo. No documentário, Leo Melamed, notório trader, fala sobre a intuição como principal ferramenta de escolha na negociação desses ativos.

Porém, acadêmicos passaram a estudar o mercado financeiro e a atuação dos traders a fim de buscar compreender seu funcionamento e mesmo “domar” o mercado. Esses estudiosos realizaram uma série de experimentos chegando à conclusão nada lisonjeira aos traders de que o mercado de capitais funciona de maneira tão aleatória que qualquer tipo de análise ou escolha metódica seria impossível, de maneira que os traders não teriam outro tipo de experiência se não em contar com a sorte.

Se há 10.000 pessoas olhando para as ações, assim 1 a cada 10.000 vai marcar, por acaso, uma grande ação. Isso é tudo o que está acontecendo. É um jogo, uma operação de oportunidade. As pessoas pensam que estão fazendo algo proposital, mas realmente não estão (MILLER[1] apud DOCUMENTÁRIO...).

Assim, por algum tempo, sugere o documentário, os acadêmicos desistiram de buscar domesticar o mercado, até que em 1950 o professor Paul Samuelson deparou-se com o quase extraviado trabalho de Louis Bachelier, no qual se afirmava serem imprevisíveis os preços das ações, mas possível livrar-se dos riscos através das opções. Tudo o que lhe faltava era uma fórmula matemática capaz de avaliar amplamente tais opções. Isso fez com que os acadêmicos voltassem a estudar o Mercado com mais ânimo.

A partir desse novo fôlego aos estudiosos, seguiram-se inúmeras tentativas de prever o comportamento do mercado a fim de se minimizar os riscos e maximizar os lucros. Muitas delas descambaram em fórmulas matemáticas gigantescas, abstratas e inaplicáveis, a partir das quais, mais tarde, Black e Scholes iniciaram seus trabalhos, chegando à concepção da famosa notação capaz de atribuir um preço justo e coerente a uma opção com base na variação de uma ação.

Uma opção, segundo os próprios Black e Scholes apud Oga (2007) “são espécie de derivativo, um contrato que dá a seu titular o direito de comprar ou vender um ativo, sob certas condições, num determinado período de tempo”, enquanto que os Derivativos são documentos cujo valor de negociação deriva de outros ativos.

Para melhor entendermos imagine-se a seguinte situação: ao decidir comprar certa bicicleta, o indivíduo pesquisa, de loja em loja, o preço. Em certo estabelecimento ele a encontra por R$ 500,00, valor que considera satisfatório. Porém, prefere pesquisar em mais algumas lojas. Para não perder a compra, propõem ao dono da loja que lhe guarde a tal bicicleta pelos mesmos R$ 500,00 até às 18 horas do dia seguinte, pagando, para tanto, uma quantia de R$ 5,00.

Nesse caso, o ativo é a bicicleta; o valor da opção, também chamado de prêmio, é R$ 5,00; o strick, também conhecido como preço de exercício é R$ 500,00, ou seja, é o valor pelo qual o indivíduo terá direito de comprar a bicicleta no prazo de exercício, que nesse caso é até às 18 horas do dia seguinte.

 Black-Scholes

Scholes e Black com base na literatura econométrica disponível à época começaram a trabalhar em uma nova formulação, sem aqueles conceitos imensuráveis e desnecessários, chegando aos elementos básicos da equação: o preço das ações, sua volatilidade, a duração da opção, a taxa de juros e o nível de risco.

Esse último, no entanto, era um problema ainda imensurável, até que por meio de uma espécie de experimento promovido por eles com uma carteira teórica de ações e opções, desenvolveram o conceito de “hedging dinâmico”, isto é, uma forma de equilíbrio do valor global da certeira por meio de aplicações/apostas contrárias aos movimentos de flutuação desse valor. Dessa forma, o hedge é uma forma de seguro contra as oscilações de preços por meio da especulação. Logo, eles puderam eliminar o risco de sua equação – o grande “milagre” da fórmula Black-Scholes.

Porém, mensurar o risco, na prática, era tanto mais difícil, considerando que o mercado move-se rápido demais. O cálculo seria tardio. Assim, com base na fama de Robert Merton, Black e Scholes o contatam e, a partir de então, ele passa a tomar parte no desenvolvimento da fórmula, adaptando o Cálculo de Ito[2] à formulação, permitindo que o risco fosse continuamente eliminado pelo constante recalcular da opção, viabilizado pela ideia de tempo contínuo.

O Modelo Black-Scholes, o qual permite precificar, isto é, pôr um preço numa opção com base no valor das ações[3], foi finalmente publicado em 1973, na edição maio-abril do “Journal of Political Economy”.

Posteriormente Scholes e Merton[4]  fundaram o “LTCM”, um fundo de investimentos com uma estratégica diferente, mantida em sigilo dos próprios investidores, dentre os quais os maiores bancos do mundo. Graças às suas reputações, Scholes e Merton obtiveram uma receita inicial total de US$ 3 bilhões. Durante os três primeiros anos, o “LTCM” obteve lucros excepcionais, chegando ao ápice da taxa de retorno de 43% aos investidores.

A perspectiva de Scholes e Merton era de que, em longo prazo, as diversas taxas de juros de títulos de governos de diferentes países iriam convergir, de modo que negociavam na diferença existente entre elas. Eles passaram a investir grandes somas em títulos russos, o que lhes levou à falência quando, em 1998 a Rússia declarou moratória. Com base no hedging dinâmico, o “LTCM” parou de comprar papéis governamentais, procurando refúgio nos seguros títulos do governo americano, e a diferença entre as taxas de juros dos títulos aumentou rapidamente. Quando o fundo foi à falência, levou Wall Street ao pânico, conforme Münchau[5], fazendo com que o Federal Reserve System traçasse um plano de recuperação do “LTCM” a fim de evitar uma crise bancária talvez fatal ao mercado de capitais à época.

[...]

Considerações Finais

Como visto, a mercado sempre esteve à mercê do risco. O Modelo Black-Scholes de precificação surgiu como um alento esse problema, permitindo que as carteiras de investimentos fossem mantidas em equilíbrio por meio da prática intitulada pelos autores de “hedging dinâmico”, ao passo que as opções, cujo valor antes era pouco mensurável graças às constantes e aleatórias flutuações do mercado, ganharam um método de precificação com base no preço das ações e com alto grau de exatidão.

O Modelo, grosso modo, analisa como mercado tem se comportado (o preço da ação é em si fruto do comportamento do mercado e ela é um dado central no calculo do preço da opção) e, com base nesses dados, formula como se há de comportar.
É claro que diversos fatores podem influenciar o grau de acerto do cálculo. Por exemplo, o cálculo demonstrativo feito pelo site “EPXX.CO[6]” em 27 de novembro de 2007:

“[...] vamos calcular uma opção de acordo com o fechamento de hoje. Vale do Rio Doce (VALE5) fechou com a cotação de 52.06 (na verdade fechou a 51,90 no aftermarket, mas vamos considerar o fechamento oficial, pois opções não têm aftermarket). A volatilidade anual da Vale, calculada de acordo com o último mês, é de 46,92%. A taxa de juros atual é 11,75% ao ano. A opção VALEL50, com strike de 49,66, expira dia 17/12. Jogando tudo isso na calculadora, o resultado é 3,64. Isso quer dizer que o valor "justo" da opção é 3,64 [...].No entanto, VALEL50 fechou hoje cotada à 3,97. O que isso quer dizer?  Pode querer dizer que qualquer dos fatores citados acima (sem ágio, rendimentos aleatórios e tendentes à taxa de juros) podem não ser verdade”.

O site argumenta que como não existe método melhor que o Black-Scholes, os negociadores preferem atribuir essa discrepância dos valores ao que chamam de “volatilidade implícita”. Essa noção de volatilidade se explica pela lei da oferta e da demanda: há muitos compradores de ações da VALEL50 , que adquirem essas ações na esperança de que elas se valorizem muito e aumentem o lucro do comprador. Naturalmente isso pressiona a demanda e o preço sobe.


Outro aspecto interessante das opções é que, caso a cotação da ação esteja acima de R$ 3,67, como ocorreu, os compradores poderão compra-la pelo valor de R$ 3,67 ao invés de R$ 3,97. E depois, se quiserem, vende-la por esse maior valor. Por outro lado, quando a opção é de venda e não de compra, o vendedor pode exercer o seu direito de vendê-la por R$ 3,67, mesmo que a cotação da ação esteja, por exemplo, em R$ 2,50, e depois compra-la pelo preço mais baixo.

[...]

Por fim, os intermediários e os traders profissionais, em geral, procuram utilizar-se no processo de negociação não apenas de conhecimento fundamentalista como o Modelo Black-Scholes, mas conforme o próprio documentário evidencia, preferem confiar tanto mais em suas intuições e instintos, afinal, o mercado é imprevisível e aleatório demais para ser teorizado e planificado em fórmulas perfeitas. Tal como Documentário afirma, “há um fascínio tentador e fatal na Matemática”. Mensurar o comportamento é algo ainda impossível para a rigidez do Cálculo!


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1. Merton Miller (1923-2000), professor da Universidade de Chicago, publicou com Franco Modigliani em 1958 o artigo “The Cost of Capital, Corporate Finance and the Theory of Investment” no qual se opõem à perspectiva da Teoria da Empresa.
2. Desenvolvimento pelo cientista japonês Ito para calcular a trajetória de foguetes. Grosso modo, o cálculo permite dividir o tempo em partes infimamente pequenas ao ponto de trata-la como num continuo, o que permitia atualizar constantemente a trajetória dos foguetes.
3. Embora hoje possua uma ampla aplicação em Economia.
4. Black falecera anos antes de todos serem laureados com o Prêmio Nobel pela descoberta da fórmula e, portanto, antes da criação do Fundo.
5. MÜNCHAU, Wolfgang. Os anos de colapso: o estouro da crise econômica mundial. Tradução: Francisco Araújo Costa. Porto Alegre: Brookman, 2014.
6. A FÓMULA de Black-Scholes para precificação de opções. Disponível em: . Acesso em 08 jun. 2015.


Referências 




DOCUMENTÁRIO sobre a fórmula Black-Scholes. Disponível em: . Acesso em: 07 jun. 2015.
OGA, Luiz Fernando. A Teoria da Ciência no Modelo Black-Scholes de apreçamento de opções. 2007, 60 fls.. Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

SOLA, Guilherme; et al. Manual de aplicação do Modelo Black-Scholes para a precificação de opções. INFINANCE. [s.l], [s.d].
TIPOS de investidor. Disponível em: . Acesso em: 07 jun. 2015.






Farias, M. S. "Análise do Documentário sobre a fórmula Black-Scholes:". Junho de 2015. http://livredialogo.blogspot.com.br/

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sexta-feira, 1 de maio de 2015

01 de Maio: Dia do Trabalhador.

“Através dos séculos existiram homens que deram os primeiros passos, por novas estradas, armados com nada além de sua própria visão” (RAND, Ayn. In.: "A Revolta de Atlas).

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domingo, 12 de abril de 2015

A dança do amor

"Teu sorriso faz-me sorrir, dá-me tanta tranquilidade...
Sou feliz.
Quando me abraças apertado sinto-me tão bem contra teu peito, estou segura.
Esse olhar?! Ah, esse olhar de quem ama...
Quanta alegria! Sou amada!
A dança do amor nunca acaba...
Tantos sentimentos, tantos pensamentos!
Nesse turbilhão de emoções, perco-me em mim,
Será possível amar e ser amada assim?
O coração aperta...
Insegurança de quem ama, somente.
Vejo que estás a sorrir... A dança recomeça novamente"



Kah Moreira: "A Dança do Amor". Abril de 2015. http://livredialogo.blogspot.com/
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Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em discente.farias@gmail.com.

quinta-feira, 12 de março de 2015

"Problema de Homens", por José Saramago.

"Vejo nas sondagens que a violência contra as mulheres é o assunto número catorze nas preocupações dos espanhóis, apesar de que todos os meses se contem pelos dedos, e desgraçadamente faltam dedos, as mulheres assassinadas por aqueles que creem ser seus donos. Vejo também que a sociedade, na publicidade institucional e em distintas iniciativas cívicas, assume é certo que só pouco a pouco, que esta violência é um problema dos homens e que o homem tem que resolver.

"De Sevilha e da Estremadura espanhola chegaram-nos, há tempos, notícias de um bom exemplo: manifestações de homens contra a violência. Até agora eram somente as mulheres que saíam à praça pública a protestar contra os contínuos maus tratos sofridos às mãos dos maridos e companheiros (companheiros, triste ironia esta), e que, a par de em muitíssimos casos tomarem aspectos de fria e deliberada tortura, não recuam perante o assassínio, o estrangulamento, a punhalada, a degolação, o ácido, o fogo.

"A violência desde sempre exercida sobre a mulher encontrou no cárcere em que se transformou o lugar de coabitação (neguemo-nos a chamar-lhe de lar) o espaço por excelência para a humilhação diária, para o espancamento habitual, para a crueldade psicológica como instrumento de domínio.

"É o problema das mulheres, diz-se, e isso é verdade. O problema é dos homens, do egoísmo dos homens, do doentio sentimento possessivo dos homens, da poltronaria dos homens, essa miserável covardia que os autoriza a usar a força contra um ser fisicamente mais débil e a quem foi reduzida sistematicamente a capacidade de resistência psíquica.

"Há poucos dias, em Huelva, cumprindo as regras habituais dos mais velhos, vários adolescentes de treze e catorze anos violaram uma rapariga da mesma idade com uma deficiência psíquica, talvez por pensarem que tinham direito ao crime e á violência. Direito de usar o que consideravam seu. Este novo ato de violência de gênero, mais os que se produziram neste fim de semana, em Madrid uma menina foi assassinada, em Toledo uma mulher de 33 anos morta diante de sua filha de seis anos, deveriam ter feito sair os homens à rua. Talvez 100 mil homens, só homens, nada mais que homens, manifestando-se nas ruas, enquanto as mulheres, nos passeios, lhes lançariam flores, este poderia ser o sinal de que a sociedade necessita para combater, desde o seu próprio interior e sem demora, esta vergonha insuportável. E para que a violência de gênero, como resultado de morte ou não, passe a ser uma das primeiras dores e preocupações dos cidadãos. É um sonho, é um dever. Pode não ser uma utopia".

Via: OBVIUS.
 
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