quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

"Você é o que você lê". Não, não é!

 "Você é o que você lê". Li a Constituição, então sou Juiz? Ah, francamente, que apotegma mais estúpido! Como se o espirito humano fosse algo tão simplório e estreito. Além do que, um livro é ruim segundo qual parâmetro, o de quem profere essa idiotice? "Santa" arrogância! Lê-se por lazer, por aprendizagem... A leitura, seja qual for, serve para ampliar horizontes, levantar questões, suscitar novas formas de olhar o mesmo fato. Ninguém se torna o que lê, mas muda por refletir segundo o que leu, por compará-lo a outros e depreender disso alguma nova concepção. "Você é o que você lê" é mais um pseudo-argumento "intelectualóide" para intimidar e coagir outros às suas ideologias. Segundo qual parâmetro um livro é condenado bom ou ruim?

Li "A menina que veio de longe" e detestei. Achei um dos livros mais cansativos e prolixos que já li. A critica que tece é pouco aprofundada e foi um esforço homérico produzir sobre esse livro, tanto que foi necessário usá-lo apenas como fonte do tema e nada mais - para embasamento e reflexão eu empreguei outros escritos e encaixei "a martelo" os fragmentos do tal livro nos trabalhos que tive de fazer - e que, na minha opinião, ficaram uma bosta. Mas ainda que eu não goste desse livro; há quem goste. Há quem tenha se identificado com "A menina que veio de longe" e se inspirado no livro, mesmo até para iniciar sua vida leitora. O fato de eu não gostar ou não ter conseguido entender e/ou refletir sobre os temas ali tratados segundo o prisma da autora, não me dá o direito de dizer que quem lê o livro tem mau-gosto e é prolixo. O livro, seja como for, tem seu valor - que é relativo segundo cada leitor.

Essa história de condenar um livro sendo "bom" ou "mau" e o leitor como um produto dele, é uma insanidade que já vimos há alguns séculos na Idade Média e sua maior expressão chama-se "Index Librorum Prohibitorum".

Cada um tem o direito de emitir um juízo sobre o que lê, sobre o que assiste, até sobre o que come, mas não tem o direito de empurrar suas "verdades" gorja à baixo no demais. Achas que alguém fez mal em ler um livro que tu não gostaste? Então chame para um diálogo e exponha as premissas que te incomodam e os argumentos dela provenientes e escute os argumentos e as premissas alheias. Eu sempre digo: a verdade é como uma fotografia: mostra apenas um ângulo da paisagem - o do fotógrafo!

Tu és o produto das tuas convicções, das tuas ideologias e das tuas ações.

"Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos." (Eduardo Galeano).

Farias, M.S.: "Você é o que você lê". Não, não é!". Fevereiro de 2014.
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4 comentários:

  1. Com essa sua visão imagino que a frase "você é o que você come" pra você seria interpretada assim: Se como cenoura quer dizer que sou um coelho?

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    1. Olá, Anônimo!
      Obrigado por comentar!
      Não. Não seria. Quando escrevi esse texto, minha intensão era justamente evitar esse tipo de inferência. Note que eu digo no texto: " Ninguém se torna o que lê, mas muda por refletir segundo o que leu...". A lógica que busco empregar é que ninguém se torna juiz por ler a Constituição Federal, da mesma forma que ninguém se torna um coelho por comer uma cenoura.
      Esse texto começou no Facebook, há muito tempo, quando um contacto que já não possuo tentou avaliar o meu caráter com base numa novela que li.
      Os livros que lemos, de fato, ajudam a moldar o nosso espírito, mas por si só esses escritos não são capazes de dizer quem somos, portanto, não somos aquilo que lemos, e sim aquilo que inferimos, que depreendemos daquilo que lemos. Lamento que tenhas interpretado dessa maneira. Talvez eu não tenha sido feliz em minha argumentação ou bastante claro em minha escrita. Espero que entendas, afinal, o que eu pretendia dizer com o texto acima.
      Cordiais saudações!

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  2. Devo dizer que amei sua opinião sobre "Você é o que você lê". Vai ser o começo para que possa fazer uma reportagem.
    De uma coisa eu sempre tive certeza, o livro que você lê não define quem você é.

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    1. Olá, Taisa!
      Fico muito feliz com teu comentário!
      Eu adoraria ler tua reportagem depois que tu a publicares! Se tu a publicares na web, manda-nos o link?
      Saudações,
      Farias!

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