segunda-feira, 14 de maio de 2012

O Ladrão de Maçã

- O que foi filho?
O menino chorando, com as mãos sujas de terra, correu ao encontro da mãe.
- Minha maçã. Roubaram minha maçã.
- Eu te falei para você ficar quietinho lá na escadinha
- O menino veio e pediu um pedaço, eu não dei, ele me tomou e saiu correndo.
- Como ele era?
- Feio, usava um boné preto, cabelo grande, olhos azuis.
- Ele estava com mais meninos?
- Não, era só ele.
A mãe toma as providencias cabíveis e Meia hora depois o guarda municipal traz o menino.
- Olha aqui, o delinquente de maçã. Ele já faz isso há muito tempo. Temos aqui um futuro bandido.
- Foi você que pegou a maçã do meu filho?
O menino baixou a cabeça, e com os dedos dos pés faziam um desenho no chão empoeirado.
 - Moleque, estou falando com você.
O menino parecia não se importar. Quando o guarda deu um tapinha forte na cabeça do menino.
- Responde delinquente.
- Veja só como esta nosso país, uma criança dessa idade e já é ladrão. Pelo jeito, esse menino não tem um futuro brilhante.
- Se o país está assim, a culpa também é sua.
- Como é que é?
- Sou um ladrão de maçã não porque eu quero, mas porque eu não tenho o que comer. Eu pedi um pedaço de maçã para ele, ele me ignorou, disse para eu sair de perto dele, eu estava com fome, peguei a maçã e sai de perto dele.
- Você rouba e coloca a culpa em meu filho?
- Eu vivo na rua, nunca tive pai nem mãe, nunca tive uma casa, nem brinquedo, mas tenho vontade. Vontade de poder pegar um ônibus e ir à escola, vontade de segurar na mão de um adulto sabendo que ele vai me proteger. Vontade de ganhar um pouco de atenção ou uma maçã.


- Eu não tenho nada a ver com seus problemas.
- Não me chame de ladrão ou que eu não tenho um bom futuro. Eu ainda tenho esperança que tudo vai mudar. Eu sei que é errado roubar maçãs de crianças que poderiam ser minhas amigas. Eu tenho fome, desejos, sonhos, eu quero coisas que todos os dias vocês jogam fora, eu quero o abraço que vocês não se importam. Eu quero mais que maçã.
A mulher já estava abismada com o que o menino dizia.
- Eu roubo maçã, mas se eu pudesse roubaria o amor que vocês desperdiçam, roubaria um pouco de colo. Mesmo que fossem restos, mas é melhor que viver nessa solidão, onde só ganho restos de comida, e às vezes tenho que rouba-las para ter. Não sou o ladrão de maçãs, sou o ladrão de sonhos, sonhos que a vida já tirou de mim, eu estou apenas pegando de volta.
A mulher não se conteve e lacrimejou o guarda já o havia soltado, então a mulher agachou-se e abriu os braços, oferecendo ao ladrão de maçãs, o que ele mais deseja roubar, mas que nunca conseguiria, pois era impossível, um abraço esperançoso, e cheio de sentimento.
- Desculpa, desculpa, desculpa.
A mulher soluçava no ouvido do menino.
- Eu sou mais que um ladrão de maçã.
- Eu sei disso, não quis lhe julgar, mas o fiz, então me Perdoa, desconhecia os motivos pelo qual você cometia tal erro.
Ele continuou, como se ele mesmo estivesse forçando a acreditar no que dizia.
- Sou mais que um ladrão de maçãs.
Após alguns minutos. A mulher levantou e disse ao guarda.
- Encaminhe esse menino a um orfanato e me passe o endereço, vou adotá-lo.
O Guarda ficou surpreso com aquele pedido.
- Ele é um ladrão.
- Ele é mais que um ladrão de maçã, ele é um ladrão de sonhos, não quero repetir o mesmo erro duas vezes.
-Soube do seu filho mais velho.
- Então faça o que lhe peço.
Ela novamente se agachou ao menino e sussurrou
- Vai dá tudo certo. Você vai resgatar seus sonhos outra vez.



 Menires, Ana. "O Ladrão de Maçã". Maio de 2012.  http://livredialogo.blogspot.com.br/
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