quinta-feira, 10 de maio de 2012

Um adeus sem despedida.

De fato, não é comum contar uma história começando pelo final, porém, sem saber o fim não haverá um começo.
Era sexta-feira, seis de agosto de 2010, fazia frio neste dia. Lembro que estava atrasada para ir à escola.
Deveria ser umas quatro horas da tarde, uma amiga disse que eu e meu irmão iríamos mais cedo para casa. Foi um silêncio aterrorizante até a metade da viagem, quando resolveram contar, minha prima estava junto.
Foi neste momento que desejei que este silêncio nunca tivesse terminado...

O início...
Pelo que me lembro, acho que eu tinha uns cinco ou seis anos, quando fui morar com meus avós.
Lembro-me dos finais de semana que brincávamos juntos ou conversávamos na beira do fogão à lenha, dias felizes.
Eu ficava na casa de uma tia durante a semana, pois meus pais e avós trabalhavam cedo, às vezes eu chorava de saudades e me levavam para casa.
Depois de algum tempo fomos morar um pouco mais longe deles. Mas eles foram pra perto de mim.
Lembro que todos os dias eu o abraçava e sempre disse que o amava.
Sei também que, ele lutou muito para chegar aonde chegou, os tempos eram difíceis, mas ainda assim ele lutou, até o fim.
Confesso que sempre achei ele teimoso, e admiro muito isso, mas ele teve que parar com tanto trabalho, pois seu coração estava fraco e já era hora de começar à se cuidar.
Mesmo sabendo que não podia continuava fazendo esforço.
Meus avós compraram um terreno perto da cidade e ali construíram uma casa. Minha mãe também começou a construir e morou com eles também.
O que ouvi da minha família...
Minha avó me contou o que havia acontecido. Tudo passou com um filme em minha mente:
“Ele estava peneirando areia para ‘ajudar’ na construção da área de serviços, parou para ir almoçar. Ele ia chegando e eu saindo. Depois voltou ao trabalho, minha avó dizia para ele parar um pouco”.
Os dois foram para a sombra tomar chimarrão, minha avó foi tomar banho e ele disse que ia trabalhar mais um pouco e voltar para o chimarrão.
Essas foram suas últimas palavras, estava caído no chão e minha avó viu seu último suspiro fugir-lhe dos pulmões levando junto dele a vida.
Uma visão...
Há uma semana atrás estávamos conversando à toa quando ele me disse “peço apenas que Deus salve minha família, depois pode me levar.”
Quem me dera poder entender isso antes, lembro-me dos dias felizes e apenas o que me entristece é o fato de nesse dia eu não ter dito:
“Eu te amo vô Luiz!".

Pereira, Joana. "Um adeus sem despedida". Maio de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Deve ser citada conforme especificado acima. 


Licença Creative Commons
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.

0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar, pois sua opinião é muito importante!
Volte sempre!

 
Licença Creative Commons
Diálogo Livre de Farias, M. S. et alia é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Baseado no trabalho em livredialogo.blogspot.com.br.
Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em discente.farias@gmail.com.

Blog Archive