sábado, 12 de maio de 2012

Transmutada (para minha mãe Izolina).

Escrevi os versos abaixo em 1996, quando minha mãe sofreu um AVC e, então, sua rotina de mulher rural reduziu-se a passos lentos e inseguros. Reaprendeu  a caminhar e, embora as limitações restadas, está com 74 anos de idade.
Desejo a ela e a todas as mães do mundo muita fé e esperança!

***

Transmutada 
(Para minha mãe Izolina)

Minha mãe que foi esteio
E com seus braços me arrancou
                                     Do chão
E me plantou inteiro e verdadeiro
Na terra escura deste coração

E me ensinou todas as coisas
As fábulas boas
As úteis estradas
As úteis coragens
Com mudas mensagens...

 A mãe que me manteve
 A salvo das espadas
 E sempre enrodilhado
 Como as encruzilhadas...

Agora ela divaga
E devagar me afaga
As horas tresnoitadas

Agora eu sou seu pai
Pois ela é de cristal
Enquanto está tão triste,
Quando  resiste e não cai.

Tenho-a sempre igual
Lenta e precisa e às vezes
A inoportuna
Lua diuturna
Senhora dentro da moldura
                Das janelas
Carinho de alegre cancela
Que nos deixa adentrar
E sentar junto à sombra
De uma casa grande e velha.

Quero entrar no seu olhar
Fazer fogo e alimentar
As duas estrelas que brilham
                              Por nós
E então lhe fazer corajosa
Contra o gume da doença
Que nos murcha uma rosa  

Minha mãe hoje é cautela
Já não transpassa o poente
Recolhendo a criação
Recolhe-se na sala e nos reparte
Seu silêncio
Com roncos de chimarrão.

 Queria tanto dizer-lhe (dentro da alma)
 Que todos nós voejamos daqui
 Com asas grandes
 Que nunca se aparam

E se nos separam da casa
Dos nossos filhos, amigos
Nos juntamos a tantos
Que foram

...Que  somos enfim
Sem fim...

Minha mãe agora
Está mais líquida que sólida.

Nas lágrimas claras
Que fazem aguada no seu rosto
Reencontro

Todo o cristal do meu pranto.
As lágrimas claras lhe encharcam
                                  O rosto,
E a menina triste do seu avesso rural
Garimpa em meus olhos
Este pranto e este sal.

****

Minha Mãe:

 Neste dia dedicado a ti,
 Todos os meus dias
 Querem se concentrar em poderoso amor
 A te dizer que és o meu começo
 E meu endereço da mais bela flor.


Farias, Juarez Machado de. "Transmutada (para minha mãe Izolina)". Maio de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
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Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.

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