No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um movimento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram a ilusão,
Tiveram a ilusão a ilusão do que lhes agradaria...
Ah!, os sentidos, os doentes que veem e ouvem!
Fôssemos nós como deveríamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão...
Bastar-nos-ia sentir com clareza a vida
E nem repararmos para que há sentidos...
Mas Graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma coisa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma coisa a menos,
E deve haver muita coisa
Para termos muito que ver e ouvir...
Pessoa, Fernando, (1888-1935). Poemas de Alberto Caeiro: obra poética II. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 80.
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