Meses. Passaram-se meses em que eu não tivera notícias de
Petrus. Meses!
Outubro sempre me pareceu um mês
incrivelmente entediante em todos os pontos. O clima era ameno e tudo se
fazia mediano, pela metade. Irritante! Antônio dissera-me, alguma vez, que
mulheres não deviam portar-se deste modo em que eu me portava, “fortes
demais”, "donas de si”. Acertei-lhe um vaso de flores no meio da testa. Nunca
mais voltamos a este assunto. “Mas com Madalena é oito ou oitenta, nada
de meios termos” era o que vovó costumava dizer. Certa estava ela. Ou nem
tanto...
Petrus...
Tornei a voltar para casa depois de
mais um dia de trabalho. Abri a porta e me deparei com as malditas
correspondências no chão da sala. Juntei uma por uma até que uma delas chamou
minha atenção. Um envelope de cor marrom, algo que eu jamais havia visto antes.
Sem remente. Apenas manchas e mais manchas que cobriam mais parte da cor.
Manchas que em um tempo não muito distante deveriam ter sido palavras.
Encostei-me à porta. Inicialmente, me apressei a tentar decifrar os rabiscos
daquele manuscrito. Quem o teria escrito?
“Olá minha querida.
Talvez não aprecies a chegada desta
carta só neste instante. Faz algum tempo desde que o clima era mais
convidativo, não é mesmo? Outubro. Oh, tempo terrível... Mas não foi para
falar-lhe sobre isto que escrevi. Tu não sabes, mas naquela noite, no nosso
ultimo encontro, (lembra-se?), quem fugiu não foi somente eu! Sei que teme o
negro de meus olhos... Será que não percebes que é teu reflexo que se faz e se
aloja em meu olhar? Que toda esta “escuridão” que tu pensas ver dentro de mim é
a falta de luz na tua alma? Por isso és treva. Mas eu queria tanto ser tua luz,
tanto...
Justificando ainda mais meu
desaparecimento, digo-te: Quem pôde algum dia fugir de ti? Ninguém! Jamais!
Quem dá-se ao luxo de temer aquela sombra do final rua? Quem se faz tão doido
de correr do escuro à noite? Mesmo que fizéssemos nada adiantaria. O mal também
é parte da vida. Só quero recomendar-lhe: as trevas nunca ganharam guerra pelo
menos não sozinhas. Se quiseres ajuda, querida, não hesite em me procurar!
Serei um bom servo e guerreiro. Encontre-me... (Vai em anexo meu endereço de
férias)”.
- Maldito!
No fim da semana, enquanto rumava para o endereço de
Petrus, não pensava e não planejava o que iria ou poderia acontecer, mas quando
cheguei à frente do endereço senti um misto de curiosidade e medo. Era uma casa
de campo imensa e muito bonita o que me deixava ainda mais amedrontada. Na
realidade não conhecia Petrus e, mesmo que quisesse, não sabia decifrá-lo. Não
como ele havia feito comigo. Recuei alguns passos quando decidi voltar para a
segurança de meu lar, mas quando dava as costas para a casa a porta abriu-se
com um ruído característico de casas mal assombradas de filmes de terror. Uma
mulher de estatura mediana, um olhar penetrante e meticuloso olhava-me na
soleira da varanda.
- Vai ficar parada aí menina? Entra
logo! O Sr. Greet está a sua espera. Ande, ande...
Não havia mais como fugir.
Obriguei-me a subir os degraus que se encontravam antes da porta principal e
que me separavam da companhia da mulher. Quando terminei de subir as escadas e
me encontrar em frente à porta foi que percebi que terminara de saber algo mais
sobre Petrus. PetrusGreet!
- Sou Madal...
- Já sei, já sei. Sou senhorita
Blair, a governanta. – Ela falava com um tom decidido que fazia qualquer um
acreditar que ser governanta era um trabalho muito mais valioso do que era
realmente. Depois que, todas as “Blair’s” que conheci tanto as reais quanto as
de lendas e fantasia, eram completas bruxas.
- Petrus... Petrus está? –
perguntei.
Senhorita Blair apenas soltou um
grunhido de desdém e me apontou a escada logo a minha frente. Pegou minhas
malas e retirou-se rapidamente pelo corredor que se estendia ao nosso lado.
Esperei até não conseguir mais vê-la através do corredor, então, tentando
demonstrar segurança em meus passos, subi a escada até poder ver todo o segundo
andar da casa. Logo fiquei em dúvida sobre qual dos cômodos deveria entrar.
Havia três portas a minha esquerda, uma em minha frente e mais duas na direita.
Optei pela porta a minha frente, girei a maçaneta, mas quando a abria ouvi um
ruído a minha esquerda. Um barulho quase imperceptível. Soltei a maçaneta e
caminhei até o fim do corredor esquerdo onde havia uma janela que estava
voltada para os fundos da propriedade. Um lago estendia-se calmo logo atrás de
algumas árvores.
Realmente era uma bela casa de
férias. Segurei a janela e tentei empurrá-la para ficasse totalmente aberta e
eu pudesse vislumbrar melhor o lago. Estava emperrada! Mas fiquei obstinada a
tentar abri-la com todas as minhas forças. Empurrei muitas e muitas vezes até
quando ia desistir a janela abriu-se num estrondo ensurdecedor que fez com que
eu a soltasse perdendo todo o esforço que havia feito. Foi quando, com raiva,
tentei fazê-la subir de qualquer maneira e no meu total desconhecimento do
poder da janela, escorreguei para fora da casa e fiquei suspensa apenas me segurando
com uma das mãos na madeira da janela. Tentei ser racional e pensar no que
fazer. Senhorita Blair não me escutaria gritar já que se encontrava no lado
oposto da casa. Não queria olhar pra baixo, mas decidi fazê-lo; caindo dali o
estrago seria bem grande. Se saísse viva, metade do meu corpo ficaria quebrado.
Comecei a perder força no braço e como não havia pensado em nada que pudesse
livrar dessa decidi que só poderia gritar. Então gritei, gritei e gritei o mais
alto que pude. Minha mão já estava escorregadia e meu braço não aguentava o
peso de todo meu corpo, menos ainda depois de todo esforço que fiz com a
janela. “Não acredito que vou morrer assim!”. Não tinha mais forças para
segurar então fui soltando a mão devagar. Quando terminei de fazê-la e estava
pronta para despencar e quebrar maioria dos meus ossos (ou morrer!) uma mão
forte segurou meu braço me puxando pela janela para dentro da casa novamente.
- Olá querida! – Foi a ultima coisa
que escutei...
Farias, Maikéle. "Olhos negros desconcertantes - Parte
7". Agosto de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
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Olá.
ResponderExcluirPost divulgado meu amigo.
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