quinta-feira, 25 de abril de 2013

Quem fala como quer é entendido como der...

Algumas pessoas tem o descuidado hábito de usarem, em contextos mais humildes, palavras complicadas, usadas na comunicação das altas esferas sociais, muitas vezes para puxar o saco ou encher linguiça, quando não, “dourar a pílula”.  Dessa forma, surgem os mais engraçados equívocos que se pode imaginar...

Um deputado, discursando para uma plateia de muito humilde letramento, assim se referiu: “[...] é homérico o descaso para com este estoico povo! Chega de paliativos, precisa-se agir energicamente [...]”. E por aí seguiu... Algumas pessoas, mais atrás na multidão, que não conseguiam ouvir, perguntavam umas às outras que dizia o orador.  Nasceram pérolas do tipo: “Ah... ele está dizendo qualquer coisa sobre um tal de Américo e parece que ele não fala bem o Português, disse que “estoy con” povo. E o resto tem a ver com palitos e energia, algo radioativo, eu acho...”. Uma semana depois a confusão era tanta que ninguém mais sabia o que o deputado tinha, de fato, dito – o que não era grande coisa, já que muito provavelmente nem ele se escutara...

Outro caso, que até hoje estou tentando entender, está relacionado a uma fala do Papa, anos atrás. Parece-me que, em um discurso, Sua Santidade teria exortado um comportamento mais cristão aos jovens e às mulheres. Não tardou para que no lugar de exortar tenham compreendido excomungar... Imaginem o tumulto que isso causou numa pequena cidadezinha, no interior do Brasil, onde a população, majoritariamente católica, ouviu a noticia e entendeu excomungar por exortar... Pobre do vigário até descomplicar...

Eu mesmo, no começo da vida acadêmica, passei por situações semelhantes... Muito usei de forma errada algumas palavras que ouvia – se por esse período já tivesse desenvolvido gosto pela leitura, não teria passado por tantas situações jocosas. Eis que uma delas foi “elucubrar”. Mas o que seria elucubração? Talvez uma forma de nação? Ou quem sabe de aviação ou televisão? Elucubrar poderia ser uma forma de se fazer cobranças, quem sabe? Um elucubrador bem poderia ser um eloquente cobrador. Ou ainda poderia ser um adjetivo elogioso: “aquele texto é muito interessante, seu autor é mesmo um elucubrado!”.

Um dia, depois de tanto fazer mau uso dessa palavra e passar por situações não muito agradáveis, resolvi pesquisar seu sentido. E o Aurélio me explicou que “elucubrar” nada mais é que realizar alguma atividade ou trabalho à noite utilizando luz artificial – ou seja, todos nós elucubramos todos os dias; embora, em sua definição conotativa – de refletir – poucos o façam.

Viram nada de mais, uma coisa bastante simples. Simples como tomar o cuidado de adaptar a linguagem ao público a fim de se fazer entender. Simples como pegar um dicionário para revisar uma palavra e evitar confusões. Mais simples seria se cada jovem, cada estudante brasileiro, sobretudo, assumisse a responsabilidade de dominar seu idioma; assim evitar-se-iam não somente confusões banais, como também outras bem maiores, que dizem respeito à cidadania – basta que elucubremos... 

Farias, M. S. "Quem fala como quer é entendido como der". Abril de 2013. http://livredialogo.blogspot.com.br/
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