segunda-feira, 14 de maio de 2012

Olhos negros desconcertantes... - Parte 2

                                                                             2.
   Terminei de escrever a carta a Antônio com uma breve ironia. Sei que logo após lê-la, ele teria um de seus, tão normais, ataques de fúria. Logo senti pena de sua meiga e nova dona. “Será que ela já se acostumou aos delírios de Antônio?”. Sobre Antônio havia ainda muito que eu me perguntava. Por exemplo: Qual o motivo de nosso afastamento? Por que a loucura de se meter em um casamento que jamais iria para frente? (Não que eu desejasse isto!).

   Entre correrias de trabalho e à procura de meu vestido de baile, o desconhecido não saiu de minha cabeça um só momento. Qual seu nome? Onde trabalha? De onde vem? Tantas perguntas e a Madalena gastou seu tempo de perguntas sem fazê-las. Tonta! A autoindulgência também não era um de meus fortes...
   Bem, escolhi um modelo qualquer. No que importa o que eu vestiria? Minha cabeça estava voltada ao meu plano de ataque e contra-ataque; entretanto, gostaria de estar elegante no casamento de meu antigo amor. Estava preparada para a desconfiança que aparentemente seria voltada a mim no festival de horrores que Antônio proporcionaria, contudo não seriam os ‘detalhes’ que levariam minha diversão ao fim!

   Há um dia na sua vida que é preciso escolher qual caminho seguir. Pensei que meu momento havia passado. Tive uma adolescência difícil e fiz minha escolha cedo. ‘Fuga ou morte’ era o que minha mente dizia. ‘Fuga ou morte’ eram minhas únicas escolhas! Eu já estava fugindo há tanto tempo... Foi aí que conheci Antônio e o mundo. Pra mim, estar com ele era uma fuga; só não imaginei que para ele era a morte.

- "Tu estas me sufocando Madalena, aos poucos... Vês isto tão bem quanto eu, mas não quer acreditar que preciso ir!"

   - "Então vá homem! Vá-se embora..."

   Ele foi e minha vida voltou à mansuetude de sempre! Bastou a arrumação na bagunça, passar um pano nos móveis e tudo voltou ao normal. Nunca mais o vi, até agora...

   Finalmente o dia chegou! Quem me dera eu fosse um mosquitinho para estar vendo o rosto de Antônio e descobrir lhe o plano que arquitetara... O presente que escolhi era o mais desejado dentre as recém-casadas: Um quadro famoso e caríssimo que seria posto na sala de jantar. Sem remetente, enviei o presente sem delongas; mesmo que, levemos em consideração, tenha me custado metade de economias guardadas há muito. “O ontem já passou. Agora é a melhor ocasião para teu crescimento e renovação”, li esta frase num livro de autoajuda, disseram-me que seria bom se eu seguisse os conselhos que o autor dava, mas eu nunca pus em prática. Quem sabe esta situação não me ajudaria a fazê-los...

   A igreja estava linda. Já haviam pessoas distribuídas pelos vários bancos. A noiva tem ótimo gosto! Quem me dera um dia ser tão elegante quanto ela... Os conhecidos já avistavam-me e cumprimentavam com incredulidade. Chegou a passar pela minha cabeça que era loucura demais ir até lá, minha vida já não fazia parte das artimanhas de Antônio, eu não precisava me sentir culpada, eu não precisava estar ali.

   “Quando você pensar em coisas ruins ou que queiram fazer você desistir, finque o dedo indicador na raiz do polegar até sentir muita dor”.

   É engraçado como os pensamentos ruins surgem primeiramente. Um romance ensinou-me está prática que jamais esqueci. Talvez por que envolvesse dor para tratar da mesma, talvez por ter sido lido em um momento importante de minha adolescência, talvez... Crescida ou não, eu ainda tinha dúvidas sobre muitas coisas, mas não sobre isso. O meu destino era estar naquele casamento e eu ficaria nele até saber o porquê!

 Farias, Maikele. "Olhos negros Desconcertantes... - Parte 2". Maio, 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/
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1 comentários:

  1. E agora??
    Como será este casamento?
    Estou ficando viciado na história, muito boa...!

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